"Os sistemas ocidentais de categorias de princípios do período moderno são tão diferentes dos nossos próprios sistemas que requerem uma abordagem antropológica, como a que Michel Foucault levou a efeito na década de 1960. Herdamos deles alguma terminologia, palavras como “magia” ou “filosofia”, por exemplo, mas esses termos mudaram de significado à medida que mudava o sistema intelectual. Para evitarmos ser enganados por esses “falsos amigos”, precisamos tomar distância dessas categorias europeias, aprender a considerá-las como tão estranhas ou construídas como (digamos) as chinesas. Foucault fez a mesma observação recorrendo a uma fábula tomada de empréstimo a Jorge Luis Borges sobre as categorias de animais encontradas numa enciclopédia chinesa — animais pertencentes ao imperador, aqueles desenhados com um fino pincel de pelos de camelo, aqueles que de longe parecem moscas, e assim por diante. A fábula mostra vivamente a arbitrariedade manifesta de qualquer sistema de categorias quando visto de fora."
BURKE, Peter. Uma história social do conhecimento: de Gutenberg a Diderot. Rio de Janeiro: Zahar, 2003.