Novo Código de Ética mira preconceito contra médicos com deficiência: 'Achavam que a Medicina
não era mais para mim'
Mônica Manir
De São Paulo para a BBC News Brasil
30 junho 2019
Em 2008, quando tinha 23 anos e estava no quarto ano de Medicina, o goiano Marcos Vinícius Nunes da
Silva sofreu uma lesão cervical nas vértebras C3, C4 e C5 em um acidente de carro em Porto Velho.
Percebeu na hora que estava tetraplégico. "Deixei de ser estudante de Medicina para ser paciente."
Foram 11 meses de recuperação motora após à cirurgia. Mas sua tetraplegia parcial não o impediu de se
formar e de atuar como clínico-geral em unidade de pronto-atendimento. "Colegas de classe, professores
da faculdade e mesmo outros médicos achavam que a Medicina não era mais para mim."
Segundo ele, alguns colegas vetavam sua presença em grupos do internato, período em que o aluno de
Medicina estagia em hospitais e é supervisionado em tomadas de decisão e aquisição de destreza em
procedimentos. Três deles disseram à Silva que ele devia estar fazendo sessões de fisioterapia, e não
frequentando a faculdade. "Julgaram meu aspecto físico, e não o meu intelectual."
Dos pacientes, a receptividade tendeu à ser outra: "Até hoje, doentes que ainda não decoraram meu nome
pedem para se consultarem com o 'médico da cadeira (de rodas)'". Em 2016, três anos depois da
formatura, abriu uma clínica popular em Goianésia (GO), onde já atendeu mais de 15 mil pessoas. Ali,
alterna entre uma cadeira de rodas elétrica e outra manual e atende os pacientes em uma maca adaptada
à sua altura.
Silva está entre os que celebram um inciso do novo Código de Ética Médica que estipula ser "direito do
médico com deficiência ou com doença, nos limites de suas capacidades e da segurança dos pacientes,
exercer a profissão sem ser discriminado".
(Fragmento adaptado) Disponível em: < https://www.bbc.com/portuguese/geral-48657570> Acesso em 1º nov. 2020.
As aspas, no texto em análise, têm como função: