SóProvas


ID
5178802
Banca
Instituto Excelência
Órgão
DEMSUR
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Leia o texto abaixo para responder à questão.


A VEZ DA PRETINHA

Uma passista contra o preconceito

LUIZA MIGUEZ


    “Ladies and gentlemen, it’s time!”, anunciou o mestre de cerimônias, num inglês tão fluente quanto espirituoso. Era a deixa para que dezenas de mãos ligassem as câmeras dos celulares e se erguessem na plateia. Gingando com delicadeza, moças bonitas e atléticas entraram em cena e, perfiladas, se deslocaram vagarosamente até o centro do palco. Algumas vestiam roupas curtas. Outras preferiam figurinos mais comportados. Todas se equilibravam em cima de saltos altíssimos.

    Quando os percussionistas aceleraram o ritmo, as jovens rebolaram freneticamente. Naquela madrugada de domingo, cerca de 4 mil pessoas lotavam a quadra do Salgueiro, na Zona Norte carioca. A tradicional escola de samba ensaiava para o Carnaval de 2018. Às margens do palco, entusiasmado com as passistas, um rapaz mostrou os pelos do braço ao amigo do lado e disse: “Caraca! Arrepiei!”

    O mestre de cerimônias, igualmente empolgado, disparou no microfone: “Que é isso, pretinha? Assim você mata o papai!” Não se referia a nenhuma dançarina em particular. Falava do grupo inteiro, como se admirasse uma única mulher. “Rafaela!”, gritou outro rapaz na plateia, enquanto apontava a câmera para a negra de 28 anos, que trajava um macacão salpicado de purpurina e ostentava longas tranças. Ela retribuiu o chamado com um requebro sensual e um olhar debochado.

    Nascida no bairro do Andaraí, também na Zona Norte do Rio de Janeiro, Rafaela Dias é passista do Salgueiro há mais de duas décadas e já escutou muita gracinha dos espectadores masculinos. Aprendeu a rechaçá-las com desenvoltura, mas nem por isso as considera aceitáveis. Não bastasse, frequentemente enfrenta situações racistas. Quando tinha 17 anos, por exemplo, namorava um homem mais velho e branco. Certa noite, assim que chegou a um salão de festas, o casal ouviu alguém comentar: “Lá vai a mulata dar um golpe no gringo.” Depois do episódio, sempre que encontrava o namorado em lugares públicos, Dias evitava usar salto alto ou maquiagem. Temia que a confundissem com uma prostituta. Em outra ocasião, preparava-se para conceder entrevista numa rádio, junto de várias colegas, a maioria universitária. “Ué, passista agora estuda?”, perguntou uma funcionária da emissora, sem o menor constrangimento. De quebra, emendou: “E vocês são todas escurinhas, né?”

    Justamente com a intenção de debater o racismo e o machismo é que Dias decidiu fundar o coletivo Samba Pretinha. Mais três dançarinas do Salgueiro participaram da iniciativa: a cientista social Sabrina Ginga, a estudante de pedagogia Larissa Reis e a graduanda em medicina Mirna Moreira. Desde 2016, as quatro organizam rodas de discussão no próprio Salgueiro e em outras escolas do Rio, como a Paraíso do Tuiuti. Falam principalmente para as mulheres, embora não rejeitem a presença de homens. A ideia é mostrar de que maneira os preconceitos de cor e gênero se manifestam no universo carnavalesco e quais os caminhos para combatê-los, inclusive em termos legais.

    Logo no primeiro debate, o Samba Pretinha se viu diante de uma saia justa. Um dos dirigentes do Salgueiro louvou o grupo e se declarou “branco de alma negra”. Uma jovem que estava na roda de conversa protestou e assinalou a incorreção política da frase. Nenhum branco, afinal, pode saber o que um negro sente e vice-versa. Irritado, o dirigente cogitou suspender o evento, mas recuou.

    Em parte por causa das questões levantadas pelo coletivo, o enredo do Salgueiro para o Carnaval deste ano – “Senhoras do ventre do mundo” – vai retratar as matriarcas negras. Ou melhor: “As empreendedoras, as líderes, as mães, as escritoras e todas as mulheres que representam a força de uma raça”, nas palavras do carnavalesco Alex de Souza. “Não deixa de ser uma vitória nossa, né?”, ressaltou Dias uma semana após o ensaio na quadra da escola.

“Rafaela!”, gritou outro rapaz na plateia, enquanto apontava a câmera para a negra de 28 anos, que trajava um macacão salpicado de purpurina e ostentava longas tranças.
O termo destacado acima, por ser uma paroxítona terminada em ditongo, deixou de ser acentuado a partir de 2009, quando passou a vigorar o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Assinale a alternativa em que a sequência apresentada também tenha perdido a acentuação pelo mesmo motivo.

Alternativas
Comentários
  • Acho que essa questão cabe recurso. Asteroide não é acentuado pela mesma regra das demais palavras da alternativa A. Não leva acento pois é uma paroxítona terminada em E
  • Asteroide é uma incrível paroxítona terminada em ditongo.

  • GABARITO - A

     não são mais acentuados: Os ditongos abertos éi, ói, nas paroxítonas: ideia, plateia,

    Coreia, boia, heroico, paranoia, asteroide.

    ------------------------------------

    B) Enciclopédia - Paroxítona terminada em ditongo aberto ou Para alguns = Proparoxítona eventual

    ou ocasional.

    lipoide - Não acentuamos os ditongos abertos éi, ói, nas paroxítonas

    média - Paroxítona terminada em ditongo aberto ou pode aparecer como Proparoxítona eventual

    ou ocasional.

    C) voo - De acordo com a nova ortografia, não devemos acentuar as palavras terminadas nas vogais

    dobradas “eem” ou “oo”.

    feiura - se a palavra for paroxítona e o hiato vier depois de ditongo decrescente,

    NÃO há acento (feiura, baiuca, feiume); se o hiato vier depois de ditongo crescente, há acento (Guaíra).

    https://www12.senado.leg.br/manualdecomunicacao/redacao-e-estilo/estilo/acentuacao#:~:text=Com%20as%20regras%20do%20novo,%2C%20heroico%2C%20

    paranoia%2C%20asteroide.&text=As%20vogais%20t%C3%B4nicas%20i%20ou,%3A%20feiura%2C%20baiuca

    %2C%20maoismo.

  • Não sei se estou certo. Porém acredito que o enunciado contém um erro. Ele afirma que a palavra "plateia" é terminada em ditongo. Porém ela não termina em ditongo, termina na letra "a" e a letra "a" faz hiato com o ditongo "ei". O ditongo aberto "ei" não é mais acentuado em palavras classificadas como paroxítonas.