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ID
5340127
Banca
VUNESP
Órgão
Prefeitura de Ferraz de Vasconcelos - SP
Ano
2021
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Leia o texto para responder à questão.


    Ainda na véspera eram seis viventes, contando com o papagaio. Coitado, morrera na areia do rio, onde haviam descansado, à beira de uma poça: a fome apertara demais os retirantes e por ali não existia sinal de comida. A cachorra Baleia jantara os pés, a cabeça, os ossos do amigo, e não guardava lembrança disto. Agora, enquanto parava, dirigia as pupilas brilhantes aos objetos familiares, estranhava não ver sobre o baú de folha a gaiola pequena onde a ave se equilibrava mal. Fabiano também às vezes sentia falta dela, mas logo a recordação chegava. Tinha andado a procurar raízes, à toa: o resto da farinha acabara, não se ouvia um berro de rês perdida na caatinga. Sinha Vitória, queimando o assento no chão, as mãos cruzadas segurando os joelhos ossudos, pensava em acontecimentos antigos que não se relacionavam: festas de casamento, vaquejadas, novenas, tudo numa confusão. Despertara-a um grito áspero, vira de perto a realidade e o papagaio, que andava furioso, com os pés apalhetados, numa atitude ridícula. Resolvera de supetão aproveitá-lo como alimento e justificara-se declarando a si mesma que ele era mudo e inútil. Não podia deixar de ser mudo... Ordinariamente a família falava pouco. E depois daquele desastre viviam todos calados, raramente soltavam palavras curtas. O louro aboiava, tangendo um gado inexistente, e latia arremedando a cachorra.

    Num cotovelo do caminho, Fabiano avistou um canto de cerca, encheu-o a esperança de achar comida, sentiu desejo de cantar. A voz saiu-lhe rouca, medonha. Calou-se para não estragar força.

(Graciliano Ramos, Vidas Secas. 1996. Adaptado)

Assinale a alternativa em que o uso de sinal de pontuação no interior do enunciado tem a finalidade de indicar ao leitor uma explicação feita pelo narrador.

Alternativas
Comentários
  • GABARITO: E

    a) Baleia jantara os pés, a cabeça, os ossos do amigo (1) , (2) e não guardava lembrança disto. → Errado.

    1. Aqui a vírgula separa termos de mesma função sintática. São objetos diretos do verbo jantar (quem janta janta algo: o pé, a cabeça e os ossos). Como eles estão numa enumeração, vêm separados por vírgula.
    2. Esta última vírgula separa um "e" com valor adversativo. A Baleia jantara o amigo, PORÉM não guardava lembrança disto. Como a oração possui valor adversativo, vem separada por vírgula. Outro exemplo: "Ele sempre chega atrasado, e (mas) nada acontece"

     

    b) Agora, enquanto parava, dirigia as pupilas brilhantes aos objetos familiares... → Errado. Aqui a vírgula separa uma oração com valor temporal. "Agora, quando parava, ao parar, dirigia as pupilas...". Não há nenhum termo explicativo por aqui.

     

    c) Fabiano também às vezes sentia falta dela, mas logo a recordação chegava. → Errado. A vírgula separa uma oração coordenada (uma não depende da outra) adversativa, ligada pela conjunção "mas".

    Complementando com uma dica: Às vezes x as vezes

    • Às vezes → Substitua por "aos domingos" → "Fabiano sentia falta dela às vezes" → "Fabiano sentia falta dela aos domingos"
    • As vezes → Substitua por "as ocasiões" → "Em todas as vezes que eu liguei, você desligou" → "Em todas as ocasiões que eu liguei, você desligou"

    Quer praticar a dica? Veja a Q1343526

     

    d) ... o resto da farinha acabara, não se ouvia um berro de rês perdida na caatinga. → Errado. Nesta alternativa, a gente encontra uma oração assindética (sem síndeto → sem conjunção) aditiva. A vírgula é empregada para separar sujeitos diferentes da oração. Veja que podemos dizer: "O resto da farinha acabara e não se ouvia um berro...". Novamente, não há explicação aqui.

     

    e) ... e o papagaio, que andava furioso, com os pés apalhetados, numa atitude ridícula. → Correto. Aqui a gente encontra uma oração subordinada adjetiva explicativa. Veja que ela explica o papagaio.

    Lembre-se que, se retirássemos a vírgula, o sentido mudaria, porém a correção permaneceria. Vou dar um exemplo para você não esquecer:

    • "No domingo, ela saiu com o namorado, que mora em Ipanema" → Aqui a gente disse que ela saiu com o namorado e explicamos que ele mora em Ipanema. Pela interpretação, ela só possui este namorado e ele mora em Ipanema.
    • "No domingo, ela saiu com o namorado que mora em Ipanema"→ Aqui a gente restringiu o namorado dela. Dos namorados, pegamos apenas o que mora em Ipanema. Ela pode ter outros, mas no domingo saiu com este. Temos uma oração adjetiva restritiva, que restringe o tipo de namorado.

    ➥ Percebeu que, ao retirar a vírgula, o sentido muda? Mas a correção gramatical permanece inalterada (pontuação, regência, tudo estaria certinho) ;)

    ➥ Isso que disse ao final é mais cobrado pelo CESPE, mas a VUNESP já cobrou também rsrs. Verifique a Q1374901. Algumas do CESPE: a Q286750, a Q950881 e a Q965556 (CESPE/PRF/2019)

    Espero ter ajudado.

    Qualquer erro, notifique-me.

    Bons estudos! :)

  • Questões que pedem sentido de explicação, o macete é procurar o ''que'' pronome relativo.

  • a) A cachorr.a Baleia jantara os pés, a cabeça, os ossos do amigo, e não guardava lembrança disto.

    Incorreto. As vírgulas separam termos de mesma função sintática. Atente para a última antes da conjunção "e". Essa vírgula, diferentemente das demais, fora posta apenas por predileção do autor, porque pode ser suprimida. Quando a conjunção "e" une orações com o mesmo sujeito, pode ou não antecipar-se-lhe uma vírgula;

    b) Agora, enquanto parava, dirigia as pupilas brilhantes aos objetos familiares...

    Incorreto. As vírgulas isolam uma estrutura de valor temporal, e não explicativo;

    c) Fabiano também às vezes sentia falta dela, mas logo a recordação chegava.

    Incorreto. A vírgula separa uma oração que denota contraste, oposição, adversidade. Não há nenhum sentido explicativo;

    d) ... o resto da farinha acabara, não se ouvia um berro de rês perdida na caatinga.

    Incorreto. A vírgula, de uso obrigatório, separa orações coordenadas assindéticas;

    e) ... e o papagaio, que andava furioso, com os pés apalhetados, numa atitude ridícula.

    Correto. O segmento "que andava furioso" é, sintaticamente, um adjunto adnominal em forma de oração. Em termos distintos, uma oração subordinada adjetiva explicativa. Ora, se tem sentido de explicação, precisa estar entre vírgulas. Eis a resposta.

    Letra E

  • Eu sequer entendi o enunciado

  • Nossa, entendi mal a questão, ao ver que a assertiva D vinha - no texto - após dois pontos (:), achei que seria ela a correta, vejamos:

    Tinha andado a procurar raízes, à toa: o resto da farinha acabara, não se ouvia um berro de rês perdida na caatinga.

    Questão macabra. Kk.

  • GABARITO - E

    Trocando o " que" por " qual (Ais) " = Pronome relativo

    O pronome relativo introduz orações adjetivas.

    Com vírgulas - explicativa;

    Sem vírgulas - Restritiva

    -------------------------------------------------------------------

    Um detalhe:

    Vírgula antes do " e"

    para alguns, facultativa quando sujeitos distintos.

    João trabalha , e Maria estuda.

  • QUEM RESTRINGE, NÃO PONTUA. PONTUOU, EXPLICOU.

    Vi esse comentário aqui no QC e desde então muita coisa fez sentido.

  • o enunciado não pediu a posição de pontuação correta simplesmente propôs que se encontra-se uma explicação feita pelo narrador.

    gab E

    e o papagaio, que andava furioso, com os pés apalhetados, numa atitude ridícula.

    somente tem esta frase com valor explicativo nem precisava ler o texto.

    pronome relativo = o qual

  • Às vezes o mais difícil é o enunciado...Letra E

  • Oração subordinada adjetiva explicativa.

  • Trocando o que por qual. Pronome relativo sempre vai vir após uma vírgula.

    Orações adjetivas são introduzidas por pronome relativo.

    COM VÍRGULAS> EXPLICATIVA

    SEM VÍRGULAS> RESTRITIVA.

    Virgulou? Tem que explicar.

    Não virgulou? Tem que restringir.

  • Na letra B, a princípio havia interpretado que "enquanto parava" embora de caráter temporal estava explicando o momento do "agora". Alguém pode me explicar o equívoco desse raciocínio?

  • gab e!

    ... e o papagaio, que andava furioso, com os pés apalhetados, numa atitude ridícula

    (o qual andava furioso )

    Oração adjetiva explicativa.

  • E) ... e o papagaio, que andava furioso, com os pés apalhetados, numa atitude ridícula.

    Notem que está entre vírgulas, ou seja, é um aposto explicativo (ele explica ou resumo o termo antecedente e vem separado por pontuações, como a vírgula, por exemplo). Outro ponto de atenção é que, geralmente, o "que" tem a função de explicar algo.

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  • ENQUANTO TEM IDEIA DE TEMPO!

    (enquanto)

    conjunção

    1. introduz oração subord. adv., dando ideia de:
    • tempo: durante o tempo em que, no tempo em que, sempre que, quando.
    • "pensa nas horas de lazer, e. trabalha"
    • proporção: ao passo que, à medida que.
    • "cansava-se, e. subia"

  • ALTERNATIVA A – ERRADA – As vírgulas empregadas isolam termos em enumeração.

    ALTERNATIVA B – ERRADA – As vírgulas empregadas isolam oração adverbial temporal deslocada.

    ALTERNATIVA C – ERRADA – A vírgula empregada isola oração coordenada adversativa.

    ALTERNATIVA D – ERRADA – A vírgula empregada isola orações coordenadas assindéticas.

    ALTERNATIVA E – CERTA – As vírgulas depois de “papagaio” e de “furioso” isolam a oração adjetiva explicativa “que andava furioso”.