Os fenômenos da linguagem examinavam-se outrora apenas à luz da gramática e
da lógica, e já era muito se a análise reconhecia como palavras expletivas ou de realce os termos sobejantes¹ unidos à oração ou
nela encravados.
Hoje que a ciência da linguagem investiga os fatos sem deixar-se pear² por antigos
preconceitos, já não podemos levar essas
expressões à conta da superfluidades nem
ainda atribuir-lhes papel decorativo, o que
seria contrassenso, uma vez que rareiam no discurso eloquente e retórico e se usam a
cada instante justamente no falar desataviado de todos os dias.
Uma coisa é dirigirmo-nos à coletividade, a pessoas desconhecidas, de condições
diversas, e que nos ouvem caladas; outra
coisa é tratar com alguém de perto, falar e
ouvir, e ajeitar a cada momento a linguagem
em atenção a essa pessoa que está diante
de nós, para que fique sempre bem impressionada com as nossas palavras.
(Said Ali, Meios de Expressão e Alterações Semânticas, RJ)
¹sobejantes: demasiados, excessivos, de sobras.
²pear: prender.
No segundo parágrafo, no segmento: ...nem
ainda atribuir-lhes papel decorativo..., o
pronome pessoal oblíquo “lhes” tem como
referência no texto: