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ID
5428804
Banca
UFMT
Órgão
UFMT
Ano
2021
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Instrução: Leia o texto e responda à questão. 

2020
   E vamos nós para o ano vinte-vinte, na esperança de que a repetição dos números signifique alguma coisa. Vivemos sempre com a expectativa que uma anomalia, qualquer anomalia, qualquer ruptura com o normal – como um ano com números reincidentes – seja um sinal. Estão querendo nos dizer alguma coisa. Quem, e o quê? Os avisos chegam de todos os lados, caberia a nós entendê-los. A Terra fala conosco por meio dos seus desastres naturais: terremotos e vulcões seriam recados a serem decifrados. A História fala conosco por meio dos seus intérpretes. E o Universo se dirige a nós pelos astros.
   As pessoas procuram nos astros a evidência de que não estão sozinhas, que algo guia seus passos e orienta sua vida – de longe, bem longe. A persistente crença em astrologia, apesar da dificuldade em conciliar seus princípios e sua linguagem com o bom senso, não tem explicação – ou só se explica pela renúncia à racionalidade que também é uma forma de buscar uma direção na vida, venha ela de onde vier, das religiões ou de Júpiter.
   História pessoal, que já contei mais de uma vez: quando comecei a trabalhar na imprensa, há 200 anos, fazia de tudo na redação, depois de passar o dia no meu outro emprego de redator de publicidade. Um dia me pediram para fazer o horóscopo, já que o astrólogo profissional insistia em ganhar um aumento, uma reivindicação irrealista, dadas as condições do jornal. Como eu já fazia de tudo na redação, comecei a fazer o horóscopo também. Todos os dias inventava o destino das pessoas e distribuía as previsões e os conselhos pelos 12 signos do zodíaco.
   O horóscopo era a última coisa que eu fazia no jornal antes de ir me encontrar com a Lucia e, se tivéssemos sorte, ir a um cinema, de modo que meu horóscopo era sempre feito às pressas, e com a escassa energia que sobrava depois de um dia fazendo de tudo, na agência de publicidade e na redação. E então bolei uma solução genial para liquidar o horóscopo em pouco tempo e ir embora. Como era óbvio que as pessoas só querem saber o texto do seu próprio signo e não o dos outros, comecei a fazer um rodízio: mudava os textos de signo e de lugar. O que um dia era o texto para libra no dia seguinte era para sagitário, etc. Ninguém iria notar a trapaça sideral, os deuses me perdoariam.
   Não demorou para que o editor do jornal me chamasse. Tinha muita gente reclamando do horóscopo. O que eu pensava que era óbvio não era. Minha pseudoesperteza tinha sido descoberta, aparentemente todo o mundo lê todo o horóscopo todos os dias. Minha breve carreira de astrólogo terminou ali. Mas eu só queria dizer que, mesmo quando era eu que escrevia os textos, nunca deixava de olhar para ver o que libra reservava para meu futuro. Fazer o quê? Precisamos de uma direção na vida, venha ela de onde vier.
(Veríssimo, L. F. Disponível em: https://cultura.estadao.com.br. Acesso em: 23/01/2020.) 

Sobre o uso da linguagem nesse texto, é correto afirmar:

Alternativas
Comentários
  • Pronto, não bastasse o pessoal que só justifica o gabarito da banca e no final coloca uma frase de efeito, agora tem também os que nem comentam, só colocam a frase de efeito...

  • Essa é uma questão de interpretação textual em que cada alternativa apresenta uma afirmação a ser analisada a fim de descobrir qual delas é a correta.

     Assim, já começamos com uma afirmação incorreta em A, já que, na parte narrativa do texto (que se inicia no terceiro parágrafo), o que predominam são verbos no pretérito: contei, comentei, fazia, pediram, insistia etc.

    Em B, de fato, o uso da primeira pessoa do plural traz o leitor para perto do autor e cria um clima casual. Só de o texto começar com “E vamos nós para o ano vinte-vinte", o autor já estabelece uma conexão direta com seus leitores, trazendo-os para o mesmo contexto em que ele está. O mesmo ocorre em “Vivemos sempre com a expectativa que uma anomalia (...) seja um sinal". A primeira pessoa também aparece na forma dos pronomes: “Estão querendo nos dizer alguma coisa"; “Os avisos chegam de todos os lados, caberia a nós entendê-los"; “A Terra fala conosco (...)"; “A História fala conosco (...)". Considerando isso, já encontramos a opção correta a ser marcada.

    O que se afirma em C está incorreto, pois os verbos no segundo parágrafo estão no modo indicativo, e não no imperativo. Também o que se diz em D está incorreto, já que o autor argumento no texto narrando sua própria experiência, acusando, inclusive, sua incapacidade para escrever a coluna de horóscopo. Isso vai de encontro ao discurso de autoridade, que é a forma de argumentar trazendo para o texto ideias de especialistas no assunto o qual está sendo discutido, e isso não ocorre nessa crônica.

    Gabarito do professor: Letra B.