SóProvas


ID
5455861
Banca
VUNESP
Órgão
EsFCEx
Ano
2021
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

    Trágico vem do grego tragos, que quer dizer bode, um animal para o sacrifício. Trágico também remete ao panteão grego dos deuses e moiras, estas, as velhas quase cegas que tecem o tecido do destino dos mortais e dos deuses. De nós, mortais, esse destino diz que, ao final, pouco importam nossas virtudes ou vícios, pois seremos todos sacrificados: fracassaremos na vida porque morreremos, e o universo nos é indiferente. Somos o único animal que carrega o cadáver nas costas a vida inteira, isto é, que tem consciência da morte. Segundo o antropólogo Ernest Becker, em seu maravilhoso livro Negação da morte, tivemos que sobreviver à violência de dois meios ambientes: o externo, como todo animal, e o interno, nossa consciência prévia da inviabilidade da vida.

    Quando a filosofia abandona o universo religioso grego trágico (embora muitos filósofos nunca o façam plenamente), esse destino violento e cego assume a forma da crença num Acaso cego como fundo da realidade, ou seja, não há qualquer providência divina que faça, ao final, qualquer sentido. Vagamos por um mundo indiferente, combatendo um combate inglório, sem reconhecimento cósmico. No mundo contemporâneo, por exemplo, a teoria darwinista abraçará essa visão sombria do destino de tudo que respira sobre a Terra.

    Essa imagem de que tudo no fundo é acaso aparece, por exemplo, em autores como Maquiavel, em seu clássico O príncipe. Como todo autor de sua época, ele chama o Acaso cego de “Fortuna”. O outro conceito que ele trabalha é o de “Virtú” (tradução do termo grego “Aretê”, que significa virtude, força).

    Quais são as características de “um príncipe virtuoso”? Ele observa o comportamento das pessoas e percebe que a maioria sempre é previsível, medrosa, interesseira e volúvel. A marca da vida é a precariedade, e isso horroriza as almas fracas. O medo é frequente, e o amor, raro. A traição, uma banalidade; a fidelidade, um milagre. Ele sabe que deve amar sua esposa (ou marido, se for uma “princesa”), mas confiar apenas em seu cavalo. E que deve antes ser temido do que amado, porque o amor cobra constantes provas e tem vida curta, enquanto o medo pede pouco alimento e tem vida longa. Acima de tudo, o virtuoso é um solitário porque é obrigado a viver num mundo devastado por uma consciência mais radical e mais violenta do que os outros mortais. Nesse universo é que ele tomará suas decisões. Não pode sonhar com um mundo que não existe, nem contar com pessoas que vivem de ilusões.

    Ainda que vivamos em épocas dadas a papos furados como “humanismo em gestão empresarial”, é nesse mesmo universo que são tomadas as decisões de quem tem por destino ser responsável por muita gente e muitos lucros. Do “príncipe” atual, longamente exposto às fraquezas humanas, é exigida a dor da lucidez, do silêncio e da solidão. A crueldade do mundo é parte de seu café da manhã, e a efemeridade do sucesso é seu pesadelo cotidiano. 


(Luiz Felipe Pondé, O trágico cotidiano. Disponível em: https://rae.fgv.br/sites/rae.fgv.br. Acesso em 28.06.2021. Adaptado)

Assinale a alternativa redigida de acordo com a norma-padrão de concordância e de colocação de pronomes átonos.

Alternativas
Comentários
  • Gabarito letra E.

    A questão pede a alternativa em plena conformidade de Concordância e Colocação Pronominal:

    a) Príncipes virtuosos dedicam-se a observar comportamentos da pessoa que os cercam, avaliando-lhes previsibilidade e interesse, vendo se comportam-se com medo.

    acredito que o erro está na regência do verbo avaliar, "lhes" é utilizado para objeto indireto, que não é o caso.. se alguém puder ajudar agradeço.

    b) Dado as circunstâncias em que vive, o virtuoso nunca permite-se sonhar com um mundo inexistente; a rigor, pessoas que se alimenta de ilusão não o ajuda em nada.

    erro na concordância, o dissílabo concorda com o substantivo em gênero e número, o certo seria "dadas as circunstâncias"

    erro na colocação pronominal, "nunca" é palavra atrativa, o certo seria "nunca se permite".

    c) É constatado, muito frequentemente, uma visão sombria acerca do destino das coisas todas, não excluindo-se a teoria darwinista que considera-as efêmeras e nos põem alertas.

    erro na colocação pronominal, "não é palavra atrativa, o certo seria "não se excluindo".

    d)Se obrigam os virtuosos a viver solitariamente, graças ao privilégio que tem de identificar um mundo devastado por uma consciência mais radical, a qual pressiona-o.

    erro na colocação pronominal, não se inicia frase com pronome oblíquo átono, o certo seria "obrigam-se os virtuosos".

    letra E em plena conformidade com a norma padrão.

    espero ter ajudado, qualquer erro me corrijam, sou uma mera estudante.

    abraço, bons estudos

  • acredito que o erro da alternativa A é o avalhiando-lhes, quando o correto seria avalhiando-os
  • O erro da letra A é: Avaliando-lhes, o "lhe" só se usa como objeto indireto, neste caso, quem avalia, avalia algo ou alguém, o correto seria avaliando-os, complemento direto.

  • Regras básicas mas sempre estão presentes

    Dado as circunstâncias em que vive, o virtuoso nunca permite-se sonhar com um mundo inexistente; a rigor, pessoas que se alimenta de ilusão não o ajuda em nada.

    Palavra negativa atrai próclise, ERRADA

    É constatado, muito frequentemente, uma visão sombria acerca do destino das coisas todas, não excluindo-se a teoria darwinista que considera-as efêmeras e nos põem alertas.

    Mesmo caso, ERRADA

    Se obrigam os virtuosos a viver solitariamente, graças ao privilégio que tem de identificar um mundo devastado por uma consciência mais radical, a qual pressiona-o.

    Caso interessante aqui, pronome relativo tem atração forte para a próclise, não é muito recorrente, mas sempre bom revisar, ERRADA

    Houve em todos os tempos pessoas que temeram o príncipe, consideraram-no temível em razão de suas virtudes, as quais se expressam também na solidão de que se vê cercado. CERTA

    Verbos terminados em M ou Nasais(õe,ãe) adiciona no, na

    Pronome relativo quais atrai próclise

    A primeira faço das falas da @Anna Katrina as minhas, não sei exatamente mas desconfio que seja na regência também

    GAB E

    APMBB

  • Acredito que o erro da alternativa A seja o SE em comportam-se com medo“, já que, antes do trecho referido, há uma outra ocorrência do vocábulo SE que se classifica como conjunção condicional. Sendo assim, por ser a conjunção um fator proclítico, o trecho deveria ser “vendo SE SE comportam com medo.

  • A = Avaliar nesse contexto é VTD, VENDO SE SE COMPORTAM.

    B = DADAS AS CIRCUNSTÂNCIAS, NUNCA SE PERMITE, PESSOAS QUE SE ALIMENTAM

    C = É CONSTATADA, NÃO SE EXCLUINDO, QUE AS CONSIDERA.

    D = OBRIGAM-SE, A QUAL O IMPRESSIONAM

    GABARITO E.