SóProvas


ID
5479876
Banca
CESPE / CEBRASPE
Órgão
MPE-SC
Ano
2021
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

    É o discurso que nos liberta e é o discurso que estabelece os limites da nossa liberdade e nos impulsiona a transgredir e transcender os limites — já estabelecidos ou ainda a ser estabelecidos no futuro. Discurso é aquilo que nos faz enquanto nós o fazemos. E é graças ao discurso, e seu ímpeto endêmico de espreitar além das fronteiras que ele estabelece para a sua própria liberdade, que nosso estar no mundo é um processo de vir a ser perpétuo — incessante e infinito: nosso vir a ser e o vir a ser do nosso “mundo da vida” — juntar-se, misturar-se, embora sem solidificar, estreita e inseparavelmente, entrançados e entrelaçados, e compartilhando nossos respectivos sucessos e infortúnios, ligados um ao outro para o melhor e para o pior, desde o momento de nossa concepção simultânea até que a morte nos separe.
    O que nós chamamos de “realidade”, quando entramos em um ânimofilosófico, ou “os fatos da questão” quando seguimos obedientemente as instâncias da doxa, é tecido de palavras. Nenhuma outra realidade nos é acessível: não acessamos o passado “como ele realmente aconteceu”, o qual Leopold von Ranke celebremente conclamou (instruiu) seus colegas historiadores do século XIX a recuperar. Comentando sobre a história de Juan Goytisolo a respeito de um velho, Milan Kundera salienta que a biografia — qualquer biografia que tente ser o que seu nome sugere — é, e não poderia deixar de ser, uma lógica artificial inventada, imposta retrospectivamente a uma sucessão incoerente de imagens, reunida pela memória de partículas e fragmentos. Ele conclui que, em total oposição às presunções do senso comum, o passado compartilha com o futuro a ruína incurável da irrealidade — esquivando-se/evadindo-se obstinadamente, como ambos o fazem, das redes tecidas de palavras movidas pela lógica. Não obstante, essa irrealidade é a única realidade a ser captada e possuída por nós, que “vivemos em discurso como o peixe na água”. 

Zygmunt Bauman e Riccardo Mazzeo. O elogio da
literatura. Zahar. Edição do Kindle (com adaptações).

Julgue o item que se segue, com relação a aspectos linguísticos do texto precedente.


A inserção de uma vírgula logo após a palavra “fronteiras” (terceiro período do primeiro parágrafo) manteria as relações sintáticas originais do período, embora alterasse seu sentido.

Alternativas
Comentários
  • Leia-se o fragmento textual:

    "E é graças ao discurso, e seu ímpeto endêmico de espreitar além das fronteiras que ele estabelece para a sua própria liberdade, que nosso estar no mundo é um processo de vir a ser perpétuo."

    Convém expor dois detalhes:

    1) Note que o trecho "e seu ímpeto endêmico de espreitar além das fronteiras que ele estabelece para a sua própria liberdade" é um longo complemento nominal do substantivo "graças", este que sempre rege a preposição "a". A despeito disso, apenas o primeiro complemento (ao discurso) acha-se preposicionado. As vírgulas que isolam o referido trecho, a bem da verdade, deveriam ser dispensadas caso esse complemento fosse de extensão menor, visto que complementos nominais, em ordem canônica, direta, repelem-nas. O autor optou por colocá-las a fim de não embargar a leitura.

    2) A inserção da vírgula mudaria o referente: como nos é apresentada a frase, a oração "que ele estabelece para a sua própria liberdade" refere às fronteiras; colocando a vírgula, o referente seria "discurso".

    Errado.

  • o que após fronteiras passaria a ser relacionar com o termo discurso, alterando a relação sintática original do período.

  • Questão: A inserção de uma vírgula logo após a palavra “fronteiras” (terceiro período do primeiro parágrafo) manteria as relações sintáticas originais do período, embora alterasse seu sentido. (ERRADO)

    • Errado em dizer que manteria as relações sintáticas originais.
    • Certo em dizer que altera o sentindo.
    • Mantém também a correção gramatical.
  • Pessoal, peçam para o professor comentar essa questão, por favor. Obrigada.

  • "E é graças ao discurso, e seu ímpeto endêmico de espreitar além das fronteiras que ele estabelece para a sua própria liberdade[...]"

    Aqui temos uma oração restritiva. Que fronteiras são essas? Não são todas, apenas as que ele estabelece para sua própria liberdade.

    "E é graças ao discurso, e seu ímpeto endêmico de espreitar além das fronteiras, que ele estabelece para a sua própria liberdade[...]"

    Com a vírgula vira oração explicativa. Agora não são apenas as fronteiras que ele estabeleceu, mas sim todas as fronteiras.

    gab: certo

  • com a supressão da vírgula, a oração deixaria de ser uma oração adjetiva explicativa e tornar-se-ia uma adjetiva restritiva, alterando portanto a sintaxe do período. Esse 'embora alterasse seu sentido' foi o trupicão que quase me pegou hehe, pois, de fato, o sentido muda

  • Gab: Errado

    Na verdade com a inserção da vírgula deixaríamos de ter uma oração adjetiva restritiva e passaríamos a ter uma oração adjetiva explicativa que modificaria a relação sintática e o sentido da frase, mas manteria a correção gramatical.

  • sem vírgula: primeiro que se refere a fronteiras

    com vírgula: se refere a discurso.

    ou sela, as relações sintáticas são alteradas.

  • Muda sintaxe e sentido, mas mantem a correçao gramatical

  • Gabarito: ERRADO

    Simples e objetivo:

    MUDARIA O REFERENTE

    "que ele estabelece para a sua própria liberdade" refere às FRONTEIRAS

    Com a vírgula - O referente seria DISCURSO.

  • A inserção de uma vírgula logo após a palavra “fronteiras” (terceiro período do primeiro parágrafo) manteria as relações sintáticas originais do período, embora alterasse seu sentido.

    E é graças ao discurso, e seu ímpeto endêmico de espreitar além das fronteiras que ele estabelece para a sua própria liberdade.

    -acima temos um pronome relativo que se refere ao termo antecedente - anaforismo. Nesse caso em tela temos que sem vírgula, a palavra que se refere a "fronteiras".

    E é graças ao discurso, e seu ímpeto endêmico de espreitar além das fronteiras, que ele estabelece para a sua própria liberdade.

    -nesse caso o que refere-se ao discurso.

    veja:

    E é graças ao discurso que ele estabelece para a sua própria liberdade.

    entenderam?

  • Leticia e Wagner,

    A morfologia é a parte da gramática que considera a palavra em si (sozinha).

    A sintaxe estuda a palavra em relação às outras que se acham na mesma oração.

  • MUDARIA O REFERENTE

    "que ele estabelece para a sua própria liberdade" refere às FRONTEIRAS

    Com a vírgula - O referente seria DISCURS

  • O erro está em afirmar que as relações sintáticas não seriam alteradas.

  • Acrescentando...

    "que ele estabelece para a sua própria liberdade" → Refere-se → às fronteiras

    Redação proposta:

    Além das fronteiras ( , ) que ele estabelece para a sua própria liberdade refere-se ao termo → "discurso".

    Bons estudos!!

  • O que esta sendo ESTABELECIDO(verbo)? As FRONTEIRAS(sujeito)

    SINTATICAMENTE: separaria o verbo do sujeito.

    SENTIDO: deixaria de ser restritiva para ser explicativa.

  • Minha contribuição.

    Oração subordinada adjetiva restritiva: exerce a função sintática de adjunto adnominal, restringindo ou especificando o núcleo substantivo.

    Ex.: Demoliram a casa que era velha.

    Oração subordinada adjetiva explicativa: exerce a função sintática de predicativo, qualificando ou generalizando o sentido do substantivo a que se refere.

    Ex.: A mãe, que estava nervosa, chamou a filha.

    Abraço!!!

  • A mudança de sintaxe tem a ver com aquele "é que" expletivo (oração principal) e com o "que" pronome relativo (oração subordinada) que deixam de ser isso quando há a inserção da vírgula?

  • rápído e prático como o concurseiro gosta

    passou de uma oração adjetiva subordinada restritiva para explicativa com a introdução das virgula

    sintaticamente elas correspondem assim :

    ORAÇÃO ADJETIVA SUBORDINADA RESTRITITVA ----ADJUNTO ADNOMINAL .

    ORAÇÃO ADJTIVA SUBORDINADA EXPLICATIVA ----APOSTO .

  • "E é graças ao discurso, e seu ímpeto endêmico de espreitar além das fronteiras que ele estabelece para a sua própria liberdade, que nosso estar no mundo é um processo de vir a ser perpétuo — incessante e infinito (...)"

    (i) ...e seu ímpeto endêmico de espreitar além das fronteiras que ele estabelece para a sua própria liberdade (sentido restritivo)

    (ii) ...e seu ímpeto endêmico de espreitar além das fronteiras, que ele estabelece para a sua própria liberdade (sentido explicativo, com o que retomando fronteiras)

    Assim, temos que a gramática estaria preservada, mas há alteração sintática e de sentido também!

    GAB E

  • E é graças ao discurso, e seu ímpeto endêmico de espreitar além das fronteiras que ele estabelece para a sua própria liberdade...

    E é graças ao discurso, e seu ímpeto endêmico de espreitar além das fronteiras, que ele estabelece para a sua própria liberdade...

    • Muda o referente - Relação Sintática.
    • Muda o sentido.
    • Correção gramatical correta.

    Gabarito: E

    1. PORTUGUÊS
    2. passou de uma oração adjetiva subordinada restritiva para explicativa com a introdução das virgula
    3. sintaticamente elas correspondem assim :
    • ORAÇÃO ADJETIVA SUBORDINADA RESTRITITVA ----ADJUNTO ADNOMINAL .
    • ORAÇÃO ADJTIVA SUBORDINADA EXPLICATIVA ----APOSTO .

    Fonte: Comentário do Uislan Lira

    1. ou seja,
    • sem vírgula = restritiva
    • com vírgula = explicativa
  • aquele sentimento de que eu sabia, mas errei!!!

  • espreitar além das fronteiras que ele estabelece - restritiva - Adjunto Adnominal

    espreitar além das fronteiras , que ele estabelece - explicativa - Aposto

  • A professora Isabel tem um posicionamento diferente dos comentários. Segundo o vídeo da explicação da professora Isabel, o referente continua sendo "fronteiras". No entanto, segundo ela, a oração subordinada adjetiva restritiva, sem vírgulas, tem a função sintática de adjunto adnominal. Quando se colocam as vírgulas, há uma oração subordinada adjetiva explicativa, em que a oração deixa de ter a função sintática de um adjunto adnominal e passa a ser um termo explicativo, que poderia ser um predicativo ou um aposto. Acredito que se trata de uma questão polêmica, até porque existem gramáticos que concordam com o fato de que tanto a restritiva quanto a explicativa, exercem função sintática de adjunto adnominal.

    Eu, particularmente, concordo é com a professora Isabel, uma vez que, depois do pronome relativo "que" já existe o pronome pessoal "ele" retomando "discurso". > "Ele (o discurso) estabelece fronteiras" > o pronome relativo tem a função sintática de objeto direto.

    Não vi a possibilidade de escrever a oração iniciada pelo pronome relativo, considerando que ele se refira a "discurso".

  • Melhor errar aqui que na prova rs!

    A banca mudando suas nomenclaturas kkk, fui seca pensando no sentindo e me dei mal..

    O Sentido ≠ de correção gramatical que é  de relações sintáticas originais.

    Questão:

    - altera o sentindo com a vírgula...

    -mantém a correção gramatical.

    -alteraria as relações sintáticas originais, pois mudaria o referente de "fronteiras" para "discurso".

    gabarito errado! :)

    Perseverar-se!

  • De acordo com a professora isabel:

    -Alteraria relação sintática, pois o termo sem vírgula é um adjunto adnominal, com a inserção da vírgula, teríamos um aposto.

  • A principio pensei também que estaria certa, pois seria de restritiva para explicativa, mas quando errei e percebi que esse Que não é um pronome relativo, ou seja, ele não está sozinho.

    E é graças ao discurso, e seu ímpeto endêmico de espreitar além das fronteiras que ele estabelece para a sua própria liberdade, que nosso estar no mundo é um processo de vir a ser perpétuo

    Nesse caso tem um "É que " realce. E sendo realce não poderia ser antecedido de virgula, pois ele pode sair.

    Corrijam-me se estiver errada.

  • Como uma oração subordinada ADJETIVA exerce função de aposto se a oração APOSITIVA é subordinada substantiva????