SóProvas


ID
5521483
Banca
CETAP
Órgão
Prefeitura de Maracanã - PA
Ano
2019
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

É correto, sem advérbios.

A lição da menina negra, magérrima, que cantou feito rainha. 


    Eiza Soares estreou no programa de Ary Barroso na Rádio Tupi. Tinha 16 anos e era mãe. Sua cria estava doente e Elza inscreveu-se no show de Barroso porque os primeiros lugares ganhavam prêmios em dinheiro. Era uma chance de pagar o tratamento do filho. Elza subiu no palco, mulher negra, jovem, magérrima, vestida conforme o lugar que lhe cabia na perversa espiral de privilégios da nossa sociedade. Notavam-se os remendos no vestido. Os alfinetes. Ary Barroso ficou chocado com alguém que, para muitos, não merecia estar sob os holofotes. “O que é que você velo fazer aqui?” Ary recebeu Elza com boa dose da branquitude, classismo e machismo que inebriam a elite brasileira desde sempre. 

    Elza respondeu: “Eu vim cantar”. Ary seguiu a cantilena do opressor: “E quem disse que você sabe cantar?”. Amenina de 16 anos, cujo filho ardia em febre, respondeu com a coragem das mães: “Eu”. “De onde você veio, menina?" Ary não parecia se cansar de assinalar que Elza era uma estrangeira ali. Nesse momento, a menina respondeu com a audácia disruptiva que mora em cada nota do seu jazz de lata d'água na cabeça: “Eu vim do planeta fome”.  

    Em 1983, a respeitadíssima acadêmica indiana Gayatri Spivak escreveu Pode o Subalterno Falar? O ensaio, referência para quem deseja compreender a contribuição dos estudos pós-coloniais para as ciências humanas, fala do silenciamento sistemático do subalterno. Categoria nomeada por Gramsci, o subalterno é quem não pertence socialmente e politicamente às estruturas hegemônicas de poder. Os excluídos. Os triturados diariamente pela mecânica da discriminação. As Elzas e seus filhos febris. Spivak teorizou sobre o fato de não parecer natural ou adequado o subalterno falar. O silêncio é o que se espera dele,  

    Se o subalterno não deve falar, como poderia ousar cantar? Ary e sua plateia, que ria da humilhação de Elza, achavam que não, E hoje? Seria diferente? Mudamos pouco. Somos a mesma plateia rindo de novas humilhações que nos chegam pelas novas mídias, mas somos iguais. Esperamos do subalterno o silêncio. Zombamos do subalterno que ousa quebrar esse nosso contrato social. E não se enganem: a zombaria é o novo açoite. Mudamos pouco. Os ancestrais de Elza foram para o pelourinho. Elza foi ridicularizada ao vivo. Hoje, fingimos ter superado esse passado, mas as revistas lidas pelas madames saúdam a nova onda: uniformes de domésticas assinados por estilistas renomados. 

    Mudamos quase nada. 

    Naquele dia, Elza cantou Lama na Rádio Tupi. A subalterna cantou rainha, majestosa. Ary Barroso aplaudiu boquiaberto. A plateia que antes riu levantou-se. Reverenciou a nobreza da negra do planeta fome que ousou adentrar um espaço que lhe era negado e fez dele seu reino. Para quem ainda não entendeu: o politicamente correto é simplesmente isso. O correto. Algumas piadas a menos? Sim. Mas, em troca, hoje temos infinitos talentos antes silenciados embalando nossos sonhos. Só os que não sonham não veem que o resultado é positivo e deve ser comemorado. 


(Manoela Miklos. 25 de janelro, 2019, Revista VEJA). 


A análise correta da estrutura: “Somos a mesma plateia rindo de novas humilhações que nos chegam pelas novas mídias (...)": 

Alternativas
Comentários
  • Inclusão: até, ainda, além disso, também, inclusive, etc. Por exemplo: Eu também vou viajar. 

    LETRA E

  • O verbo chegar é intransitivo, assim, o que vem depois dele é marcado pelo adjunto adverbial (circunstância)

  • COMO novas humilhações nos chegam ?

    pelas novas mídias

  • A) o verbo chegar é transitivo direto e indireto. (quem chega, chega à algum lugar, assim, é transitivo indireto);

    B) o pronome “nos” é objeto direto. (é objeto do verbo chegar, logo é objeto indireto);

    C) não há denotador de inclusão no fragmento. ("Somos" - denota a inclusão de quem fala);

    d) “pelas novas mídias” é adjunto adverbial de meio. (gabarito)

  • Denotador de inclusão: Os  advérbios classificam-se de acordo com a ideia que expressam. Dentre estes, temos os advérbios de inclusão, que expressam a ideia de inclusão de algo.

    Os principais advérbios de inclusão são: inclusive, também, mesmo, ainda, até, além disso.

  • O pronome relativo que retoma novas humilhações. Reescrevendo a oração subordinada adjetiva substituindo o pronome relativo pelo termo que ele retoma: "Novas humilhações nos chegam" , que é o mesmo que "Novas humilhações chegam a nós".

    Acredito que, para ver a regência de um verbo, deve-se analisar cada caso. Geralmente, chegar é um verbo intransitivo e o que vem após é o adjunto adverbial de lugar. Mas, no caso desta questão, chegar seria verbo transitivo indireto, em que o pronome oblíquo nos é o OI. Não caberia classificar o pronome oblíquo como adjunto adverbial, uma vez que se trata de pessoa e não de um lugar.

  • Gerúndio: chegando

    Particípio passado: chegado

    Infinitivo: chegar

    Tipo de verbo: regular

    Transitividade: transitivo direto, transitivo indireto, transitivo direto e indireto, intransitivo e pronominal

    Separação silábica: che-gar