SóProvas


ID
5531356
Banca
Ufersa
Órgão
UFERSA
Ano
2021
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Leia o texto abaixo para responder à questão.


Sexualização ou empoderamento? A patrulha de como as atletas se vestem volta aos Jogos Olímpicos


BEGOÑA GÓMEZ URZAIZ

25 JUL 2021 - 12:04 BRT


    Os Jogos Olímpicos de Tóquio acabam de começar e, com eles, as primeiras polêmicas sobre o vestuário das atletas. A que fez mais barulho tem a ver com a seleção norueguesa feminina de handebol de praia, que foi multada pela Comissão de Disciplina da Associação Europeia de Handebol por comparecer ao torneio usando top e short em vez do biquíni regulamentar, “com corte em um ângulo ascendente em direção à parte superior da perna” e “com uma largura lateral máxima de 10 centímetros”.

    A federação primeiro ameaçou multar as jogadoras norueguesas com 50 euros (306 reais) por pessoa e, mais tarde, desclassificá-las. Por isso, elas finalmente tiveram que disputar seu jogo contra a seleção da Hungria com o uniforme oficial. Ainda assim, aproveitaram a atenção captada pelo assunto para denunciar a hipersexualização exigida das esportistas. A foto grupal que elas fizeram com seus companheiros da equipe masculina diz tudo: elas de biquíni, eles com camiseta sem manga e short no meio da coxa.

    Mas a patrulha da roupa feminina também vai no sentido oposto. Mês passado, a atleta paralímpica inglesa Olivia Breen recebeu uma advertência dos juízes no campeonato britânico por usar calcinhas esportivas “reveladoras demais”. “Não se deve fazer as mulheres se sentirem coibidas pela roupa que usam ao competir, e sim confortáveis e seguras”, denunciou Breen na época. Disse também que muitas outras atletas haviam lhe contado que receberam comentários similares por parte dos árbitros. Breen pensa em levar o mesmo microshort, da marca Adidas, aos Jogos Paralímpicos de Tóquio.

    Assim que as provas começarem e ocorrerem as primeiras competições de ginástica artística e nado sincronizado, surgirão novamente as mesmas perguntas que se ouvem a cada quatro anos. É necessário que as atletas usem maquiagem? Que lugar as lantejoulas têm no cabelo em um uniforme esportivo? Por que uma atleta superdotada como Simone Biles precisa competir com laços no cabelo, como se estivesse num show infantil? Em 1978, uma professora estadunidense de Educação Física e Fisioterapia chamada Emily Wughalter batizou esse fenômeno de “the female apologetic” (“o pedido de desculpas feminino”). Ela argumentou que todos esses elementos, assim como, por exemplo, os segmentos de dança mais vistosos na ginástica rítmica, teriam sido implementados para afugentar os estereótipos de lesbiandade associados às atletas na época e, em geral, para que as mulheres conseguissem “ser perdoadas” pelo que entendiam como falta de feminilidade. Para compensar o fato de estarem se mostrando fortes, rápidas, ágeis e, de alguma forma masculinas, exigia-se que elas equilibrassem isso com “babados e rodopios”, segundo Wughalter.

    No entanto, para cada mulher esportista que batalha com sua federação para usar um uniforme mais parecido com o dos homens, existe outra que quer o contrário, e que não considera, como pensava Wugheiler, que usar maquiagem, cristais Swarovski na roupa de banho ou unhas compridas esteja em desacordo com sua excelência atlética. Sha’carri Richardson, a última estrela do atletismo feminino, é famosa por seu cabelo alaranjado e suas unhas criativas, que lembram as de Florence Griffith nos anos oitenta. A jogadora de futebol feminino Ali Krieger costuma jogar de maquiagem, que ela chama de “pintura de guerra”, embora isso não seja habitual no futebol. Outra corredora estadunidense, Shannon Rowbury, pinta os lábios de vermelho em cada prova porque considera que seja “empoderador”. A ginasta Aly Reisman disse algo parecido sobre o rímel: lhe dá confiança.

    Segundo outra professora canadense, Elizabeth Hardy, que atualizou o assunto do “pedido de desculpas feminino” no esporte, os meios de comunicação têm um papel importante na persistência desses estereótipos, sobretudo na elite, porque, para as atletas, é mais fácil conseguir cobertura e contratos com marcas que as patrocinem quando se encaixam num físico normativo. “Se enfatizam essa visão idealizada da feminilidade tradicional, garantem que permanecerão desejáveis para os homens”, escreveu Hardy numa análise sobre os papéis de gênero nas Olimpíadas do Rio, em 2016. Na ocasião, a cobertura do vôlei de praia feminino, por exemplo, “concentrou-se nos corpos das atletas e não no esporte, o que demonstra que ser estereotipicamente atraente deveria ser mais importante para as atletas do que ser boa em seu esporte”.

    A professora também abordou em seu estudo um assunto mais polêmico. Há alguns anos, uma ótica mais inclusiva do esporte está se concentrando nas atletas que são mães e em como conseguem combinar ambos os papéis, ressaltando que é possível ser ao mesmo tempo atleta de elite e mãe. Nesta mesma semana, Ona Carbonell denunciou as dificuldades que a organização de Tóquio lhe impõe para continuar amamentando seu bebê de oito meses. Para Hardy, no entanto, se a imprensa se concentra muito em oferecer uma imagem protetora e maternal dessas esportistas, isso prejudica o papel delas como atletas e o esporte em geral. A professora cita como exemplo a capitã da equipe de curling de seu país. Jennifer Jones, uma estrela no Canadá, ganhou a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de inverno de Sochi em 2014, quando já tinha um filho de dois anos. “A posição do skip [o capitão] é dominante, autoritária dentro do curling. Porém, no enfoque dos meios de comunicação e das campanhas publicitárias que trabalham com Jones, ressalta-se seu lado protetor e seu papel de esposa e mãe, não seu sucesso como atleta, o que dá a impressão de que suas conquistas esportivas não são suficientemente válidas, que não são boas o suficiente. Isso é danoso para as jovens atletas, pois demonstra que as ambições esportivas não importam, porque ser mãe deveria ser a prioridade em sua vida e aquilo pelo qual você será conhecida.”

    Enfatizar tanto o enorme mérito das atletas que conseguem voltar a treinar no nível máximo após parir ou que competem grávidas, como fez Serena Williams quando venceu um Aberto da Austrália sem que ninguém soubesse que estava esperando sua filha Olympia, poderia, segundo essa teoria, estar aumentando desnecessariamente as exigências e passando a mensagem de que ser apenas atleta, e não atleta e mãe, é menos importante.


EL PAÍS. Sexualização ou empoderamento? A patrulha de como as atletas se vestem volta aos Jogos Olímpicos. Disponível em: https://brasil.elpais.com/esportes/jogos-olimpicos/2021-07-25/a-desculpa-feminina-nos-jogos-olimpicos-e-a-eterna-polemica-sobre-como-as-atletas-se-vestem-maquiam-e-penteiam.html. Acesso em: 24 ago. 2021. Adaptado para fins didáticos.. 

No excerto: “A foto grupal que elas fizeram com seus companheiros da equipe masculina diz tudo: elas de biquíni, eles com camiseta sem manga e short no meio da coxa”, o uso de dois-pontos ocorre com o propósito de: 

Alternativas
Comentários
  • GABARITO A

    A função dos dois pontos é introduzir palavras, expressões ou frases que servem para esclarecer ou explicar uma passagem anterior.

    EXEMPLO:

     “A foto grupal que elas fizeram com seus companheiros da equipe masculina diz tudo: elas de biquíni, eles com camiseta sem manga e short no meio da coxa”

  • A questão é de pontuação e quer saber por qual razão os dois-pontos foram usados em “A foto grupal que elas fizeram com seus companheiros da equipe masculina diz tudo: elas de biquíni, eles com camiseta sem manga e short no meio da coxa”. Vejamos:

     .

    Nesse caso, os dois-pontos foram usados para esclarecer uma ideia anterior sobre como foi a foto grupal.

     .

    Para complementar:

     .

    Os DOIS PONTOS servem para marcar, na escrita, uma sensível suspensão da voz na melodia de uma frase não concluída. Empregam-se, pois, para anunciar:

     

    1º) uma citação (geralmente depois de verbo ou expressão que signifique dizer, responder, perguntar e sinônimos):

    Clemente voltou para dizer:

    - Não enxerguei ninguém, camarada. Era bicho.

     

    2º) uma enumeração explicativa:

    À sua volta, tudo lhe parece chorar: as árvores, o capim, os insetos.

     

    3º) um esclarecimento, uma síntese ou consequência do que foi enunciado:

    Não era desgosto: era cansaço e vergonha.

     .

    Referência: CUNHA, Celso. CINTRA, Lindley. Nova Gramática do Português Contemporâneo, 5.ª edição, Rio de Janeiro: Lexikon, 2008.

     .

    Gabarito: Letra A

  • Nesta questão o intuito é avaliar se o concurseiro sabe empregar corretamente os dois pontos de acordo com a situação comunicativa em que o sinal de pontuação é empregado. Vejamos as regras de uso abaixo:

     

    Dois pontos – usado nas seguintes situações:

    >> Iniciar falas de personagens:

    Ela disse:

    - Vá embora!

    >> Separar orações apositivas (que explicam itens anteriores):

     

    Este é o problema dessa geração: tem liberdade, mas não tem responsabilidade. (A oração que vem depois dos dois pontos explica qual é o problema do item anterior – “geração").

     

    >> Anteceder explicações:

     

    As principais ferramentas de uso são: chave de fenda, alicate e furadeira.

     

    Agora que vimos as principais regras de uso, vejamos o que nos diz o enunciado:

     

    No excerto: “A foto grupal que elas fizeram com seus companheiros da equipe masculina diz tudo: elas de biquíni, eles com camiseta sem manga e short no meio da coxa", o uso de dois-pontos ocorre com o propósito de: 

     

    A) Esclarecer uma ideia anterior.

     

    Correta. Aqui, os dois pontos introduzem uma oração que exerce a função sintática de oração apositiva, isto é, que explica algo ou um ponto de vista que já havia sido introduzido anteriormente. No caso, o que vem depois dos dois pontos explica o conteúdo da foto grupal.


    B) Resumir um ponto de vista.

     

    Incorreta. Os dois pontos não introduzem nenhum resumo.


    C) Enumerar itens da mesma natureza.

     

    Incorreta. Não há nenhuma enumeração de itens na frase.


    D) Introduzir o discurso direto. 

     

    Incorreta. Não há falas de personagens na frase.

     

    Gabarito do Professor:  Letra A

  • GABARITO A

    JUSTIFICANDO

    “A foto grupal que elas fizeram com seus companheiros da equipe masculina diz tudo: elas de biquíni, eles com camiseta sem manga e short no meio da coxa”

    Os dois-pontos, no excerto, têm a mesma função que "visto que", de modo que, ao se realizar as devidas alterações, uma redação alternativa poderia ser feita da seguinte forma: A foto grupal que elas fizeram com seus companheiros da equipe masculina diz tudo, visto que elas estavam de biquíni, eles com camiseta sem manga e short no meio da coxa.

    Logo, percebe-se que o uso dos dois-pontos tem a função de esclarecer a oração anterior, dar-lhe uma razão.

    Toda e qualquer observação é bem-vinda!