SóProvas


ID
5568352
Banca
INSTITUTO AOCP
Órgão
FUNPRESP-JUD
Ano
2021
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Filosofia em dois desenhos

    Fui caminhar. E na calçada me deparei com um estranho indivíduo. Carregava um saco plástico enorme que, pelo perfil do conteúdo, calculei estivesse cheio de latinhas. Mal acabei de pensar, o homem se acocorou na calçada. Extraiu de alguma parte uma pedra branca parecendo ser cal prensada, e com ela começou a desenhar no cimento.
    Parei para ver, atraída pelo ritual que se esboçava. O homem desenhou dois círculos um diante do outro, quase encostados, e dentro deles desenhou duas setas convergentes.
    Levantou-se, olhou sua obra com satisfação, andou cinco ou seis passos e, novamente, se acocorou. Continuava com a pedra de cal na mão.
    Mas o desenho que fez foi diferente. Riscou dois traços, colocados na mesma distância dos dois círculos, e atrás deles desenhou duas setas que apontavam uma para a outra.
    Segui adiante refletindo sobre o que havia presenciado. A primeira coisa que me veio à cabeça foi a Serra da Capivara, que visitei numa ida a Teresina para algum congresso ou palestra. Trouxe de volta a louça que a arqueóloga franco-brasileira Niéde Guidon, há muitos anos responsável pelo sítio arqueológico, ensinou os locais a fazerem para terem uma fonte de subsistência. Louça com impressos os mesmos desenhos estampados na rocha, que se acredita serem vestígios de uma cultura paleoamericana. Pois, como um ser primitivo, o homem havia estampado seus pensamentos e sua visão interior na mais moderna das rochas: o cimento.
    Havia reparado que o homem estava muito sujo e desgrenhado. Calçava havaianas de sola já bem fininha e roupas indefinidas. Provavelmente era mais um morador de rua. E como morador de rua, usava a mesma calçada em que dormia para se expressar. Usava a calçada, único bem que lhe pertencia, como se fosse papel para desenhar ou escrever. Porque não há dúvida de que, ao desenhar, aquele homem estava escrevendo.
    Estava escrevendo a sua dificuldade para se comunicar. Preso dentro de um círculo, pouco adiantava que as setas apontassem em direção uma da outra. Ele não conseguia obedecer à ordem das setas, pois continuava contido pela linha que delimitava o círculo.
    Coisa idêntica dizia o segundo desenho, agora com um traço, uma parede, um muro, impedindo-o de obedecer ao comando das setas.
    Pode até ser que o homem, através de seus desenhos estivesse desenvolvendo uma teoria filosófica sobre a incomunicabilidade dos seres humanos. Que, se por um lado não conseguem viver sozinhos (significado das setas instando à comunicação), por outro lado não conseguem se entender (significado dos círculos e dos traços impeditivos).
    Avançando nessa teoria, chegaríamos à conclusão de que tudo o que é coletivo resvala no pessoal. Assim como os desenhos do homem, tão íntimos e pessoais, destinavam-se a quem quer que passasse naquela exata calçada de Ipanema.

Adaptado de: https://www.marinacolasanti.com/2021/09/filosofiaem-dois-desenhos.html [Fragmentos]. Acesso em: 18 set. 2021.

Considerando os aspectos linguísticos do texto de apoio e os sentidos por eles expressos, julgue o seguinte item. 


Na frase “Extraiu de alguma parte uma pedra branca parecendo ser cal prensada, e com ela começou a desenhar no cimento.”, ocorre um desvio relacionado à pontuação, que poderia ser resolvido com a omissão da vírgula.

Alternativas
Comentários
  • Certa! Mesmo sujeito, não se usa a vírgula.

  • VÍRGULA ANTES DO “E”:

    → DUAS ORAÇÕES COM O MESMO SUJEITO = PROIBIDO A VÍRGULA ANTES DO E.

    → DUAS ORAÇÕES COM SUJEITOS DIFERENTES = FACULTATIVA.

    → “E” COM SENTIDO ADVERSATIVO = OBRIGATÓRIA.

    ·        Há uma força motriz mais poderosa que o vapor, a eletricidade e a energia atômica: a vontade. "Einstein"

  • O sujeito é "o homem"?

  • Gab: C

  • Orações coordenadas sindéticas aditivas com o mesmo sujeito, em regra, não há necessidade de virgula. Todavia pode ser usada como recurso estilístico.

    Orações coordenadas sindéticas aditivas com sujeitos distintos a vírgula é recomendada, desde que não cause ambiguidade, pois, ocorrendo isso, o uso se torna obrigatório.

    Tem colega dizendo que vírgula com o mesmo sujeito é proibia. O uso da palavra "proíbida" não seria a mais correta nesse tipo de abordagem. Prestem atenção.

  • Pessoal, é o seguinte. Em se tratando de vírgula antes do conectivo "E" (oração coordenada aditiva), o examinador desta banca (instituto aocp) possui o mesmo entendimento que o examinador do cebraspe. Repare:

    -> Vírgula antes do conectivo "E" separando O MESMO SUJEITO: PROIBÍDA. (caso da questão acima).

    -> Vírgula antes do conectivo "E" separando SUJEITOS DIFERENTES: FACULTATIVA, isto é, pode colocar ou não que não haverá nenhum empecilho.

  • VÍRGULA ANTES DO “E”:

    MESMO SUJEITO = PROIBIDO A VÍRGULA ANTES DO E.

    SUJEITOS DIFERENTES = FACULTATIVA.

  • A virgula está correta e pode ser usada como recurso estilístico, como disse o colega. O fato é que a banca não considera adequado esse tipo de virgula. Anotar.

  • Minha contribuição.

    VÍRGULA COM A CONJUNÇÃO E

    Para separar orações coordenadas com sujeitos distintos:

    Ex.: Minha professora entrou na sala, e os colegas começaram a rir.

    Ex.: Eu sei todas as respostas, e você pode se beneficiar disso.

    Polissíndeto (repetição proposital de conjunções):

    Ex.: Luta, e luta, e luta, e luta, e luta: é um filho da pátria.

    Ex.: Ela fala, e fala, e fala, e fala, e fala sem parar!

    Conectivo e com o valor semântico de mas:

    Ex.: Os alunos não estudaram, e passaram na prova.

    Ex.: Meu primo não disse uma palavra, e apareceu no churrasco.

    Para enfatizar o elemento posterior:

    Ex.: A menina lhe deu um fora, e ainda o ofendeu.

    Ex.: Convidaremos Cida, João, Pedro, Maria, e Genalda para o casamento.

    Fonte: Jamilk

    Abraço!!!

  • Essa vírgula é facultativa. (Estilística) Or.coordenada aditiva, conjunção e.

  • Todo mundo falando que são sujeitos diferentes, mas o que importa, de fato, são 2 informações:

    Informação 1: o "ELA" é pronome que está retomando de forma anafórica ao sujeito anteposto, que introduz a regra de que""

    1. Quando tivermos sujeito igual com vírgula anteposta à conjunção "e", a vírgula estará incorreta.

    Informação 2: O sujeito original é a palavra "pedra branca".

    Gabarito, portanto: CORRETA.

    Espero ter ajudado.

  • Vejamos quem é o sujeito das orações:

    Mal acabei de pensar, o homem se acocorou na calçada. Extraiu de alguma parte uma pedra branca parecendo ser cal prensada, e com ela começou a desenhar no cimento.

    O homem extraiu de alguma parte uma pedra branca parecendo ser cal prensada, e com ela o homem começou a desenhar no cimento.

    Vamos analisar:

    O sujeito de EXTRAIR nos 2 casos é HOMEM (no plano semântico)

    A expressão 'UMA PEDRA BRANCA" é objeto direito na primeira oração. Veja, podemos transpor da voz ativa para passiva: O homem extraiu uma pedra branca (ativa)

    Uma pedra branca foi extraída pelo homem (passiva)

    Segunda análise:

    "e com ela o homem começou a desenhar no cimento". A expressão "COM ELA" se refere à PEDRA BRANCA", que nessa segunda oração funciona como adjunto adverbial de instrumento. Colocando na ordem direta ficaria assim:

    "E O HOMEM COMEÇOU A DESENHAR NO CIMENTO COM ELA" (COM A PEDRA)

    Se reconstruirmos a frase, ficaria assim.

    "O HOMEM extraiu de alguma parte uma pedra branca parecendo ser cal prensada e o HOMEM começou a desenhar no cimento.com ela= (COM A PEDRA BRANCA)

    Sujeitos iguais, vírgula proibida.

    GABARITO CORRETO.

    Abraços!

  • Essa vírgula é facultativa.