SóProvas


ID
5568355
Banca
INSTITUTO AOCP
Órgão
FUNPRESP-JUD
Ano
2021
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Filosofia em dois desenhos

    Fui caminhar. E na calçada me deparei com um estranho indivíduo. Carregava um saco plástico enorme que, pelo perfil do conteúdo, calculei estivesse cheio de latinhas. Mal acabei de pensar, o homem se acocorou na calçada. Extraiu de alguma parte uma pedra branca parecendo ser cal prensada, e com ela começou a desenhar no cimento.
    Parei para ver, atraída pelo ritual que se esboçava. O homem desenhou dois círculos um diante do outro, quase encostados, e dentro deles desenhou duas setas convergentes.
    Levantou-se, olhou sua obra com satisfação, andou cinco ou seis passos e, novamente, se acocorou. Continuava com a pedra de cal na mão.
    Mas o desenho que fez foi diferente. Riscou dois traços, colocados na mesma distância dos dois círculos, e atrás deles desenhou duas setas que apontavam uma para a outra.
    Segui adiante refletindo sobre o que havia presenciado. A primeira coisa que me veio à cabeça foi a Serra da Capivara, que visitei numa ida a Teresina para algum congresso ou palestra. Trouxe de volta a louça que a arqueóloga franco-brasileira Niéde Guidon, há muitos anos responsável pelo sítio arqueológico, ensinou os locais a fazerem para terem uma fonte de subsistência. Louça com impressos os mesmos desenhos estampados na rocha, que se acredita serem vestígios de uma cultura paleoamericana. Pois, como um ser primitivo, o homem havia estampado seus pensamentos e sua visão interior na mais moderna das rochas: o cimento.
    Havia reparado que o homem estava muito sujo e desgrenhado. Calçava havaianas de sola já bem fininha e roupas indefinidas. Provavelmente era mais um morador de rua. E como morador de rua, usava a mesma calçada em que dormia para se expressar. Usava a calçada, único bem que lhe pertencia, como se fosse papel para desenhar ou escrever. Porque não há dúvida de que, ao desenhar, aquele homem estava escrevendo.
    Estava escrevendo a sua dificuldade para se comunicar. Preso dentro de um círculo, pouco adiantava que as setas apontassem em direção uma da outra. Ele não conseguia obedecer à ordem das setas, pois continuava contido pela linha que delimitava o círculo.
    Coisa idêntica dizia o segundo desenho, agora com um traço, uma parede, um muro, impedindo-o de obedecer ao comando das setas.
    Pode até ser que o homem, através de seus desenhos estivesse desenvolvendo uma teoria filosófica sobre a incomunicabilidade dos seres humanos. Que, se por um lado não conseguem viver sozinhos (significado das setas instando à comunicação), por outro lado não conseguem se entender (significado dos círculos e dos traços impeditivos).
    Avançando nessa teoria, chegaríamos à conclusão de que tudo o que é coletivo resvala no pessoal. Assim como os desenhos do homem, tão íntimos e pessoais, destinavam-se a quem quer que passasse naquela exata calçada de Ipanema.

Adaptado de: https://www.marinacolasanti.com/2021/09/filosofiaem-dois-desenhos.html [Fragmentos]. Acesso em: 18 set. 2021.

Considerando os aspectos linguísticos do texto de apoio e os sentidos por eles expressos, julgue o seguinte item. 


Na frase “Avançando nessa teoria, chegaríamos à conclusão [...]”, tanto o verbo no gerúndio quanto o verbo no futuro do pretérito prestam-se à criação do sentido hipotético expresso pelo enunciado.

Alternativas
Comentários
  • Chegaríamos já está no futuro do pretérito.

    Chegando seria a situação do verbo no gerúndio: "Avançando nessa teoria, chegando á conclusão de que tudo o que é coletivo resvala no pessoal."

    Ainda expressa um sentido hipotético mesmo alterando o tempo verbal.

    Gabarito: Correto.

  • Avançando = gerúndio

    chegaríamos = futuro do pretérito

  • CERTO

    Avançando = gerúndio

    MATOU A PRIMEIRA, JÁ SABE QUE O GABARITO É:

    CERTO.

  • Que é gerúndio todos sabem, mas pq, necessariamente, cria sentido hipotético?

  • Só identificar o verbo no gerúndio não soluciona a questão, gente. É uma questão de interpretação e conhecimento dos tempos verbais.

    "Avançando nessa teoria, chegaríamos à conclusão..." Se caso avançássemos nessa teoria, chegaríamos à conclusão... Aqui temos uma noção/ ideia de hipótese.

  • Eu errei esta questão, porém, forçando a barrinha, eu acho que ela tem a ver com o paralelismo sintático, isto é, o verbo que está no gerúndio tem ligação com o verbo que está no modo subjuntivo. Por isso, aquele verbo do gerúndio passaria a ter sentido hipotético também. Só pode ser essa a ideia do examinador, visto que o gerúndio é algo que começou no passado e continua no presente, entretanto, ele por si só não da ideia de hipótese.

  • "Avançando nessa teoria, chegaríamos à conclusão."

    O verbo avançar introduz uma oração subordinada condicional reduzida. Mantendo-se a correlação verbal e pondo a oração na ordem canônica, teríamos: "Chegaríamos à conclusão se avançássemos nessa teoria."

  • A questão requer conhecimento sobre orações subordinadas adverbiais desenvolvidas e reduzidas, flexões verbais (modo-temporais) e correlação verbal.


    A oração “Avançando nessa teoria" é subordinada adverbial condicional reduzida de gerúndio. Ao desenvolvê-la, teríamos: “Caso avançássemos nessa teoria, chegaríamos à conclusão", em que:


    . caso - conjunção subordinativa adverbial condicional.

    . avançássemos - é verbo flexionado no pretérito imperfeito do subjuntivo.


    Tanto o pretérito imperfeito do subjuntivo quanto o futuro do pretérito do indicativo (chegaríamos) exprimem uma condição ou hipótese. Ademais, a fim de manter a correlação verbal, ao empregar futuro do pretérito numa oração, emprega-se o pretérito imperfeito do subjuntivo na outra oração ou vice-versa.


    Gabarito da Professora: CERTO.

  • Apesar do verbo no futuro do pretérito pertencer ao indicativo, e não ao modo subjuntivo, ele indica possibilidade, hipótese.

  • Só identificar o verbo no gerúndio não soluciona a questão, gente. É uma questão de interpretação e conhecimento dos tempos verbais.

    "Avançando nessa teoria, chegaríamos à conclusão..." Se caso avançássemos nessa teoria, chegaríamos à conclusão... Aqui temos uma noção/ ideia de hipótese.

  • Avançando = gerúndio

    chegaríamos = futuro do pretérito

  • chegaríamos = futuro do pretérito

    Futuro do pretérito: Sua formação pode ser simples e composta. Ele expressa incerteza, surpresa e indignação, sendo utilizado para se referir a algo que poderia ter acontecido posteriormente a uma situação no passado. Ou seja = uma hipótese

  • Pensei dessa forma para resolver a questão:

    Na ligação em tempos verbais o Futuro do pretérito se correlaciona com o Pretérito imperfeito do Subjuntivo... então:

    ''Avançando nessa teoria, chegaríamos à conclusão'' ficaria ''Se nós avançássemos nessa teoria, chegaríamos à conclusão'' (os dois tempos verbais dita uma hipótese).

    Se encontrarem algum erro me avisem.

  • Eu não teria coragem de marcar esta questão em uma prova real. Nunca ouvi falar que gerúndio está relacionado com algum modo verbal (indicativo ou subjuntivo).

    O gerúndio transmite uma ideia de continuidade da ação verbal, tanto faz o modo.

    A questão afirmar que o gerúndio está criando um sentido de hipótese é demais.

    Essa aí implora para não ser marcada.

  • Questão boa, que pode levar ao erro quem sabe demais. (se for por dedução)

    O Gerúndio nos passa uma ideia de continuidade, podemos errar essa questão por não ir ao texto e considerar que uma ação continua no tempo não nos passa uma hipótese.

    Voltando ao texto (...)

    Todo o parágrafo anterior gira em torno do modo subjuntivo: HIPOTÉTICO/INCERTO

     Pode até ser que o homem (...) estivesse desenvolvendo um teoria FILOSÓFICA.

    Avançando nessa teoria (HIPOTÉTICA citada anteriormente), chegaríamos à conclusão de que tudo o que é coletivo resvala no pessoal.

    Logo, tanto o verbo no gerúndio quanto o verbo no futuro do pretérito prestam-se à criação do sentido hipotético.

    Esse trecho só manteve o padrão empregado nos parágrafos anteriores.

    Gabarito: certo

  • Verbos no gerúndio trazem sentido hipotético por expressar uma ação inacabada????