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ID
5582875
Banca
CESPE / CEBRASPE
Órgão
TJ-RJ
Ano
2021
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto CG1A1

    

    Na casa vazia, sozinha com a empregada, já não andava como um soldado, já não precisava tomar cuidado. Mas sentia falta da batalha das ruas. Melancolia da liberdade, com o horizonte ainda tão longe. Dera-se ao horizonte. Mas a nostalgia do presente. O aprendizado da paciência, o juramento da espera. Do qual talvez não soubesse jamais se livrar. A tarde transformando-se em interminável e, até todos voltarem para o jantar e ela poder se tornar com alívio uma filha, era o calor, o livro aberto e depois fechado, uma intuição, o calor: sentava-se com a cabeça entre as mãos, desesperada. Quando tinha dez anos, relembrou, um menino que a amava jogara-lhe um rato morto. Porcaria! berrara branca com a ofensa. Fora uma experiência. Jamais contara a ninguém. Com a cabeça entre as mãos, sentada. Dizia quinze vezes: sou vigorosa, sou vigorosa, sou vigorosa — depois percebia que apenas prestara atenção à contagem. Suprindo com a quantidade, disse mais uma vez: sou vigorosa, dezesseis. E já não estava mais à mercê de ninguém. Desesperada porque, vigorosa, livre, não estava mais à mercê. Perdera a fé. Foi conversar com a empregada, antiga sacerdotisa. Elas se reconheciam. As duas descalças, de pé na cozinha, a fumaça do fogão. Perdera a fé, mas, à beira da graça, procurava na empregada apenas o que esta já perdera, não o que ganhara. Fazia-se pois distraída e, conversando, evitava a conversa. “Ela imagina que na minha idade devo saber mais do que sei e é capaz de me ensinar alguma coisa”, pensou, a cabeça entre as mãos, defendendo a ignorância como a um corpo. Faltavam-lhe elementos, mas não os queria de quem já os esquecera. A grande espera fazia parte. Dentro da vastidão, maquinando.

Clarice Lispector. Preciosidade. In: Laços de Família.

Rio de Janeiro: Rocco, 1998, p. 86-87 (com adaptações). 

No trecho “Na casa vazia, sozinha com a empregada, já não andava como um soldado, já não precisava tomar cuidado. Mas sentia falta da batalha das ruas. Melancolia da liberdade, com o horizonte ainda tão longe. Dera-se ao horizonte. Mas a nostalgia do presente. O aprendizado da paciência, o juramento da espera. Do qual talvez não soubesse jamais se livrar.”, do texto CG1A1, a expressão o qual, contida em “Do qual”, refere-se a  

Alternativas
Comentários
  • GABARITO C

    ANALISANDO O TEXTO

    "(...) O aprendizado da paciência, o juramento da espera. Do qual talvez não soubesse jamais se livrar" . = A relação sintática entre o termo "do qual" com o seu respectivo referente mostra-se por meio da seguinte estratégia: "Talvez ele não soubesse jamais se livrar do quê?". Logo, a resposta é o termo que o antecede e com o qual estabelece uma relação de sentido (juramento da espera).

    JUSTIFICANDO

    a) [ERRADO] “O aprendizado da paciência”.

    b) [ERRADO] “um soldado”. 

    c) [CERTO] o juramento da espera”.

    d) [ERRADO] “presente”.

    e) [ERRADO] “o horizonte”. 

    Toda e qualquer observação é bem-vinda. 

  • Dica: o pronome relativo 'o qual' e suas variações sempre irá retomar o último elemento mencionado. Isso é uma característica de todos os pronomes relativos. A única excessão é o pronome 'cujo' que irá anteceder um termo ainda não mencionado.

  • O pronome relativo "O QUAL" retoma o último elemento, no caso "O JURAMENTO DA ESPERA". A leitura atenta também mataria a charada :)

    GAB: C

  • GABARITO - C

    “Na casa vazia, sozinha com a empregada, já não andava como um soldado, já não precisava tomar cuidado. Mas sentia falta da batalha das ruas. Melancolia da liberdade, com o horizonte ainda tão longe. Dera-se ao horizonte. Mas a nostalgia do presente. O aprendizado da paciência, o juramento da espera. Do qual talvez não soubesse jamais se livrar.

    O juramento do qual talvez não soubesse jamais se livrar.