SóProvas


ID
5583058
Banca
CESPE / CEBRASPE
Órgão
SEFAZ-RR
Ano
2021
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto CG1A1-I


    Começarei por vos contar em brevíssimas palavras um fato notável da vida camponesa ocorrido numa aldeia dos arredores de Florença há mais de quatrocentos anos. Permito-me pedir toda a vossa atenção para este importante acontecimento histórico porque, ao contrário do que é corrente, a lição moral extraível do episódio não terá de esperar o fim do relato, saltar-vos-á ao rosto não tarda.

    Estavam os habitantes nas suas casas ou a trabalhar nos cultivos quando se ouviu soar o sino da igreja. O sino ainda tocou por alguns minutos mais, finalmente calou-se. Instantes depois a porta abria-se e um camponês aparecia no limiar. Ora, não sendo este o homem encarregado de tocar habitualmente o sino, compreende-se que os vizinhos lhe tenham perguntado onde se encontrava o sineiro e quem era o morto. “O sineiro não está aqui, eu é que toquei o sino”, foi a resposta do camponês. “Mas então não morreu ninguém?”, tornaram os vizinhos, e o camponês respondeu: “Ninguém que tivesse nome e figura de gente, toquei a finados pela Justiça porque a Justiça está morta”.

    Que acontecera? Acontecera que o ganancioso senhor do lugar andava desde há tempos a mudar de sítio os marcos das estremas das suas terras. O lesado tinha começado por protestar e reclamar, depois implorou compaixão, e finalmente resolveu queixar-se às autoridades e acolher-se à proteção da justiça. Tudo sem resultado, a espoliação continuou. Então, desesperado, decidiu anunciar a morte da Justiça. Não sei o que sucedeu depois, não sei se o braço popular foi ajudar o camponês a repor as estremas nos seus sítios, ou se os vizinhos, uma vez que a Justiça havia sido declarada defunta, regressaram resignados, de cabeça baixa e alma sucumbida, à triste vida de todos os dias.

    Suponho ter sido esta a única vez que, em qualquer parte do mundo, um sino chorou a morte da Justiça. Nunca mais tornou a ouvir-se aquele fúnebre dobre da aldeia de Florença, mas a Justiça continuou e continua a morrer todos os dias. Agora mesmo, neste instante, longe ou aqui ao lado, à porta da nossa casa, alguém a está matando. De cada vez que morre, é como se afinal nunca tivesse existido para aqueles que nela tinham confiado, para aqueles que dela esperavam o que da Justiça todos temos o direito de esperar: justiça, simplesmente justiça. Não a que se envolve em túnicas de teatro e nos confunde com flores de vã retórica judicialista, não a que permitiu que lhe vendassem os olhos e viciassem os pesos da balança, não a da espada que sempre corta mais para um lado que para o outro, mas uma justiça pedestre, uma justiça companheira cotidiana dos homens, uma justiça para quem o justo seria o mais rigoroso sinônimo do ético, uma justiça que chegasse a ser tão indispensável à felicidade do espírito como indispensável à vida é o alimento do corpo. Uma justiça exercida pelos tribunais, sem dúvida, sempre que a isso os determinasse a lei, mas também, e sobretudo, uma justiça que fosse a emanação espontânea da própria sociedade em ação, uma justiça em que se manifestasse, como um iniludível imperativo moral, o respeito pelo direito a ser que a cada ser humano assiste.

José Saramago. Este mundo da injustiça globalizada.

Internet:<dominiopublico.gov.br> (com adaptações).

Em cada uma das opções a seguir, é apresentada uma proposta de reescrita para o seguinte trecho do texto CG1A1-I: “O sino ainda tocou por alguns minutos mais, finalmente calou-se.” (segundo parágrafo). Assinale a opção em que a reescrita proposta mantém a correção gramatical e os sentidos originais do trecho. 

Alternativas
Comentários
  • Gabarito B

  • Letra B - GABARITO

    O sino tocou por mais alguns minutos ainda e, finalmente, calou-se.

    A primeira parte da oração foi reescrita apenas com o deslocamento de alguns termos, porém foi mantida a relação semântica entre eles. Na reescrita temos a adição da conjunção "e" estabelecendo uma relação coesiva entre as orações.

  • GAB B

    Apenas complementando o comentário dos colegas .

    Segue o bizu para quem ainda não tem :

    Quando a CESPE afirma “… a reescrita mantém os sentidos do texto”, ela se refere aos sentidos originais do texto, ou seja, quer saber se esse sentido foi ou não alterado com a reescrita proposta.

    Quando a CESPE afirma “… a reescrita mantém a coerência no texto”, ela se refere à lógica das ideias, ou seja, quer saber se faz sentido ou não aquela reescrita proposta.

    Quando a CESPE afirma “… a reescrita mantém a correção gramatical”, ela está unicamente interessada em saber se as regras gramaticais – de ortografia, pontuação, concordância, etc. – são obedecidas.

  • Gabarito na alternativa B

    Solicita-se indicação da reescrita que preserve a correção e o sentido da passagem:

    “O sino ainda tocou por alguns minutos mais, finalmente calou-se.” (segundo parágrafo).

    Um ponto específico deve ser destacado: a relação estabelecida pelo vocábulo "mais";

    Embora posposto, o termo, que pode ser classificado como pronome indefinido, estabelece relação entre a preposição "por" e a construção "alguns minutos", em uma ideia de adição, prolongamento de ação.

    A) O sino tocou ainda mais por alguns minutos, finalmente, calou-se. 

    Incorreta. Desconsiderada a expressiva ausência de conjunção aditiva a introduzir a oração composta por "calou-se", a mudança de posição do termo "mais" altera tanto sua classe gramatical, passando a atuar como advérbio que intensifica o verbo "tocar", quanto seu sentido na construção.

    B) O sino tocou por mais alguns minutos ainda e, finalmente, calou-se.

    Correta, Há mudança de posição do advérbio "ainda" e inserção de uma segunda vírgula a isolar "finalmente", nenhuma das modificações causando mudança semântica ou incorreção na construção.

    C) O sino, finalmente, calou-se, ainda que tenha tocado mais por alguns minutos.

    Incorreta. A mudança da posição do termo "mais", agora aplicado como advérbio que intensifica "tocar", causa alteração dos sentidos da construção.

    D) Finalmente, o sino, que havia tocado mais por alguns minutos, calou-se.

    Incorreta. A mudança da posição do termo "mais", agora aplicado como advérbio que intensifica "tocar", causa alteração dos sentidos da construção.

    E) O sino tocou por alguns minutos ainda, mais se calou finalmente.

    Incorreta. Encontramos emprego incorreto do termo "mais", utilizado impropriamente como se conjunção adversativa fosse. É caso de incorreção ortográfica da conjunção "mas".

  • Muito difícil, realmente acho que preciso estudar muito português.

  • Esse tipo de questão eu responderia por último, pois cansa muito a mente.

  • GAB B             @moti.vacon

    Apenas complementando o comentário dos colegas .

    Segue o bizu para quem ainda não tem :

    Quando a CESPE afirma “… a reescrita mantém os sentidos do texto”, ela se refere aos sentidos originais do texto, ou seja, quer saber se esse sentido foi ou não alterado com a reescrita proposta.

    Quando a CESPE afirma “… a reescrita mantém a coerência no texto”, ela se refere à lógica das ideias, ou seja, quer saber se faz sentido ou não aquela reescrita proposta.

    Quando a CESPE afirma “… a reescrita mantém a correção gramatical”, ela está unicamente interessada em saber se as regras gramaticais – de ortografia, pontuação, concordância, etc. – são obedecidas.

  • Olha eu fui pela minha lógica.

    1) O segredo é onde a banca vai colocar o adverbio "mais" acompanhando qual palavra = que expressa quantidade ou intensidade.

    2) A frase original "... alguns minutos mais.. = indica que o adverbio "mais" está dando a ideia de quantidade = mais tempo = mais minutos tocando.

    alternativa B: O sino tocou por mais alguns minutos ainda e, finalmente, calou-se. = correto = o sino toco por mais tempo = mais minutos tocando. E mantém a correção gramatical.

    alternativa A: O sino tocou ainda mais.... = mudou o sentido - ou seja - o sino tocou mais forte.

    alternativa C: ...tocado mais por alguns minutos = mudou o sentido - ou seja - o sino tocou mais forte.

    alternativa D: ...que havia tocado mais = mudou o sentido - o sino tocou mais forte.

    alternativa E: ...tocou... ainda, mais se calou finalmente. = agora é uma salada de erro, gramatical e de sentido, pois, a virgula está na posição incorreta, antes da palavra "mais" fica sem sentido e só caberia a conjunção "mas" e ai cai num erro gramatical porque está usado um adverbio onde só cabe a conjunção. Se a vírgula fosse depois da palavra "mais" também não daria certo, pois, corrige o erro gramatical porém muda o sentido do mesmo jeito que as outras alternativas.