SóProvas


ID
5590333
Banca
CESPE / CEBRASPE
Órgão
Prefeitura de Aracaju - SE
Ano
2021
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto CB1A1-II

    De um dia para o outro, parecia que a peste se tinha instalado confortavelmente no seu paroxismo e incorporava aos seus assassinatos diários a precisão e a regularidade de um bom funcionário. Em princípio, segundo a opinião de pessoas competentes, era bom sinal. O gráfico da evolução da peste, com sua subida incessante, parecia inteiramente reconfortante ao Dr. Richard. Daqui em diante, só poderia decrescer. E ele atribuía o mérito disso ao novo soro de Gastei, que acabava de obter, com efeito, alguns êxitos imprevistos. As formas pulmonares da infecção, que já se tinham manifestado, multiplicavam-se agora nos quatro cantos da cidade. O contágio tinha agora probabilidade de ser maior, com essa nova forma de epidemia. Na realidade, as opiniões dos especialistas tinham sempre sido contraditórias sobre esse ponto. Havia, no entanto, outros motivos de inquietação em consequência das dificuldades de abastecimento, que cresciam com o tempo. A especulação interviera e oferecia, a preços fabulosos, os gêneros de primeira necessidade que faltavam no mercado habitual. As famílias pobres viam-se, assim, em uma situação muito difícil. A peste, que, pela imparcialidade eficaz com que exercia seu ministério, deveria ter reforçado a igualdade entre nossos concidadãos pelo jogo normal dos egoísmos, tornava, ao contrário, mais acentuado no coração dos homens o sentimento da injustiça. Restava, é bem verdade, a igualdade irrepreensível da morte, mas, esta, ninguém queria. Os pobres que sofriam de fome pensavam, com mais nostalgia ainda, nas cidades e nos campos vizinhos, onde a vida era livre e o pão não era caro. Difundira-se uma divisa que se lia, às vezes, nos muros ou se gritava à passagem do prefeito: “Pão ou ar”. Essa fórmula irônica dava o alarme de certas manifestações logo reprimidas, mas cuja gravidade todos percebiam.

Albert Camus. A peste. Internet: (com adaptações). 

A respeito dos aspectos linguísticos do texto CB1A1-II, julgue os itens a seguir.


I Em “Havia, no entanto, outros motivos de inquietação”, o vocábulo “Havia” poderia ser substituído por Existia sem prejuízo da correção gramatical e dos sentidos do texto.

II Os sentidos originais do texto seriam alterados caso o adjetivo “bom” fosse deslocado para imediatamente após “funcionário”, em “e incorporava aos seus assassinatos diários a precisão e a regularidade de um bom funcionário”.

III Em “E ele atribuía o mérito disso ao novo soro de Gastei, que acabava de obter, com efeito, alguns êxitos imprevistos”, o referente do vocábulo “que” é “Gastei”.


Assinale a opção correta. 

Alternativas
Comentários
  • I - O verbo Haver é impessoal, por isso está no singular, porém o verbo Existir não é, logo devia está no plural para concordar com seu sujeito "outros motivos de inquietação".

    II - CERTO

    III - A posição do adjetivo pode modificar o substantivo.

    Adjetivo depois do substantivo = sentido dicionarizado.

    exemplo: uma mulher pobre (sem recursos)

    Adjetivo antes do substantivo = sentido conotativo, figurado.

    exemplo: uma pobre mulher (sofredora)

  • III - O referente é "o novo soro"

  • Resposta Letra A:

     O adjetivo é capaz de apresentar diferentes significados de acordo com a posição em que é empregado.

    1) O falso profeta gritava para a multidão. (O adjetivo “falso” foi empregado com sentido de impostor, de farsante.)

    O profeta falso gritava para a multidão. (O adjet. “falso” com sentido de desleal, mentiroso.)

    2) Joana é uma nova pessoa. (O adjetivo “nova” foi empregado com sentido de renovada, restaurada.)

    Joana é uma pessoa nova. (O adjet. “nova” foi empregado com sentido de jovem, de pouca idade.)

    3) Ele era um senhor delegado. (O adjetivo “senhor” foi empregado com sentido de excelente, ótimo.)

    Ele era delegado senhor. (O adjet. “senhor” foi empregado com sentido de pessoa de meia-idade.)

    4) A mulher pobre vestia azul. (O adjetivo “pobre” foi empregado com sentido de pessoa com pouco dinheiro.)

    pobre mulher vestia azul (O adjet. “pobre” foi empregado com sentido de coitada, de digna de pena.)

  • I- errada, pois o havia é impessoal e fica no singular, porém o existia não e deveria concordar.

    II- certa

    Bom funcionário ➜ é geralmente flexível e ágil na tomada de decisões

    Funcionário bom ➜ é geralmente solícito quando acionado

    III- errada. O novo soro é o referente.

  • Bom funcionário: associei a uma pessoa que seja boa em suas funções

    Funcionário bom: associei a uma pessoa que seja boa, bondosa

  • Existe diferença entre uma "boa professora" e uma "professora boa"? ;)

  • Comentário do item III:

    III Em “E ele atribuía o mérito disso ao novo soro de Gastei, que acabava de obter, com efeito, alguns êxitos imprevistos”, o referente do vocábulo “que” é “Gastei”.

    Nesse caso, temos que voltar ao texto:

    "De um dia para o outro, parecia que a peste se tinha instalado confortavelmente no seu paroxismo e incorporava aos seus assassinatos diários a precisão e a regularidade de um bom funcionário. Em princípio, segundo a opinião de pessoas competentes, era bom sinal. O gráfico da evolução da peste, com sua subida incessante, parecia inteiramente reconfortante ao Dr. Richard. Daqui em diante, só poderia decrescer. E ele atribuía o mérito disso ao novo soro de Gastei, que acabava de obter, com efeito, alguns êxitos imprevistos".

    "Que" vejo como pronome relativo, nesse caso ele retoma o substantivo " MÉRITO". Fica assim: Ele acabava de obter o mérito. (ordem direta). O pronome relativo nesse contexto é um objeto direto. Logo, temos uma ORAÇÃO SUBORDINADA ADJETIVA OBJETIVA DIRETA .

    Se você interpretar essa passagem, verás que o Dr. conhece o estudo do novo soro de gastei e devolve o mérito recebido ao criador.

  • No item do funcionário deve-se analisar se as classes gramaticais fora alteradas, porque se sim, haveria alteração de sentido. Neste caso as classes gramaticais de bom e funcionário não se alteraram. Agora deve-se analisar sobre os valores objetivos e subjetivos, pois caso haja alteração, havará alteração também de sentido. Neste caso, bom funcionário tem valor objetivo e funcionário bom tem valor subjetivo, mudando o sentido quando se invertem as palavras.

  • sempre bom, na prova, colocar na ordem direta pra ganhar tempo e eliminar algumas alternativas logo!

    Existiam, no entanto, outros motivos de inquietação.

    matou c- d- e

  • Haver no sentido de existir é impessoal

  • GABA A - Só eu que achei que não tinha opção correta? :(