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ID
5651302
Banca
CESPE / CEBRASPE
Órgão
DPE-DF
Ano
2022
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

      Em O processo, a antevisão do inferno em que se transformaria a burocracia moderna, das culpas imputadas, da tortura anônima e da morte que caracterizam os regimes totalitários do século vinte já é um lugar-comum. O trucidamento (literal) de que K. tornou-se um ícone do homicídio político. “A colônia penal” de Kafka transformou-se em realidade pouco depois de sua morte, quando também os temas da aniquilação e dos “vermes”, de sua Metamorfose, adquiriram macabra realidade. A realização concreta de suas premonições, com pormenores de clarividência, está indissociavelmente relacionada às suas fantasias aparentemente desvairadas. Haveria algum sentido em pensar que, de alguma forma, as previsões claramente formuladas na ficção de Kafka, em O processo principalmente, teriam contribuído para que de fato ocorressem? Seria possível que uma profecia articulada de maneira tão impiedosa tivesse outro destino que não a sua realização? As três irmãs de K. e sua Milena morreram em campos de concentração. O judeu da Europa Central que Kafka ironizou e celebrou foi extinto de maneira abominável. Em termos espirituais, existe a possibilidade de Franz Kafka ter sentido seus dons proféticos como uma visitação de culpa, de que a capacidade de antever o tivesse exposto demais às suas emoções. K. torna-se o cúmplice, perplexo, porém quase impaciente, do crime perpetrado contra ele. Coexistem, em todos os suicídios, a apologia e a aquiescência. Como diz o sacerdote, em triste zombaria (seria mesmo zombaria?): “A justiça nada quer de ti. Acolhe-te quando vens e te deixa ir quando partes”. Essa formulação está muito próxima de ser uma definição da vida humana, da liberdade de ser culpado, que é a liberdade concedida ao homem expulso do Paraíso. Quem, senão Kafka, teria sido capaz de dizer isso em tão poucas palavras? Ou se saber condenado por ter sido capaz de fazê-lo?


George Steiner. Um comentário sobre O processo de Kafka. In: Nenhuma paixão desperdiçada. Tradução de Maria Alice Máximo. Rio de Janeiro: Record, 2001 (com adaptações). 

Acerca dos sentidos, das ideias e dos aspectos linguísticos do texto apresentado, julgue o item a seguir.


Em ‘Acolhe-te quando vens e te deixa ir quando partes’, a conjunção ‘e’ poderia ser substituída por ponto e vírgula, sem prejuízo do sentido original e da correção gramatical do texto.

Alternativas
Comentários
  • A conjunção "e" está ligando duas orações coordenadas entre si, portanto incorre em erro gramatical, a substituição da conjunção "e" por ponto e vírgula.

    OBS: Quando os verbos são antecedidos por advérbios, usamos a próclise. Todavia, se há vírgula depois do advérbio, deve ser usada a ênclise, uma vez que nesse caso o advérbio deixa de atrair o pronome.

    Exemplos:

    • Ontem me deram a notícia.
    • Afinal, deram-me a notícia.

    Gabarito: Errado.

    PPPE 2022.

  • ERRADO

    Acolhe-te quando vens; te deixa ir quando partes

    • Não é possível próclise depois de ;

    Obs: Não se confunda com o caso da vírgula, em que é preferível a ênclise, pois caso exista um particípio, o correto será a próclise.

  • O trecho a ser inspecionado:

    "Acolhe-te quando vens e te deixa ir quando partes."

    Por duas razões a troca da conjunção "e" pelo ponto e vírgula se desdobraria em incorreção:

    1) Haveria ruptura do período e, com isso, retirar-se-ia o sentido aditivo constituinte da oração: a conjunção "e" conecta orações cuja primeira (acolhe-te) é assindética em relação à terceira, que é sindética aditiva (e te deixa ir);

    2) Se posto o ponto e vírgula no lugar da conjunção "e", a próclise presente no fragmento original (e te deixa ir) seria inoportuna, haja vista que o pronome oblíquo átono, por não poder estar em início de frase, deve achar-se alojado ou em mesóclise (quando for cabível) ou em ênclise.

    Errado.

  • Gab: Errado.

    Não se inicia frases com pronome oblíquo átono.

    • "Acolhe-te quando vens; te deixa ir quando partes." ---> X ERRADO
  • ERRADO

    Vale um detalhe:

    Não se pode colocar pronome átono depois da vírgula.

    Acolhe-te quando vens , te deixa ir quando partes’

    Bons Estudos!!

  • Poderia ser substituído por 'mas'.

  • ERRADO!

    ‘Acolhe-te quando vens e te deixa ir quando partes’

    Vejo dois motivos para o erro:

    1) Há duas orações unidas por conjunção coordenativa ADITIVA 'E', haveria sim prejuízo quanto ao sentido;

    2) Não há como começar uma oração utilizando pronome oblíquo átono. Portanto, haveria sim prejuízo para a correção gramatical.

    ESPERO TER AJUDADO.

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  • REVISAR!

  • ponto e vírgula é usada para enumeração longa.

  • hummm

    um detalhe que não perceberam.

    ambos os verbos se referem ao termo "justiça".

    ate onde recordo orações coordenadas com sindeto "E".

    não se separa por virgula / ponto e virgula orações com mesmo sujeito.

    há tambem a situação da proclise.

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