SóProvas


ID
570013
Banca
FCC
Órgão
BACEN
Ano
2006
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                   O segredo da acumulação primitiva neoliberal         

          Numa coluna publicada na Folha de São Paulo, o jornalista Elio Gaspari evocava o drama recente de um navio de crianças escravas errando ao largo da costa do Benin. Ao ler o texto – que era inspirado , o navio tornava-se uma metáfora de toda a África subsaariana: ilha à deriva, mistura de leprosário com campo de extermínio e reserva de mão-de-obra para migrações desesperadas.

           Elio Gaspari propunha um termo para designar esse povo móvel e desesperado: “os cidadãos descartáveis”. “Massas de homens e mulheres são arrancados de seus meios de subsistência e jogados no mercado de trabalho como proletários livres, desprotegidos e sem direitos.” São palavras de Marx, quando ele descreve a “acumulação primitiva”, ou seja, o processo que, no século XVI, criou as condições necessárias ao surgimento do capitalismo.

          Para que ganhássemos nosso mundo moderno, foi necessário, por exemplo, que os servos feudais fossem, à força, expropriados do pedacinho de terra que podiam cultivar para sustentar-se. Massas inteiras se encontraram, assim, paradoxalmente livres da servidão, mas obrigadas a vender seu trabalho para sobreviver

          Quatro ou cinco séculos mais tarde, essa violência não deveria ter acabado? Ao que parece, o século XX pediu uma espécie de segunda rodada, um ajuste: a criação de sujeitos descartáveis globais para um capitalismo enfim global.

          Simples continuação ou repetição? Talvez haja uma diferença – pequena, mas substancial – entre as massas do século XVI e os migrantes da globalização: as primeiras foram arrancadas de seus meios de subsistência, os segundos são expropriados de seu lugar pela violência da fome, por exemplo, mas quase sempre eles recebem em troca um devaneio. O protótipo poderia ser o prospecto que, um século atrás, seduzia os emigrantes europeus: sonhos de posse, de bem-estar e de ascensão social.

          As condições para que o capitalismo invente sua versão neoliberal são subjetivas. A expropriação que torna essa passagem possível é psicológica: necessita que sejamos arrancados nem tanto de nossos meios de subsistência, mas de nossa comunidade restrita, familiar e social, para sermos lançados numa procura infinita de status (e, hipoteticamente, de bem-estar) definido pelo acesso a bens e serviços. Arrancados de nós mesmos, deveremos querer ardentemente ser algo além do que somos.

          Depois da liberdade de vender nossa força de trabalho, a “acumulação primitiva” do  neoliberalismo nos oferece a liberdade de mudar e subir na vida, ou seja, de cultivar visões, sonhos e devaneios de aventura e sucesso. E, desde o prospecto do emigrante, a oferta vem se aprimorando. A partir dos anos 60, a televisão forneceu os sonhos para que o campo não só
devesse, mas quisesse, ir para a cidade.

          O requisito para que a máquina neoliberal funcione é mais refinado do que a venda dos mesmos sabonetes ou filmes para todos. Trata-se de alimentar um sonho infinito de perfectibilidade
e, portanto, uma insatisfação radical. Não é pouca coisa: é necessário promover e vender objetos e serviços por eles serem indispensáveis para alcançarmos nossos ideais de status, de bem-estar e de felicidade, mas, ao mesmo tempo, é preciso que toda satisfação conclusiva permaneça impossível.

          Para fomentar o sujeito neoliberal, o que importa não é lhe vender mais uma roupa, uma cortina ou uma lipoaspiração; é alimentar nele sonhos de elegância perfeita, casa perfeita e corpo perfeito. Pois esses sonhos perpetuam o sentimento de nossa inadequação e garantem, assim, que ele seja parte inalterável, definidora, da personalidade contemporânea.

          Melhor deixar como está. No entanto, a coisa não fica bem. Do meu pequeno observatório psicanalítico, parece que o permanente sentimento de inadequação faz do sujeito neoliberal
uma espécie de sonhador descartável, que corre atrás da miragem de sua felicidade como um trem descontrolado, sem condutor, acelerando progressivamente por inércia – até que os
trilhos não agüentem mais.

(Contardo Calligaris, Terra de ninguém. São Paulo: Publifolha, 2002)


Sonhos não faltam; há sonhos dentro de nós e por toda parte, razão pela qual a estratégia neoliberal convoca esses sonhos, atribui a esses sonhos um valor incomensurável, sabendo que nunca realizaremos esses sonhos.

Evitam-se as viciosas repetições dos elementos sublinhados na frase acima substituindo-os, na ordem dada, por:

Alternativas
Comentários
  • O pronome lhe é usado para pessoa e não para objetos e é objeto indireto. creio que esta questão está errada

  • Há sonhos ...
    Verbo haver no sentido de existir é impessoal e o que lhe segue é OBJETO DIRETO.
    Pronome Oblíquo Átono usado para OBJETO DIRETO --> o, os, a, as
    Não se inicia período com P.O.A (Pronome Oblíquo Átono)
    Há-os

    ...a estratégia neoliberal convoca esses sonhos,
    Convocar: verbo transitivo direto.
    Pronome Oblíquo Átono usado para OBJETO DIRETO --> o, os, a, as
    os convoca

    atribui a esses sonhos um valor incomensurável,
    Atribuir: VTDI
    Atribuir algo[um valor incomensurável] a alguma coisa [esses sonhos]
    Pronome Oblíquo Átono usado para OBJETO INDIRETO --> lhe, lhes
    Não se inicia período com P.O.A
    atribui-lhes

    sabendo que nunca realizaremos esses sonhos.
    Realizar: VTD
    Pronome Oblíquo Átono usado para OBJETO DIRETO --> o, os, a, as
    NUNCA: Palavra invariável atrai o P.O.A
    os realizaremos

    Letra e)
  • Realmente os gramáticos falam que "lhe" só é usado para pessoa.
    Mas se o pronome "lhe" é só para pessoa, como ficaria então?

    atribui...?

    Se levarmos isso em conta erraremos muitas questões de concurso.

    Aguardo alguém que saiba explicar melhor que eu.
    ;-)
  • O pronome 'lhe' não é usado somente para pessoas, mas para campo semântico de pessoa, podendo incluir no conceito também objetos.
    Infelizmente não tenho nenhum exemplo para demonstrar a diferença, mas vou providenciar. De qualquer maneira a dica para diferenciar o que é e o que não é campo semântico de pessoa é verificar se o termo em questão responde a pergunta 'a quem?' (campo semântico de pessoa) e 'a que' (não é campo semântico de pessoa).
  • "a estratégia neoliberal convoca esses sonhos"
    Pq "os convoca", existe alguma apartícula atrativa????
  • PRONOME LHE(S) EMPREGADO PARA PESSOAS
    também aprendi na tenra idade esta falácia...mas o correto é:
    Pronome pessoal do caso oblíquo é aquele que, na sentença, exerce a função de complemento verbal, ou seja, objeto direto ou objeto indireto
    As formas oblíquas o, a, os, as devem ser empregadas como complemento de verbos transitivos diretos...
    Ex:   José convidou      Maria     para o baile
                        V.T.D.         Obj Dir
    convidar é Verbo Transitivo Direto
               José convidou-a      para o baile         
                                      Obj Dir
     O "a" representa Maria da primeira oração portanto este "a" é objeto direto
    As formas oblíquas LHE, LHES, devem ser empregados como complemento de verbos transitivos INDIRETOS
    Ex:
        O filho obedece    ao pai                    obedecer é verbo transitivo indireto
                        V.T.I.        Obj Ind
       O filho obedece-lhe                         O "lhe" representa "ao pai" da primeira oração portanto é objeto indireto
                                 Obj Ind
    O que na prática acontece é que a maiorida dos verbos bitransitivos (aqueles verbos que ao mesmo tempo são transitivos diretos e indiretos)
    são V.T.D para coisas e V.T.I. para pessoas, vejam:
    Verbo entregar: quem entrega, entrega ALGO                             Verbo agradecer: quem agradece, agradece ALGO
                                                                           A ALGUÉM                                                                                                      A ALGUÉM
    Verbo pedir: quem pede, pede ALGO
                                                             A ALGUÉM
    percebam, se é obrigatório o uso do pronome obliquo LHE na substituição do Objeto Indireto e na maioria das vezes o Obj Ind é uma pessoa, na nossa tenra idade a Professora em vez de nos ensinar a regra correta SIMPLIFICAVA TUDO DIZENDO      "O LHE É PARA PESSOA...." sabendo disso a CESPE a FCC a ESAF sempre colocam uma questão dessa.
    Lembro ainda que as formas oblíquas ME, TE, NOS, VOS tanto podem ser Obj Diretos quanto Obj Indiretos.
    Ex: Entregou-me        o pacote                                           Deixe-me                 DEIXAR É V.T.D
                          Obj Ind      Obj Dir                                                     Obj Dir
       
         Entregou-me       para a polícia                                   Obedeca-me              OBEDEDECER É V.T.I
                         Obj Dir      Obj Ind                                                          Obj Ind
    Fonte: Curso Prático de Gramática, autor Ernani Terra. 5ª edição, 2011. pg 152.
              e   Prof Aguinaldo da rede LFG.

  • O pronome LHE só substitui Obj Ind que se inicia com a preposição 'A' ou 'PARA'

    Mandei flores para Radegondes
    Mandei-lhe flores                                          tambem poderia escrever: Mandei-as para Radegondes  ou ainda     Mandei-lhas  (lhe+as)

    Obs:
    abaixo alguns verbos ( os que mais vemos nos concursos) QUE NÃO ADMITEM O PRONOME LHE. 

    Assisti ao filme-------------------assisti a ele      ( no sentido de ver é V.T.I.)
    Visei ao cargo---------------------visei a ele         ( no sentido de desejar é V.T.I.)
    Aspirei ao cargo------------------aspirei a ele     ( no sentido de desejar é V.T.I.)
    Obedeci ao regulamento------obedeci a ele   ( referindo-se a coisa não admite o lhe)

  • Pessoal, também não entendi o motivo da próclise em "os convoca". Se alguém souber explicar, mande-me um recado, por favor...
  • Sonhos não faltam; há sonhos dentro de nós e por toda parte, razão pela qual a estratégia neoliberal convoca esses sonhos,

    Sujeito: A estrátegia neoliberal


    A próclise é FACULTATIVA quando o sujeito vier expresso e o verbo não iniciar a oração
  • Alguém poderia me ajudar a compreender o porquê da substituição do complemento verbal de "realizaremos" por  "os" esta correta, visto que  a regra diz que os complementos dos verbos terminados em r, s ou z, devem ser substituídos por "lo, la (s)"???
  • Ferdinando é muito simples, o pronome nunca atrai o pronome átono caso obrigatório de próclise ( pronome antes do vebo). Logo não podemos colocar : nunca lo realizaremos. 
    ( ficaria bem esquisito, você concorda? deste modo o correto é trazer o pronome átono para antes do verbo ) 
    NUNCA OS REALIZAREMOS.
  • Essa é difícil viu... os convoca tem atrativo...
    "Há-os" posso estar desatualizado mas nunca vi esta expressão...
    Acho melhor anular a questão..
  • O mais correto seria atribui a ele, visto que se refere a algo! o mesmo raciocínio do verbo obedecer.
  • Sonhos não faltam; há sonhos dentro de nós e por toda parte, razão pela qual a estratégia neoliberal convoca esses sonhos, atribui a esses sonhos um valor incomensurável, sabendo que nunca realizaremos esses sonhos
    há-os - os convoca - atribui-lhes - os realizaremos

    vamos analisar:
    -há-os. caiu no desuso, porem esta correto...de modo que nao se pode usar próclise depois de virgula. no caso os ha estaria errado.
    -os convoca. certo...posso estar enganado..mas aqui temos um caso de proclise, pois esses é pronome demonstrativo, e pronome demosntrativos pedem próclise
    -atribui-lhes.certo..verbo inicia oração e ha virgula antes do verbo....no caso nao pode haver próclise...mas de acordo com o comentário da amiga acima, eu tambem acho q seria mais apropriado atribui a eles.enfim...
    -os realizaremos.certo...como ja dito antes...nunca é palavra com sentido negativo...nesse caso pede obrigatoriamente próclise
  • O Pronome Oblíquo Átono -lhe, -lhes, são usados em objeto indireto ou adjunto adnominal sendo:

    -lhe, lhes = A ELE = OI
    -lhe, -lhes = DELE = ADJ ADNOMINAL

    e não apenas para pessoa.

    Rodrigo
  • No cursinho que fiz a minha prof falou que so o CESPE
    considera lhe para pessoas, as outras bancas o lhe
    pode ser para pessoas ou objetos.
  •  Michele R. e Ludmilla:


    DICAS PARA ATRAÇÃO DOS PRONOMES:

    NARIS-D

    N- negativas: não,nunca,jamais ninguém...
    A- adverbios: hoje,amanhã,sempre...
    R-relativas: que ,qual ,cujo...
    I-Indefinidos: tudo, nada,nenhum...
    S- Sujeito ou subordinadas
    D- demonstrativos: estes,aqueles,....

    a estratégia neoliberal convoca esses sonhos....
    a estratégia neoliberal: sujeito
    Convocar: verbo transitivo direto.
    Pronome Oblíquo Átono usado para OBJETO DIRETO --> o, os, a, as
    os convoca
  • A FCC aceita LHE para pessoas e objetos!

    Já ouvi falar que Cespe também aceita assim, mas não tenho certeza.
  • Comentado por Ferdinando há 2 meses.
    Alguém poderia me ajudar a compreender o porquê da substituição do complemento verbal de "realizaremos" por  "os" esta correta, visto que  a regra diz que os complementos dos verbos terminados em r, s ou z, devem ser substituídos por "lo, la (s)"???

    ================================

    Isso é um erro clássico! O perigo é decorar sem entender!
    Veja:
    "sabendo que nunca realizaremos esses sonhos. "
    "esses sonhos" é OD -> então iremos usar O,A,OS,AS.
    é masculino plural -> usaremos "OS". O pronome é o "OS" e não "LOS" (ou LA/LO/LAS/LOS) !!!
    Se vc utilizá-lo antes, use "OS"; depois, existe a regra do R,S,Z e vc acrescenta "L" ao pronome!



     
  • Sempre analisar o verbo!!!

    LHE = função fixa para objeto indireto
    O(s) / A (s) = função fixa para objeto direto

    Lembrando que a ênclise NUNCA pode ser usada para o futuro.
  • Muito bem observado pelo colega Mateus. Trago mais algumas informações:

    ASPIRAR

    O verbo aspirar pode ser transitivo direto ou transitivo indireto.

    Transitivo direto: quando significa “sorver”, “tragar”, “inspirar” e exige complemento sem preposição.

    - Ela aspirou o aroma das flores.
    - Todos nós gostamos de aspirar o ar do campo.

    Transitivo indireto: quando significa “pretender”, “desejar”, “almejar” e exige complemento com a preposição “a”.

    - O candidato aspirava a uma posição de destaque.
    - Ela sempre aspirou a esse emprego.

    Obs: Quando é transitivo indireto não admite a substituição pelos pronomes lhe(s). Devemos substituir por “a ele(s)”, “a ela(s)”.

    - Aspiras a este cargo?
    - Sim, aspiro a ele. (e não “aspiro-lhe”).

    ASSISTIR

    O verbo assistir pode ser transitivo indireto, transitivo direto e intransitivo.

    Transitivo indireto: quando significa “ver”, “presenciar”, “caber”, “pertencer” e exige complemento com a preposição “a”.

    - Assisti a um filme. (ver)
    - Ele assistiu ao jogo.
    - Este direito assiste aos alunos. (caber)

    Transitivo direto: quando significa “socorrer”, “ajudar” e exige complemento sem preposição.

    - O médico assiste o ferido. (cuida)

    Obs: Nesse caso o verbo “assistir” pode ser usado com a preposição “a”.

    - Assistir ao paciente.

    Intransitivo: quando significa “morar” exige a preposição “em”.

    - O papa assiste no Vaticano. (no: em + o)
    - Eu assisto no Rio de Janeiro.

    “No Vaticano” e “no Rio de Janeiro” são adjuntos adverbiais de lugar.



    VISAR

    Pode ser transitivo direto (sem preposição) ou transitivo indireto (com preposição).
    Quando significa “dar visto” e “mirar” é transitivo direto.

    - O funcionário já visou todos os cheques. (dar visto)
    - O arqueiro visou o alvo e atirou. (mirar)

    Quando significa “desejar”, “almejar”, “pretender”, “ter em vista” é transitivo indireto e exige a preposição “a”.

    - Muitos visavam ao cargo.
    - Ele visa ao poder.

    Nesse caso não admite o pronome lhe(s) e deverá ser substituído por a ele(s), a ela(s). Ou seja, não se diz: viso-lhe.

    Obs: Quando o verbo “visar” é seguido por um infinitivo, a preposição é geralmente omitida.

    - Ele visava atingir o posto de comando.

    Fonte: Infoescola

  • o pronome oblíquo "lhes" se refere apenas as pessoas? entao como pode a e estar certa? atribui-lhes
  • Atribui VTDI. Quem atribui, atribui algo a alguém.
    A estratégia neoliberal é que atribui aos sonhos (lhes) um valor. Pense na estratégia liberal como um conjunto que represente algou ou um ser. Adicione esta exceção a regra de pessoas.

    Pelo Houaiss atribuir é  bitransitivo
    1 conceder alguma coisa a alguém com caráter de prerrogativa; dar, conferir
    Ex.: a lei atribui-lhe poderes especiais 
     transitivo direto e bitransitivo
    2 considerar (alguém ou algo) causador, autor ou possuidor de (algo); imputar
    Exs.: atribuem-lhe defeitos que não tem
     atribuíram ao mau tempo o atraso do avião 
     bitransitivo
    3 incumbir (alguém) de (algo)
    Ex.: a. certa tarefa a um auxiliar 
     pronominal
    4 tomar para si; arrogar-se, reivindicar
    Ex.: atribui-se direitos que não tem 
  • lhe(s), vos – Não alteram a forma verbal.
    Ex.: Confiamos-lhes nossos segredos.
    Apresentamos-vos as metas da empresa.

    þ Observação:
    LHE (S) “VERBO (A); PESSOA”
    Ex.: Obedeço ao chefe. [Obedeço-lhe]

    LHE (S) “=DELE(A)(S)”
    Ex.: Roubaram-lhe o livro.
    [Roubaram o livro dele(a).]
  • Gabarito: E