SóProvas


ID
72697
Banca
FCC
Órgão
TRT - 4ª REGIÃO (RS)
Ano
2006
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

As crônicas de Rubem Braga



Décadas atrás, afortunados leitores de jornal podiam
contar com uma coluna em que sobravam talento, reflexão,
observação atenta das cenas da vida, tudo numa linguagem
límpida, impecável, densamente poética e reflexiva. Era uma
crônica de Rubem Braga. Os chamados "assuntos menores",
que nem notícia costumam ser, ganhavam na pena do cronista
uma grandeza insuspeitada. Falasse ele de um leiteiro, de um
passarinho, de um pé de milho, de um casal na praia, de uma
empregada doméstica esperando alguém num portão de
subúrbio ? tudo de repente se tornava essencial e vivo, mais
importante que a escandalosa manchete do dia. É o que
costumam fazer os grandes artistas: revelam toda a carga de
humanidade oculta que há na matéria cotidiana pela qual
costumamos passar desatentos.



Rubem Braga praticamente só escreveu crônicas, como
profissional. À primeira vista, espanta que seja considerado um
dos grandes escritores brasileiros dedicando-se tão-somente a
um gênero considerado "menor": a crônica sempre esteve longe
de ter o prestígio dos romances ou dos contos, da poesia ou do
teatro. Mas o nosso cronista acabou por elevá-la a um posto de
dignidade tal que ninguém se atreverá de chamar seus textos
de "páginas circunstanciais". Tanto não o foram que estão todas
recolhidas em livros, driblando o destino comum do papel de
jornal. Recusaram-se a ser um entretenimento passageiro:
resistem a tantas leituras quantas se façam delas, reeditam-se,
são lidas, comentadas, não importando o dia em que foram
escritas ou publicadas.



Conheci Rubem Braga já velho, cansado, algo
impaciente e melancólico, falando laconicamente a estudantes
de faculdade. Parecia desinteressado da opinião alheia,
naquele evento organizado por uma grande empresa, a que
comparecera apenas por força de contrato profissional.
Respondia monossilabicamente às perguntas, com um olhar
distante, às vezes consultando o relógio. Não sabíamos, mas já
estava gravemente doente. Fosse como fosse, a admiração que
os jovens mostravam pelo velho urso pouco lhe dizia, era



evidente que preferiria estar em outro lugar, talvez sozinho,
talvez numa janela, ou na rede do quintal de seu apartamento
(sim, seu apartamento de cobertura tinha um quintal aéreo,
povoado de pássaros e plantas), recolhendo suas últimas
observações, remoendo seus antigos segredos. Era como se
nos dissesse: "Não me perguntem mais nada, estou cansado,
tudo o que me importou na vida já escrevi, me deixem em paz,
meninos."



E teria razão. O leitor que percorrer crônicas do velho
Braga saberá que ele não precisaria mesmo dizer nada além do
que já disse e continua dizendo em suas páginas mágicas,
meditadas, incapazes de passar por cima da poesia da vida.



(Manuel Régio Assunção)

As normas de concordância verbal e nominal estão ple- namente atendidas na frase:

Alternativas
Comentários
  • Na minha opinião o gabarito correto é a letra B pois entendo que o "reservam-se" da letra A é VTDeI (o correto ficaria "reservam-se os artistas AO direito ..."), da forma atual o verbo está com dois OD. Solicito a opinião dos colegas.
  • Na minha opinião tb é a letra B.Se alguém souber explicar o motivo de a resposta ser a letra A, nós que marcamos a letra B agradecemos...
  • O verbo reservar, no sentido de atribuir, tem bitransitividade. O que acontece na alternativa A é que o verbo reservar ainda tem o sentido REFLEXO. Nesse caso, o sujeito da oração (os artistas) são os mesmos que recebem o benefício da ação verbal (reservar). É como se estivesse escrito: Os artitas reservam para si o direito..... fica mais fácil de encontrar os dois Objetos. Então, o "se" me parece estar funcionando como Objeto Indireto e o direito como OD, evidenciando a bitransitividade dele.Já a opção B, devemos pergunar ao verbo alçar, quem será ou quem poderia ser alçada à altura dos grandes gêneros? Como respostas teria-se: A Crônica. Assim, Não se reconhecia na crônica...quaisquer méritos que pudesse alçá-la à ....o sujeito da locução verbal é a crônica e não quaisquer méritos...Aceito opiniões contrárias....
  • Normalmente o verbo reservar é vtdi, ou seja, alguém reserva algo a alguém, mas na questão verbo está sendo usado para expressar uma ação reflexa,que recai sobre o próprio sujeito os artistas, portando, está correta, pois, os artistas reservam a si próprios o direito de escolherem..., a questão b está errada, vejamos, o que não era reconhecido nas crônicas??? quaisquer méritos, portando o verbo deve ir pra o plural para concordar com o sujeito, não se reconheciam quaisquer mérito .... na crônica.... E na crônica não é sujeito, mas adjunto dadverbial de lugar.
  • Concordo com os colegas sobre a transitividade do verbo e a partícula reflexiva se, mas deve se ressaltar que o verbo reservar em sua bitransitividade exige um OD e um OI. Na questão não há preposição o que indica ausência do OI. Pois que reserva, reserva algo a alguém. No caso o direito AOS artistas e não os artistas.Fica aí a ressalva.
  • Comentário objetivo:

    Na ordem direta, a frase da alternativa A ficaria:

    "Os artistas reservam-se o direito..." O verbo é pronominal, RESERVAR-SE, o SE é parte integrante do verbo.


    •  b) Não se reconhecia RECONHECIAM na crônica, antes de Rubem Braga, quaisquer méritos que pudessem alçá-la à altura dos chamados grandes gêneros literários. (Não se reconheciam quaisquer....)
    •  c) Não cabem CABE aos críticos ou aos historiadores da literatura estipular se o gênero de uma ou outra obra é maior ou menor em si mesmos. (Não cabe estipular...)
    •  d) Uma vez submetido ao poder de sedução de seu estilo admirável, é possível que custassem CUSTASSE aos leitores de Rubem Braga ficar aguardando a crônica seguinte. (é possível que aos leitores de Rubem Braga custasse ficar aguardando..)
    •  e) Não lhe bastassem BASTASSE, além do estilo límpido, ter os olhos de um grande fotógrafo, Rubem Braga ainda freqüentava as alturas da poesia lírica. (Não bastasse a Rubem Braga ter os olhos...)
  • Estranha essa questão... 
    Há uma regra que diz que se o verbo no infinitivo é regido por preposição completando substantivos, adjetivos ou verbos, ele não pode flexionar (vide explicações sobre concordância do infinitivo - pessoal e impessoal).

    O certo, então, seria: o direito de ESCOLHER.

  • na letra b o "nao se reconhecia/reconheciam........quaisquer direitos    portanto a b está incntestavélmente errada