SóProvas


ID
739876
Banca
CEPERJ
Órgão
PROCON-RJ
Ano
2012
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

TEXTO 1:

                                      O LENDÁRIO PAÍS DO RECALL

                                                                                                         Moacyr Scliar

     “MINHA QUERIDA DONA: quem lhe escreve sou eu, a sua fiel e querida boneca, que você não vê há três meses. Sei que você sente muitas saudades, porque eu também sinto saudades de você. Lembro de você me pegando no colo, me chamando de filhinha, me dando papinha... Você era, e é, minha mãezinha querida, e é por isso que estou lhe mandando esta carta, por meio do cara que assina esta coluna e que, sendo escritor, acredita nas coisas da imaginação.

      Posso lhe dizer, querida, que vivi uma tremenda aventura, uma aventura que em vários momentos me deixou apavorada. Porque tive de viajar para o distante país do recall.

      Aposto que você nem sabia da existência desse lugar; eu, pelo menos, não sabia. Para lá fui enviada. Não só eu: bonecas defeituosas, ursinhos idem, eletrodomésticos que não funcionavam e peças de automóvel quebradas. Nós todos ali, na traseira de um gigantesco caminhão que andava, andava sem parar.

      Finalmente chegamos, e ali estávamos, no misterioso e, para mim, assustador país do recall. Um homem nos recebeu e anunciou, muito secamente, que o nosso destino em breve seria traçado: as bonecas (e os ursinhos, e outros brinquedos, e objetos vários) que tivessem conserto seriam consertados e mandados de volta para os donos; quanto tempo isso levaria era imprevisível, mas três meses era o mínimo. Uma boneca que estava do meu lado, a Liloca, perguntou, com os olhos arregalados, o que aconteceria a quem não tivesse conserto. O homem não disse nada, mas seu sorriso sinistro falava por si.

      Passamos a noite num enorme pavilhão destinado especialmente às bonecas. Éramos centenas ali, algumas com probleminhas pequenos (um braço fora do lugar, por exemplo), outras já num estado lamentável. Estava muito claro que para várias de nós não haveria volta.

      Naquela noite conversei muito com minha amiga Liloca -sim, querida dona, àquela altura já éramos amigas. O infortúnio tinha nos unido. Outras bonecas juntaram-se a nós e logo formamos um grande grupo. Estávamos preocupadas com o que poderia nos suceder.

      De repente a Liloca gritou: “Mas, gente, nós não somos obrigados a aceitar isso! Vamos fazer alguma coisa!”. Nós a olhamos, espantadas: fazer alguma coisa? Mas fazer o quê?

      Liloca tinha uma resposta: vamos tomar o poder. Vamos nos apossar do país do recall.

      No começo, aquilo nos pareceu absurdo. Mas Liloca sabia do que estava falando. A mãe da dona dela tinha sido uma militante revolucionária e sempre falava nisso, na necessidade de mudar o mundo, de dar o poder aos mais fracos.

      Ora, dizia Liloca, ninguém mais fraco do que nós, pobres, desamparados e defeituosos brinquedos. Não deveríamos aguardar resignadamente que decidissem o que fazer com a gente.

      De modo, querida dona, que estamos aqui preparando a revolução. Breve estaremos governando o país do recall. Mas não se preocupe, eu a convidarei para uma visita. Você poderá vir a qualquer hora. E não precisará de recall para isso.”

                                                                                                              Folha de S. Paulo (SP) 25/2/2008



“a sua fiel e querida boneca, que você não vê há três meses” No exemplo acima, o vocábulo “que” substitui um termo antecedente (“boneca”) e é classificado, por isso, como pronome relativo.

Outro exemplo no qual o vocábulo “que” funciona como pronome relativo está em:

Alternativas
Comentários


  • Fiquei em dúvida em relação a classificação da letra D. Penso que seja um conjunção comparativa. Alguém pode, por favor, confirmar minha suspeita???

  • Demais classificações:

                a) “Sei que você sente muitas saudades” - conjunção integrante.

                b) “Aposto que você nem sabia” - conjunção integrante.

                c) “eletrodomésticos que não funcionavam” - pronome relativo, retoma "eletrodomésticos"

                d) “ninguém mais fraco do que nós” - conjunção comparativa

                e) “Não deveríamos aguardar resignadamente que decidissem" - conjunção integrante

  •  a) “Sei que você sente muitas saudades”
    "Que" é conjunção Integrante. E não há muita dificuldade para se perceber isso. Para saber se o “que” trata-se de uma conjunção integrante, basta analisar alguns detalhes:
    1°) Veja se antes do “que” vem um substantivo, ou adjetivo, ou advérbio, ou um pronome ou até mesmo uma oração. Antes do “que” temos o verbo “sei”, o que já não faz muito sentido classificá-lo como Pronome Relativo.
    2°) Veja se ao tirar o “que” da oração ela ficará estranha. Ficaria muito estranho pronunciar: “Sei você sente muitas saudades”. E é esse o papel do que na oração. É dar sentido a ela, ligando-as. A conjunção Integrante tem o papel de ligar duas orações, melhor dizendo, ligar a oração subordinada à principal. 
    Veja:
    Sei (1ª oração)... você sente muita saudade (2ª oração).  = Sei que você sente muita saudade.
     b) “Aposto que você nem sabia”
    A mesma coisa da letra a).
    Analise: o que é antecedido por substantivo? Não.
    Liga duas orações? Sim.

    Logo, também é Conjunção Integrante.
     c) “eletrodomésticos que não funcionavam” Correta
    Pronome Relativo
    O antecedente do pronome relativo pode ser um substantivo, um pronome, um adjetivo, um advérbio ou uma oração. Nesse caso, o “que” é antecedido pelo substantivo “eletrodomésticos”. E é fácil perceber que ele se refere a ele.
    Veja:
    Os eletrodomésticos. Não funcionavam os eletrodomésticos = os eletrodomésticos que não funcionavam. 
    O que limita a repetição da palavra “eletrodoméstico”, dando a noção clara de que ele se refere a ele, sem ter a necessidade de repeti-lo.
     d) “ninguém mais fraco do que nós”
    Aqui temos um caso de Conjunção Comparativa. Nesse caso, ela está representando o segundo elemento da comparação (=nós). Essa frase compara que “ninguém” é mais fraco do que “nós”.
     e) “Não deveríamos aguardar resignadamente que decidissem”
    Idem A e B. 
  • Bem, pessoal, para mim a maneira mais fácil de resolver essa questão é também a mais conhecida, ou seja: substituir o que por o qual, a qual, os quais ou as quais. Se a frase preservar o sentido, então o que estará exercendo a função de pronome relativo.

    “eletrodomésticos que (os quais) não funcionavam”

    Em nenhuma outra alternativa a substituição é possível.

    Valeu!
  • Olá pessoal, uma dica que acho interessante nesses casos é ,em primeiro lugar, substituir o pronome "QUE"  por: ISSO ou DISSO; sempre que a frase mantiver o sentido o "QUE" será uma conjunção integrante, assim será mais fácil chegar á resposta certa, porém, sem esquecer que este método não é 100% aplicável, por isso é sempre bom prestar bem a
    atenção aos comentários dos outros colegas. espero ter ajudado.


    Bons estudos!!!