SóProvas


ID
80725
Banca
FCC
Órgão
TRE-AM
Ano
2010
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Entre a cruz e a caldeirinha

"Quantas divisões tem o Papa?", teria dito Stalin quando
alguém lhe sugeriu que talvez valesse a pena ser mais tolerante
com os católicos soviéticos, a fim de ganhar a simpatia de Pio
XI. Efetivamente, além de um punhado de multicoloridos
guardas suíços, o poder papal não é palpável. Ainda assim, como
bem observa o escritor Elias Canetti, "perto da Igreja, todos
os poderosos do mundo parecem diletantes".

Há estatísticas controvertidas sobre esse poder eclesiástico.
Ao mesmo tempo que uma pesquisa da Fundação Getúlio
Vargas indica que, a cada geração, cai o número de católicos
no Brasil, outra, da mesma instituição, revela que, para os
brasileiros, a única instituição democrática que funciona é a
Igreja Católica, com créditos muito superiores aos dados à
classe política. Daí os sentimentos mistos que acompanharam a
visita do papa Bento XVI ao Brasil.

"O Brasil é estratégico para a Igreja Católica. Está sendo
preparada uma Concordata entre o Vaticano e o nosso país.
Nela, todo o relacionamento entre as duas formas de poder
(religioso e civil) será revisado. Tudo o que depender da Igreja
será feito no sentido de conseguir concessões vantajosas para
o seu pastoreio, inclusive com repercussões no direito comum
interno ao Brasil (pesquisas com células-tronco, por exemplo,
aborto, e outras questões árduas)", avalia o filósofo Roberto
Romano. E prossegue: "Não são incomuns atos religiosos que
são usados para fins políticos ou diplomáticos da Igreja. Quem
olha o Cristo Redentor, no Rio, dificilmente saberá que a
estátua significa a consagração do Brasil à soberania espiritual
da Igreja, algo que corresponde à política eclesiástica de
denúncia do laicismo, do modernismo e da democracia liberal.

A educadora da USP Roseli Fischman, no artigo "Ameaça
ao Estado laico", avisa que a Concordata poderá incluir o retorno
do ensino religioso às escolas públicas. "O súbito chamamento
do MEC para tratar do ensino religioso tem repercussão
quanto à violação de direitos, em particular de minorias religiosas
e dos que têm praticado todas as formas de consciência e
crença neste país, desde a República", acredita a pesquisadora.
Por sua vez, o professor de Teologia da PUC-SP Luiz Felipe
Pondé responde assim àquela famosa pergunta de Stalin:
"Quem precisa de divisões tendo como exército a eternidade?"
(Adaptado de Carlos Haag, Pesquisa FAPESP n. 134, 2007)

Atente para as seguintes afirmações:

I. As frases de Stalin e de Elias Canetti, citadas no 1º parágrafo, revelam critérios e posições distintas na avaliação de uma mesma questão.

II. Na Concordata (referida no 3º parágrafo), a Igreja pretende valer-se de dispositivos constitucionais que lhe atribuem plena autonomia legislativa.

III. A educadora Roseli Fischman propõe (4ª parágrafo) que o ensino religioso privilegie, sob a gestão direta do MEC, minorias que professem outra fé que não a católica.

Em relação ao texto, está correto APENAS o que se afirma em

Alternativas
Comentários
  • I – CERTA."Quantas divisões tem o Papa?" e "perto da Igreja, todosos poderosos do mundo parecem diletantes", revelam posições antagônicas sobre o mesmo assunto. Para Stalin o poder estava relacionado ao tamanho das forças militares, enquanto que para Elias Canetti, esse suposto poder, não passa de amadorismo diante da soberania espiritual da Igreja.II – ERRADA. “Inclusive com repercussões no direito comum interno ao Brasil (pesquisas com células-tronco, por exemplo, aborto, e outras questões árduas)". Essa referência no 3º parágrafo sobre direito, está bem distante da plena autonomia legislativa atribuída à Igreja na alternativa.III – ERRADA.A preocupação da professora Roseli Fischman, quando diz que “o súbito chamamentodo MEC para tratar do ensino religioso tem repercussão quanto à violação de direitos, em particular de minorias religiosas e dos que têm praticado todas as formas de consciência ecrença neste país, desde a República", é justamente o contrário do que afirma a alternativa: propõe que o ensino religioso privilegie, sob a gestão direta do MEC, minorias que professem outra fé que não a católica.
  • Em relação ao item III, discordo do colega abaixo: III. A educadora Roseli Fischman PROPÕE (4ª parágrafo) que o ensino religioso privilegie, sob a gestão direta do MEC, minorias que professem outra fé que não a católica. ERRADA. A educadora, em sua fala, nada PROPÕE. Ela apenas ACREDITA que "O chamamento do MEC para tratar do ensino religioso violará direitos, em particular de minorias religiosas." Portanto, discordo da colocação do colega em relação a esse item(vício de extrapolação da interpretação do texto).

  • Quanto a observação da colega, parece que ela não leu meu comentário, pois não extrapolei nada. Eu não disse que a educadora Roseli Fischman propôs, mas sim a alternativa diz isso, tanto é que a considerei errada. Ademais, coloquei as palavras da referida educadora entre aspas.
  • A assertiva I está correta, pois a pergunta de Stalin denota que o Papa tem muitas divisões, ou seja, que seu poder é fragmentado, enquanto a observação de Canetti deixa claro que o poder da Igreja é maior que qualquer outro poder.

    Errada a assertiva II, porque, na Concordata, a Igreja Católica abrirá mão de determinados posicionamentos em favor de conseguir vantagens para o seu pastoreio. Observe-se o trecho do 3.º parágrafo: “O Brasil é estratégico para a Igreja Católica. Está sendo preparada uma Concordata entre o Vaticano e o nosso país. Nela, todo o relacionamento entre as duas formas de poder (religioso e civil) será revisado. Tudo o que depender da Igreja será feito no sentido de conseguir concessões vantajosas para o seu pastoreio, inclusive com repercussões no direito comum interno ao Brasil (pesquisas com células-tronco, por exemplo, aborto, e outras questões árduas)”.

    Errada a assertiva III, pois a implantação do ensino religioso nas escolas públicas violará direitos de minorias. Observe-se o trecho do 4.º parágrafo: “A educadora da USP Roseli Fischman, no artigo “Ameaça ao Estado laico”, avisa que a Concordata poderá incluir o retorno do ensino religioso às escolas públicas. “O súbito chamamento do MEC para tratar do ensino religioso tem repercussão quanto à violação de direitos, em particular de minorias religiosas e dos que têm praticado todas as formas de consciência e crença neste país, desde a República”, acredita a pesquisadora”.

    Resposta: A.