SóProvas


ID
81382
Banca
FCC
Órgão
TRE-AM
Ano
2010
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Entre a cruz e a caldeirinha

"Quantas divisões tem o Papa?", teria dito Stalin quando
alguém lhe sugeriu que talvez valesse a pena ser mais tolerante
com os católicos soviéticos, a fim de ganhar a simpatia de Pio
XI. Efetivamente, além de um punhado de multicoloridos
guardas suíços, o poder papal não é palpável. Ainda assim, como
bem observa o escritor Elias Canetti, "perto da Igreja, todos
os poderosos do mundo parecem diletantes".

Há estatísticas controvertidas sobre esse poder eclesiástico.
Ao mesmo tempo que uma pesquisa da Fundação Getúlio
Vargas indica que, a cada geração, cai o número de católicos
no Brasil, outra, da mesma instituição, revela que, para os
brasileiros, a única instituição democrática que funciona é a
Igreja Católica, com créditos muito superiores aos dados à
classe política. Daí os sentimentos mistos que acompanharam a
visita do papa Bento XVI ao Brasil.

"O Brasil é estratégico para a Igreja Católica. Está sendo
preparada uma Concordata entre o Vaticano e o nosso país.
Nela, todo o relacionamento entre as duas formas de poder
(religioso e civil) será revisado. Tudo o que depender da Igreja
será feito no sentido de conseguir concessões vantajosas para
o seu pastoreio, inclusive com repercussões no direito comum
interno ao Brasil (pesquisas com células-tronco, por exemplo,
aborto, e outras questões árduas)", avalia o filósofo Roberto
Romano. E prossegue: "Não são incomuns atos religiosos que
são usados para fins políticos ou diplomáticos da Igreja. Quem
olha o Cristo Redentor, no Rio, dificilmente saberá que a
estátua significa a consagração do Brasil à soberania espiritual
da Igreja, algo que corresponde à política eclesiástica de
denúncia do laicismo, do modernismo e da democracia liberal.

A educadora da USP Roseli Fischman, no artigo "Ameaça
ao Estado laico", avisa que a Concordata poderá incluir o retorno
do ensino religioso às escolas públicas. "O súbito chamamento
do MEC para tratar do ensino religioso tem repercussão
quanto à violação de direitos, em particular de minorias religiosas
e dos que têm praticado todas as formas de consciência e
crença neste país, desde a República", acredita a pesquisadora.
Por sua vez, o professor de Teologia da PUC-SP Luiz Felipe
Pondé responde assim àquela famosa pergunta de Stalin:
"Quem precisa de divisões tendo como exército a eternidade?"
(Adaptado de Carlos Haag, Pesquisa FAPESP n. 134, 2007)

A expressão "entre a cruz e a caldeirinha" indica uma opção muito difícil de se fazer. Justifica-se, assim, sua utilização como título de um texto que, tratando da atuação da Igreja, enfatiza a dificuldade de se considerar em separado

Alternativas
Comentários
  • Letra B."Não são incomuns atos religiosos quesão usados para fins políticos ou diplomáticos da Igreja. Quemolha o Cristo Redentor, no Rio, dificilmente saberá que aestátua significa a consagração do Brasil à soberania espiritualda Igreja, algo que corresponde à política eclesiástica dedenúncia do laicismo, do modernismo e da democracia liberal.
  • A utilização do título “Entre a cruz e a caldeirinha” enfatiza, sem dúvida, a contradição que há em se considerar em separado a instância do poder espiritual e o campo das posições políticas.

    Observe-se que o ensino laico e o religioso, assim como atividades comerciais e diplomáticas são apenas alguns aspectos da aproximação da Igreja Católica com o Brasil.

    Resposta: B.
  • A utilização do título “Entre a cruz e a caldeirinha” enfatiza, sem dúvida, a contradição que há em se considerar em separado a instância do poder espiritual e o campo das posições políticas.Observe-se que o ensino laico e o religioso, assim como atividades comerciais e diplomáticas são apenas alguns aspectos da aproximação da Igreja Católica com o Brasil.Resposta: B.
  • GABARITO: B

    Olá pessoal,

    – O texto ressalta a influência da Igreja nas áreas espiritual e religiosa, o que pode ser depreendido, sobretudo, da leitura do terceiro parágrafo. A preparação de uma “Concordata” – tratado diplomático público e solene que o Vaticano celebra com outro(s) Estado(s) para regular relações mútuas e matérias de interesse comum – pressupõe o interesse da Igreja na manutenção de sua influência. A avaliação do filósofo Roberto Romano corrobora a ideia de que é mesmo difícil separar o poder espiritual da Igreja das posições políticas. Segundo Romano, um ícone da influência eclesiástica na área política é o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro. Conforme avisa a educadora Roseli Fischman, a instituição do ensino religioso nas escolas públicas tem reflexos no direito alheio e pode ameaçar o “Estado laico”, uma característica política do país.

    Espero ter ajudado. Bons Estudos!!!