SóProvas


ID
834205
Banca
CESGRANRIO
Órgão
Innova
Ano
2012
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                             A vida de um homem normal

Uma noite, voltando de metrô para casa, como fazia cinco vezes por semana, onze meses por ano, ele ouviu uma voz. Estava exausto, com o nó da gravata frouxo no pescoço, o colarinho desabotoado, a cabeça jogada para trás, o walkman a todo o volume e os fones enterrados nos ouvidos. De repente, antes mesmo de poder perceber a interrupção, a música que vinha ouvindo cessou sem explicações e, ao cabo de um breve silêncio, no lugar dela surgiu uma voz que ele não sabia nem como, nem de quem, nem de onde. Ergueu a cabeça. Olhou para os lados, para os outros passageiros. Mas era só ele que a ouvia. Falava aos seus ouvidos. Recompôs-se. A voz lhe disse umas tantas coisas, que ele ouviu com atenção, que era justamente o que ela pedia. Poderia ter cutucado o vizinho de banco. Poderia ter saído do metrô e corrido até em casa para anunciar o fato extraordinário que acabara de acontecer. Poderia ter sido tomado por louco e internado num hospício. Poderia ter passado o resto da vida sob o efeito de tranquilizantes. Poderia ter perdido o emprego e os amigos. Poderia ter vivido à margem, isolado, abandonado pela família, tentando convencer o mundo do que a voz lhe dissera. Poderia não ter tido os filhos e os netos que acabou tendo. Poderia ter fundado uma seita. Poderia ter feito uma guerra. Poderia ter arregimentado seus seguidores entre os mais simples, os mais fracos e os mais idiotas. Poderia ter sido perseguido. Poderia ter sido preso. Poderia ter sido assassinado, crucificado, martirizado. Poderia vir a ser lembrado séculos depois, como líder, profeta ou fanático. Tudo por causa da voz. Mas entre os mandamentos que ela lhe anunciou naquela primeira noite em que voltava de metrô para casa, e que lhe repetiu ao longo de mais cinquenta e tantos anos em que voltou de metrô para casa, o mais peculiar foi que não a mencionasse a ninguém, em hipótese alguma. E, como ele a ouvia com atenção, ao longo desses cinquenta e tantos anos nunca disse nada a ninguém, nem à própria mulher quando chegou em casa da primeira vez, muito menos aos filhos quando chegaram à idade de saber as verdades do mundo. Acatou o que lhe dizia a voz. Continuou a ouvi-la todos os dias, sempre com atenção, mas para os outros era como se nunca a tivesse ouvido, que era o que ela lhe pedia. Morreu cinquenta e tantos anos depois de tê-la ouvido pela primeira vez, sem que ninguém nunca tenha sabido que a ouvia, e foi enterrado pelos filhos e netos, que choraram em torno do túmulo a morte de um homem normal. CARVALHO, Bernardo. A vida de um homem normal. In: Boa companhia: contos. São Paulo: Companhia das Letras, 2003, p. 11-12.

O emprego do pronome lhe respeita algumas regras sintáticas, conforme ocorreu no trecho abaixo, retirado do Texto I. “Poderia ter vivido à margem, isolado, abandonado pela família, tentando convencer o mundo do que a voz lhe dissera." (L. 22-24)
O pronome lhe está também empregado de acordo com a norma-padrão no seguinte período:

Alternativas
Comentários
  • Lembrar:


    Os verbos transitivos diretos tem como complemento as formas o, a, os, as, e os transitivos indiretos que regem a preposição “a” requerem as formas lhe ou lhes.

    Portanto..."quem devolve, devolve algo A ALGUÉM"...logo é transitivo indireto exigindo a forma "lhe".

    Letra C.

  • Letra C, quando aparecer o lhe troca por pra você, se não extrapolar é porque está certo. Posso devolver pra você o livro...

  • Em frases interrogativas, o uso da próclise é obrigatório.

     

    Não deveria ser "Posso lhe devolver o livro agora?"

     

    Pra mim, essa pergunta não tem resposta correta. QUESTÂO ANULADA.

     

     

  •  

       ANTES do verbo = PRÓCLISE

     


       DEPOIS do verbo = ÊNCLISE


        MEIO do verbo = MESÓCLISE

     

     

     

     

     

    CASOS DE PRÓCLISE OBRIGATÓRIA:

     

    Deve-se usar a Próclise diante dos seguintes atrativos:

    1.     Advérbios ou locuções adverbiais sem pausa (sem vírgula)

    2. Conjunção

    3. Palavra negativa

    4. Pronome indefinido

    5. Pronome interrogativo

    6. Pronome relativo

    -   Orações subordinadas

    -     Gerúndio precedido da preposição "EM"

     

     

    Q555516

    Gabarito (A), pois o NÃO é um advérbio e atrai o pronome (Próclise OBRIGATÓRIA)

    * Motivos das demais estarem ERRADAS:

    b) Daqui a vinte e cinco anos, ainda desejar-SE-á que o país progrida. (AINDA = modifica o verbo (ADVÉRBIO), então, PRÓCLISE OBRIGATÓRIA.)

    c) É necessário que encontrem-SE medidas urgentes para o combate à fome. (QUE - Conjunção SUBORDINATIVA, então, PRÓCLISE OBRIGATÓRIA.)

    d) ME surpreende que, no Brasil de hoje, a fome ainda mate. ( Jamais se inicia oração com PRONOME OBLÍQUO... OBS: PRÓCLISE - Só estará errada em INÍCIO DE ORAÇÃO)

    e) Até que dia desrepeitaremo-NOS tanto quanto hoje? ( ÊNCLISE INEXISTE em 1 - Particípio, 2 - Futuro do Presente, 3 - Futuro do Pretérito (do modo Indicativo)... "Desrespeitaremos" = Futuro do Presente

     

     

     

  • Em frases interrogativas, exclamativas e optativas a próclise é obrigatória!!

  • Bizu : O Pessoal oblíguo Àtono "Lhe" pode ser substituido pelo Pronome possesivo "Seu(s)"

  • Gabarito: Letra C.

    O Pronome LHE equivale a A ELE/ A ELA.

    Posso devolver-lhe [A ELE] o livro agora?

    O verbo devolver é V.T.D.I

    Quanto a colocação pronominal, precisamos saber de 06 coisas:

    • 3 PROÍBIÇÕES;
    • 1 REGRA;
    • 2 EXCEÇÕES.

    3 PROÍBIÇÕES:

    • Iniciar oração com pronome oblíquo átono;
    • Colocá-los após Futuros;
    • Colocá-los após Particípio.

    1 REGRA:

    • Palavra Invariável é palavra atrativa e atraí PRÓCLISE.

    2 EXCEÇÕES:

    • Com conjunção coordenativa - posso PRÓCLISE/ ÊNCLISE;
    • Com verbos no Infinitivo (-ar/-er/-ir) - posso PRÓCLISE/ ÊNCLISE. Ex.: Posso [LHE] devolver[-LHE] o livro agora?