- ID
- 952753
- Banca
- FCC
- Órgão
- DPE-RS
- Ano
- 2013
- Provas
-
- FCC - 2013 - DPE-RS - Analista - Administração
- FCC - 2013 - DPE-RS - Analista - Arquitetura
- FCC - 2013 - DPE-RS - Analista - Clínica Médica
- FCC - 2013 - DPE-RS - Analista - Comunicação Social
- FCC - 2013 - DPE-RS - Analista - Contabilidade
- FCC - 2013 - DPE-RS - Analista - Economia
- FCC - 2013 - DPE-RS - Analista - Enfermagem
- FCC - 2013 - DPE-RS - Analista - Engenharia Civil
- FCC - 2013 - DPE-RS - Analista - Engenharia Elétrica
- FCC - 2013 - DPE-RS - Analista - Informática
- FCC - 2013 - DPE-RS - Analista - Oftalmologia
- FCC - 2013 - DPE-RS - Analista - Psicologia
- FCC - 2013 - DPE-RS - Analista - Psiquiatria
- FCC - 2013 - DPE-RS - Médico cardiologista
- Disciplina
- Português
- Assuntos
Atenção: As questões de números 1 a 8 referem-se ao texto seguinte.
Vista cansada
Acho que foi Hemingway quem disse que olhava cada coisa à sua volta como se a visse pela última vez. Essa ideia de olhar pela última vez tem algo de deprimente. Olhar de despedida, de quem não crê que a vida continua, não admira que Hemingway tenha acabado como acabou. Fugiu enquanto pôde do desespero que o roía − e daquele tiro brutal que acabou dando em si mesmo.
Se eu morrer, morre comigo um certo modo de ver, disse o poeta. Um poeta é só isto: um certo modo de ver. O diabo é que, de tanto ver, a gente banaliza o olhar. Vê não vendo. Experimente ver pela primeira vez o que você vê todo dia, sem ver. Parece fácil, mas não é. O que nos cerca, o que nos é familiar, já não desperta curiosidade. O campo visual da nossa rotina é como um vazio.
Você sai todo dia, por exemplo, pela mesma porta. Se alguém lhe perguntar o que é que você vê no seu caminho, você não sabe. De tanto ver, você não vê. Sei de um profissional que passou trinta e dois anos a fio pelo mesmo hall do prédio de seu escritório. Lá estava sempre, pontualíssimo, o mesmo porteiro. Dava-lhe bom-dia e às vezes lhe passava um recado ou uma correspondência. Um dia o porteiro cometeu a descortesia de falecer. Como era ele? Sua cara? Sua voz? Não fazia a mínima ideia. Em trinta e dois anos, nunca o viu. Para ser notado, o porteiro teve que morrer.
O hábito suja os olhos e lhes baixa a voltagem. Mas há sempre o que ver. Gente, coisas, bichos. E vemos? Não, não vemos. Uma criança vê o que o adulto não vê. Tem olhos atentos e limpos para o espetáculo do mundo. O poeta é capaz dever pela primeira vez o que, de tão visto, ninguém vê. Há pai que nunca viu o próprio filho. Marido que nunca viu a própria mulher, isso existe às pampas. Nossos olhos se gastam no dia a dia, opacos. É por aí que se instala no coração o monstro da indiferença.
(Otto Lara Resende, Bom dia para nascer)
Está transposta para a voz passiva, sem prejuízo para o sentido, a seguinte construção: