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ID
991942
Banca
FCC
Órgão
TRT - 12ª Região (SC)
Ano
2013
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Atenção: Para responder a questão, considere o texto abaixo.

      As certezas sensíveis dão cor e concretude ao presente vivido. Na verdade, porém, o presente vivido é fruto de uma sofisticada mediação. O real tem um quê de ilusório e virtual.
Os órgãos sensoriais que nos ligam ao mundo são altamente seletivos naquilo que acolhem e transmitem ao cérebro. O olho humano, por exemplo, não é capaz de captar todo o espectro de energia eletromagnética existente. Os raios ultravioleta, situados fora do espectro visível do olho humano, são, no entanto, captados pelas abelhas.
      Seletividade análoga preside a operação dos demais sentidos: cada um atua dentro de sua faixa de registro, ainda que o grau de sensibilidade dos indivíduos varie de acordo com idade, herança genética, treino e educação. Há mais coisas entre o céu e a terra do que nossos cinco sentidos − e todos os aparelhos científicos que lhes prestam serviços − são capazes de detectar.
      Aquilo de que o nosso aparelho perceptivo nos faz cientes não passa, portanto, de uma fração diminuta do que há. Mas o que aconteceria se tivéssemos de passar a lidar subitamente com uma gama extra e uma carga torrencial de percepções sensoriais (visuais, auditivas, táteis etc.) com as quais não estamos habituados? Suponha que uma mutação genética reduza drasticamente a seletividade natural dos nossos sentidos. O ganho de sensibilidade seria patente. “Se as portas da percepção se depurassem”, sugeria William Blake, “tudo se revelaria ao homem tal qual é, infinito”.
      O grande problema é saber se estaríamos aptos a assimilar o formidável acréscimo de informação sensível que isso acarretaria. O mais provável é que essa súbita mutação − a desobstrução das portas e órgãos da percepção − produzisse não a revelação mística imaginada por Blake, mas um terrível engarrafamento cerebral: uma sobrecarga de informações acompanhada de um estado de aguda confusão e perplexidade do qual apenas lentamente conseguiríamos nos recuperar. As informações sensíveis a que temos acesso, embora restritas, não comprometeram nossa sobrevivência no laboratório da vida. Longe disso. É a brutal seletividade dos nossos sentidos que nos protege da infinita complexidade do Universo. Se o muro desaba, o caos impera
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(Adaptado de: Eduardo Gianetti, O valor do amanhã, São Paulo, Cia. das Letras, 2010. p. 139-143) 

No texto, o autor

Alternativas
Comentários
  • a) lamenta o fato de que nossos sentidos não sejam capazes de captar a imensa gama de informações presentes no Universo.

    O autor não lamenta, apenas faz observações.

    “Há mais coisas entre o céu e a terra do que nossos cinco sentidos −e todos os aparelhos científicos que lhes prestam serviços −são capazes de detectar.”

    "Aquilo de que o nosso aparelho perceptivo nos faz cientes não passa, portanto, de uma fração diminuta do que há."

     
    b) aponta para a função protetora dos órgãos sensoriais, cuja seletividade, embora implique perdas, nos é benéfica.

    Correto. Justificativa no último parágrafo.

    “As informações sensíveis a que temos acesso, embora restritas, não comprometeram nossa sobrevivência no laboratório da vida. Longe disso. É a brutal seletividade dos nossos sentidos que nos protege da infinita complexidade do Universo. Se o muro desaba, o caos impera.”

    c) constata que, com o uso da tecnologia, a percepção visual humana pode alcançar o nível de percepção visual das abelhas, e vir a captar raios ultravioleta.

    Totalmente equivocada.

    “Os raios ultravioleta, situados fora do espectro visível do olho humano, são, no entanto, captados pelas abelhas. “

    d) discorre sobre uma das máximas de William Blake, para quem a inquietação humana deriva do fato de não se franquearem as “portas da percepção”.

    Errado. O autor cita a frase de Blake, mas não é verdade que para ele a inquietação do homem é devido as “portas da percepção” não estarem abertas.

    O ganho de sensibilidade seria patente. “Se as portas da percepção se depurassem”, sugeria William Blake, “tudo se revelaria ao homem tal qual é, infinito”.

    e) comprova que alterações na percepção sensorial humana causariam danos irreparáveis ao cérebro.

    Errado. O autor não comprova, ele fala da grande probabilidade de ocorrer engarrafamento cerebral, estado de confusão. Outra coisa, o autor não fala que os danos seriam irreparáveis, pelo contrário, o autor diz que conseguiríamos nos recuperar, mas lentamente.

    “O mais provável é que essa súbita mutação −a desobstrução das portas e órgãos da percepção −produzisse não a revelação mística imaginada por Blake, mas um terrível engarrafamento cerebral: uma sobrecarga de informações acompanhada de um estado de aguda confusão e perplexidade do qual apenas lentamente conseguiríamos nos recuperar.”

    Gabarito: Letra B