SóProvas


ID
99934
Banca
FCC
Órgão
DPE-SP
Ano
2010
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Administração da linguagem

Nosso grande escritor Graciliano Ramos foi, como se
sabe, prefeito da cidade alagoana de Palmeira dos Índios. Sua
gestão ficou marcada não exatamente por atos administrativos
ou decisões políticas, mas pelo relatório que o prefeito deixou,
terminado o mandato. A redação desse relatório é primorosa,
pela concisão, objetividade e clareza (hoje diríamos:
transparência), qualidades que vêm coerentemente combinadas
com a honestidade absoluta dos dados e da autoavaliação -
rigorosíssima, sem qualquer complacência - que faz o prefeito.
Com toda justiça, esse relatório costuma integrar sucessivas
edições da obra de Graciliano. É uma peça de estilo raro e de
espírito público incomum.
Tudo isso faz pensar na relação que se costuma promover
entre linguagens e ofícios. Diz-se que há o "economês", jargão
misterioso dos economistas, o "politiquês", estilo evasivo
dos políticos, o "acadêmico", com o cheiro de mofo dos baús da
velha retórica etc. etc. E há, por vezes, a linguagem processual,
vazada em arcaísmos, latinismos e tecnicalidades que a tornam
indevassável para um leigo. Há mesmo casos em que se pode
suspeitar de estarem os litigantes praticando - data venia - um
vernáculo estrito, reservado aos iniciados, espécie de senha
para especialistas.
Não se trata de ir contra a necessidade do uso de conceitos
específicos, de não reconhecer a vantagem de se empregar
um termo técnico em vez de um termo impreciso, de abolir,
em suma, o vocabulário especializado; trata-se, sim, de evitar o
exagero das linguagens opacas, cifradas, que pedem "tradução"
para a própria língua a que presumivelmente pertencem. O
exemplo de Graciliano diz tudo: quando o propósito da comunicação
é honesto, quando se quer clareza e objetividade no que
se escreve, as palavras devem expor à luz, e não mascarar, a
mensagem produzida. No caso desse honrado prefeito alagoano,
a ética rigorosa do escritor e a ética irrepreensível do
administrador eram a mesma ética, assentada sobre os princípios
da honestidade e do respeito para com o outro.
(Tarcísio Viegas, inédito)

Na construção Não se trata de ir contra (...), de não reconhecer (...), de abolir (3ºparágrafo), os elementos sublinhados têm, na ordem dada, o sentido de

Alternativas
Comentários
  • Alguém poderia comentar esta questão.

    Desde já agradeço a atenção.
  • Perceba que "ir contra a" termina com preposição "a", e o substantivo "necessidade", no texto, não possui artigo "a"; por isso não há crase. Essa expressão tem o sentido equivalente às expressões "contradizer", "contraditar" (nestes casos, o "a" viraria artigo do substantivo "necessidade") e "ir de encontro" (neste caso, o "a" continua sendo preposição "a", e o substantivo "necessidade" não possui artigo "a", como no texto original).
    Assim, eliminamos a alternativa (B), pois "ao encontro de" não transmite valor de oposição, mas de aproximação de ideias.
    Na expressão "não reconhecer a vantagem", podemos entender que "não reconhecer" não quer dizer "desconhecer", mas não dar crédito a algo.
    Por isso, também eliminamos a alternativa (A). Perceba que o verbo "desmerecer" transmite a ideia de rebaixar, menosprezar; por isso, não cabe no contexto, e podemos eliminar a alternativa (C).
    Veja que o verbo "discordar", além de não transmitir o mesmo sentido de "não reconhecer", possui regência diferente (exige a preposição "de"). Por isso, eliminamos a alternativa (D).
    Assim, a alternativa correta é a (E). Veja que o vocábulo "abolir" realmente tem o sentido de "suprimir".
    FontePORTUGUÊS P/ FUND. CARLOS CHAGAS (TEORIA E QUESTÕES COMENTADAS) PROFESSOR: DÉCIO TERROR
    Sucesso a todos!!!