Um ano de leitores
O setor editorial e toda a cadeia produtiva do livro no Brasil precisam, especialmente neste momento de grave crise econômica, multiplicar e somar esforços para ampliar os índices de leitura no país, independentemente das políticas promovidas pelo governo.
Por mais que elas sejam importantes, responsabilidades constitucionais do Estado para a educação e a cultura da população, nossas estatísticas de produção e vendas não podem variar de modo tão intenso em decorrência das oscilações das verbas governamentais.
Isso ficou muito evidente no ano passado, quando o ajuste fiscal da União impôs reduções orçamentárias em todas as áreas da administração pública.
O contingenciamento de recursos do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) e do Plano Nacional de Alfabetização e Cidadania (Pnac) teve grande impacto no mercado editorial: queda de faturamento superior a R$ 200 milhões, o que representa uma redução de 12% em relação a 2014.
Uma quebra dessa proporção atinge editoras, autores e profissionais do setor, gráficas e toda a cadeia produtiva do livro. As compras feitas pelo Poder Público chegam a corresponder a até 36% do orçamento das editoras em alguns anos.
Certamente é importante que os programas governamentais de aquisição de livros sejam mantidos e ampliados, em especial por seu caráter inclusivo e por uma questão de justiça social, num Brasil onde ainda há imensas disparidades na distribuição de renda.
No entanto, é necessário que o segmento privado do mercado seja cada vez mais dinâmico e capaz de garantir autonomia econômico-financeira à cadeia produtiva.
Em 2014, segundo a pesquisa Produção e Vendas do Mercado Editorial Brasileiro, realizada pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), foram comercializados em livrarias, sites de editoras, porta a porta e outros pontos do varejo 277,3 milhões de exemplares.
Considerando que o índice de leitura dos brasileiros é de apenas 1,7 livro/ano, há potencial para o aumento das vendas no segmento privado do país.
Assim, é preciso imenso esforço de todo o mercado para que os 88 milhões de leitores do país, segundo pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, leiam mais neste ano que começa. Também precisamos formar novos leitores.
Tais metas, se cumpridas com êxito, serão um grande estímulo para toda a cadeia produtiva e demonstrarão que podemos e devemos ser mais proativos no desenvolvimento de nosso mercado, cuja pujança também se reflete no progresso nacional, pois este é inviável sem a disseminação do conhecimento e da cultura.
Editoras, livrarias, distribuidores e canais de venda porta a porta, unidos sob a representatividade de suas entidades de classe, precisam adotar firme atitude propositiva voltada ao fomento do mercado privado e à promoção do livro.
A despeito da grave crise nacional, vamos arregaçar as mangas e trabalhar muito para que 2016 seja um ano de leitores.
(LUÍS ANTONIO TORELLI, 64, é presidente da CBL – Câmara Brasileira do Livro 07/01/2016 02h00 http://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2016/01/1726679-um-ano-de-leitores.shtml Acesso em 12/01/2016.)