SóProvas


ID
1082962
Banca
FCC
Órgão
TRF - 3ª REGIÃO
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Menino do mato

Eu queria usar palavras de ave para escrever.
Onde a gente morava era um lugar imensamente e sem
[ nomeação.
Ali a gente brincava de brincar com palavras
tipo assim: Hoje eu vi uma formiga ajoelhada na pedra!
A Mãe que ouvira a brincadeira falou:
Já vem você com suas visões!
Porque formigas nem têm joelhos ajoelháveis
e nem há pedras de sacristias por aqui.
Isso é traquinagem da sua imaginação.
O menino tinha no olhar um silêncio de chão
e na sua voz uma candura de Fontes.
O Pai achava que a gente queria desver o mundo
para encontrar nas palavras novas coisas de ver
assim: eu via a manhã pousada sobre as margens do
rio do mesmo modo que uma garça aberta na solidão
de uma pedra.
Eram novidades que os meninos criavam com as suas
palavras.

Assim Bernardo emendou nova criação: Eu hoje vi um
sapo com olhar de árvore.
Então era preciso desver o mundo para sair daquele
lugar imensamente e sem lado.
A gente queria encontrar imagens de aves abençoadas
pela inocência.
O que a gente aprendia naquele lugar era só ignorâncias
para a gente bem entender a voz das águas e
dos caracóis.
A gente gostava das palavras quando elas perturbavam
o sentido normal das ideias.
Porque a gente também sabia que só os absurdos
enriquecem a poesia.


(BARROS, Manoel de, Menino do Mato, em Poesia Completa, São Paulo, Leya, 2013, p. 417-8.)

Considere as frases abaixo.

I. No verso O que a gente aprendia naquele lugar era só ignorâncias, o verbo destacado pode ser flexionado no plural, sem prejuízo para a correção e o sentido original.
II. Em seguida ao termo voz, no verso e na sua voz uma candura de Fontes, pode-se acrescentar uma vírgula, sem prejuízo para a correção e o sentido original.
III. Sem que nenhuma outra alteração seja feita, no verso e nem há pedras de sacristias por aqui, o verbo pode ser substituído por existe, mantendo-se a correção e o sentido original.

Está correto o que se afirma APENAS em

Alternativas
Comentários
  • I - No verso "O que a gente aprendia naquele lugar era só ignorâncias", o verbo SER pode ir para o plural, pois este verbo tem a particularidade de poder concordar com o sujeito ou com o predicado. Como ignorâncias está no plural, logo poderia, ficar assim: "O que a gente aprendia naquele lugar eram só ignorâncias" 

    II - Em seguida ao termo voz, no verso e na sua voz uma candura de Fontes, pode-se acrescentar uma vírgula, sem prejuízo para a correção e o sentido original. Sim, pode. Observe que o verso "no verso e na sua voz, uma candura de Fontes" colocando a vírgula, torna-se um apostolo explicativo.

    III - Sem que nenhuma outra alteração seja feita, no verso e nem há pedras de sacristias por aqui, o verbo pode ser substituído por existe, mantendo-se a correção e o sentido original. Neste caso está incorreto, pois a palavra pedras está no plural, logo a substituição deveria ser feito por "nem existem pedras de sacristias por aqui" Sujeito no plural, o verbo também deve ir para o plural. O verbo existir é pessoal, logo, ele deve concordar com o sujeito.

    Lembrem-se de que o verbo existir é pessoal e o verbo haver no sentido de exiostir é impessoal.

    Espero ter ajudado. Como não tinha nenhum comentário e o número de erros nesta questão foi de 50%, tentei contribuir de alguma forma.

    Bons estudos.



  • Em (I) o verbo “era” pode concordar com “ignorâncias”. Esta palavra, por estar no plural, faz com que o verbo também seja flexionado no plural. Em (II) a vírgula pode ser usada para indicar a elipse do verbo “tinha” no verso (“O menino tinha no olhar um silêncio de chão / e na sua voz ‘tinha’ uma candura de Fontes”), portanto a afirmação em (II) está correta. Em (III) o verbo “haver” é impessoal, logo não sofre flexão. Se for substituir por “existe”, a oração sofrerá mudanças, o que é contra a afirmação em (III). A alternativa correta é a letra E.


  • I - O verbo tanto pode concordar com ignorâncias (plural) ou com a gente (singular)

    II - correta a virgula marca a supressão do verbo E na sua voz, (tinha) uma candura de fontes.

    III - Se ocorre a troca de há por existe seria preciso mais uma alteração pois pedras está no plural, e o verbo existir vai para o plural Existem 

    Portanto, letra E

  • III - Apesar do verbo "haver" não sofrer flexão, quando substituído por "existe" muda o sentido original da oração.

  • A regra para fundamentar a resposta da assertiva I é:   

    O verbo SER poderá concordar facultativamente com o sujeito ou com o predicativo quando os pronomes demonstrativos isto, isso, aquilo, o que forem sujeito da oração.  

    Exemplo: Aquilo era/eram saudades que o tempo apagara. 

    Obs: Ainda há outros casos de concordância facultativa do verbo ser.  

  • Discordo respeitosamente do colega Pedro Moreira quando ele diz que a inserção da vírgula no excerto: "O menino tinha no olhar um silêncio de chão e na sua voz uma candura de fontes"  se trata de APOSTO EXPLICATIVO.

    Creio que , neste caso, a vírgula após a palavra VOZ é ocasionada pelo ZEUGMA, isto é, pela supressão do verbo "tinha" na frase. Trata-se de  um caso de uso obrigatório da vírgula no período simples.

  • Quanto à assertiva I. Trata-se de um caso de concordância do verbo SER. O verbo ser apresenta duas regras interessantes: 


    1) quando o predicativo do sujeito é uma COISA, a concordância pode vir no plural ou no singular. Ex.: A vida é  lembranças  /A vida são  lembranças.

    2) quando o predicativo do sujeito é uma PESSOA ou um PRONOME PESSOAL, a concordância tem de seguir à risca o número do predicativo do sujeito. Ex.: O jardineiro é Jesus.......e as árvores SOMOS nós (pronome pessoal na primeira pessoa do plural, o verbo vem no plural)/ A minha vida SÃO meus filhos/ A minha vida É meu filho.

  • Por último, a assertiva III . O verbo HAVER no sentido de EXISTIR é inflexionável quanto ao número, vindo sempre no singular. Mas o verbo EXISTIR, em si, pode sim ser flexionado no plural. Ex.: HÁ várias maneiras de dizer não. = EXISTEM várias maneiras de dizer não.