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ID
1083250
Banca
FCC
Órgão
TRT - 19ª Região (AL)
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

No texto abaixo, Graciliano Ramos narra seu encontro com Nise da Silveira.

     Chamaram-me da porta: uma das mulheres recolhidas à sala 4 desejava falar comigo. Estranhei. Quem seria? E onde ficava a sala 4? Um sujeito conduziu-me ao fim da plataforma, subiu o corrimão e daí, com agilidade forte, galgou uma janela. Esteve alguns minutos conversando, gesticulando, pulou no chão e convidou-me a substituí-lo. Que? Trepar-me àquelas alturas, com tamancos?

     Examinei a distância, receoso, descalcei-me, resolvi tentar a difícil acrobacia. A desconhecida amiga exigia de mim um sacrifício; a perna, estragada na operação, movia-se lenta e perra; se me desequilibrasse, iria esborrachar-me no pavimento inferior. Não houve desastre. Numa passada larga, atingi o vão da janela; agarrei-me aos varões de ferro, olhei o exterior, zonzo, sem perceber direito por que me achava ali. Uma voz chegou-me, fraca, mas no primeiro instante não atinei com a pessoa que falava. Enxerguei o pátio, o vestíbulo, a escada já vista no dia anterior. No patamar, abaixo de meu observatório, uma cortina de lona ocultava a Praça Vermelha. Junto, à direita, além de uma grade larga, distingui afinal uma senhora pálida e magra, de olhos fixos, arregalados. O rosto moço revelava fadiga, aos cabelos negros misturavam-se alguns fios grisalhos.

Referiu-se a Maceió, apresentou-se:

     - Nise da Silveira.

     Noutro lugar o encontro me daria prazer. O que senti foi surpresa, lamentei ver minha conterrânea fora do mundo, longe da profissão, do hospital, dos seus queridos loucos. Sabia-a culta e boa, Rachel de Queiroz me afirmara a grandeza moral daquela pessoinha tímida, sempre a esquivar-se, a reduzir-se, como a escusar-se de tomar espaço. Nunca me havia aparecido criatura mais simpática. O marido, também médico, era meu velho conhecido Mário Magalhães. Pedi notícias dele: estava em liberdade. E calei-me, num vivo constrangimento.

     De pijama, sem sapatos, seguro à verga preta, achei-me ridículo e vazio; certamente causava impressão muito infeliz. Nise, acanhada, tinha um sorriso doce, fitava-me os bugalhos enormes, e isto me agravava a perturbação, magnetizava-me. Balbuciou imprecisões, guardou silêncio, provavelmente se arrependeu de me haver convidado para deixar-me assim confuso.

(RAMOS, Graciliano, Memórias do Cárcere, vol. 1. São Paulo, Record, 1996, p. 340 e 341)

Considere as afirmações abaixo.

I. No trecho Chamaram-me da porta: uma das mulheres recolhidas à sala 4 desejava falar comigo. Estranhei. Quem seria? E onde ficava a sala 4? (1o parágrafo), a pontuação contribui para o clima de perplexidade pretendido pelo narrador.

II. As perguntas Que? Trepar-me àquelas alturas, com tamancos? (1o parágrafo) são retóricas, de maneira que se podem suprimir os pontos de interrogação.

III. No segmento ...olhei o exterior, zonzo, sem perceber direito porque me achava ali (2o parágrafo), a vírgula imediatamente após “exterior” pode ser suprimida, sem prejuízo para o sentido original.

Está correto o que se afirma APENAS em

Alternativas
Comentários
  • Com relação ao item III - No termo interferente (zonzo), ou as duas vírgulas se colocam, ou as duas vírgulas se tiram; e podem ser trocadas por parênteses ou travessões. Portanto, item errado.

  • Confesso que fiquei com dúvida na II, mas logo pensei que se é pergunta, logo tem interrogação rs. 

    letra A

  • Eu acho que a pontuação na asseriva I passa a ideia de suspense, não de perplexidade, mas a escolhi como correta, na falta de opção melhor.

  • I) Correta. As perguntas feitas denotam perplexidade quanto a quem estaria chamando Graciliano.

    II) Incorreta. As perguntas retóricas têm como essência o fato de que o interlocutor não deseja obter uma resposta, mas sim reforçar uma ideia ou crítica sobre algo ou alguém. Muitas vezes, o próprio interlocutor acaba por responder a pergunta retórica. 

    No caso das perguntas do texto, sucedem de um convite do sujeito oculto, que solicita a Graciliano que suba no vão da janela. Assim, podemos até entender que foram feitas realmente ao sujeito que o convidou naquele momento, pois mostram a surpresa do narrador com o convite. Não podemos inferir que há uma resposta já contida nela mesma. Não há, há, sim, espanto e perplexidade, pois o narrador não parece acreditar que vai fazer aquilo mesmo.

    III) Incorreta. A retirada da vírgula caracteriza exterior, que passa a ser um "exterior zonzo", mudando a significação no contexto.

    GABARITO: A 

  • Letra A.

     

    Sinônimo de perplexidade

     

    11 sinônimos de perplexidade para 5 sentidos da palavra perplexidade:

    1 hesitação, indecisão, vacilação.

    2 surpresa, assombro, pasmo, dúvida.

     

    Indecisão:

    3 oscilação.

     

    Embaraço:

    4 confusão.

    5 enleio, perplexão.

     

     

    https://www.sinonimos.com.br/perplexidade/