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ID
1088296
Banca
FGV
Órgão
CGE-MA
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Utopias e distopias

       Todas as utopias imaginadas até hoje acabaram em distopias, ou tinham na sua origem um defeito que as condenava. A primeira, que deu nome às várias fantasias de um mundo perfeito que viriam depois, foi inventada por sir Thomas Morus em 1516. Dizem que ele se inspirou nas descobertas recentes do Novo Mundo, e mais especificamente do Brasil, para descrever sua sociedade ideal, que significaria um renascimento para a humanidade, livre dos vícios do mundo antigo. Na Utopia de Morus o direito à educação e à saúde seria universal, a diversidade religiosa seria tolerada e a propriedade privada, proibida. O governo seria exercido por um príncipe eleito, que poderia ser substituído se mostrasse alguma tendência para a tirania, e as leis seriam tão simples que dispensariam a existência de advogados. Mas para que tudo isso funcionasse Morus prescrevia dois escravos para cada família, recrutados entre criminosos e prisioneiros de guerra. Além disso, o príncipe deveria ser sempre homem e as mulheres tinham menos direitos que os homens. Morus tirou o nome da sua sociedade perfeita da palavra grega para “lugar nenhum”, o que de saída já significava que ela só poderia existir mesmo na sua imaginação. 
   Platão imaginou uma república idílica em que os governantes seriam filósofos, ou os filósofos governantes. Nem ele nem os outros filósofos gregos da sua época se importavam muito com o fato de viverem numa sociedade escravocrata. Em “Candide”, Voltaire colocou sua sociedade ideal, onde havia muitas escolas mas nenhuma prisão, em El Dorado, mas “Candide” é menos uma visão de um mundo perfeito do que uma sátira da ingenuidade humana. Marx e Engels e outros pensadores previram um futuro redentor em que a emancipação da classe trabalhadora traria igualdade e justiça para todos. O sonho acabou no totalitarismo soviético e na sua demolição. Até John Lennon, na canção “Imagine”, propôs sua utopia, na qual não haveria, entre outros atrasos, violência e religião. Ele mesmo foi vítima da violência, enquanto no mundo todo e cada vez mais as pessoas se entregam a religiões e se matam por elas. 
    Quando surgiu e se popularizou o automóvel anunciou-se uma utopia possível. No futuro previsto os carros ofereceriam transporte rápido e lazer inédito em estradas magnetizadas para guiá-los mesmo sem motorista. Isso se os carros não voassem, ou se não houvesse um helicóptero em cada garagem. Nada disso aconteceu. Foi outra utopia que pifou. Hoje vivemos em meio à sua negação, em engarrafamentos intermináveis, em chacinas nas estradas e num caos que só aumenta, sem solução à vista. Mais uma vez, deu distopia.  
(Veríssimo, Luiz Fernando. O Globo, 22/12/2013)

“Todas as utopias imaginadas até hoje acabaram em distopias, ou tinham na sua origem um defeito que as condenava”.

Sobre os componentes dessa primeira frase do texto, assinale a afirmativa correta.

Alternativas
Comentários
  • Letra a): O até tem função de tempo, e não de espaço. -> Todas as utopias até hoje.. - >  Todas as utopias até quando? Até hoje.

    Letra c): O sua se refere a utopias. -> ... ou tinham na sua origem... ->  ... Todas as utopias imaginadas té hoje tinham na origem um defeito...

    Letra d): O pronome relativo que faz referência a um termo anterior, que, no caso, é o substantivo defeito. -> Um defeito que (que = defeito) condenava as utopias. -> Quem condenava as utopias? Um defeito, representado pelo que.

    Letra e): Como pode se ver acima, o as refere-se apenas ao substantivo utopia. -> Um defeito que condenava as utopias.


    Como consequência da eliminação das erradas, sobra a letra b).

  • Apesar de achar a B pouco lógica. Essa questão eu acertei por eliminação. 

  • Significado de Até

    prep. Indica o termo (no espaço ou no tempo) que não se ultrapassa: ir até o portão, ficarei em São Paulo até dezembro.
    Adv. Significa inclusão: amai até os inimigos. (Nesse sentido, equivale a mesmo, também, inclusive.)
    loc. conj. Até que, até o momento em que: ficarei lá até que você volte. (Como prep., costuma vir seguido de "a": ir até o portão ou até ao portão; como adv., equivalendo a "inclusive", vem às vezes, redundantemente, acompanhado de "mesmo": até mesmo você seria capaz de fazer isso.)


  •  

    “hoje” se refere ao momento de produção do texto. ( CORRETA)

    Trata-se de um DEITICO ( DEIXIS)