SóProvas


ID
1157593
Banca
FGV
Órgão
FUNARTE
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                    Brasileiro, Homem do Amanhã

(Paulo Mendes Campos)


          Há em nosso povo duas constantes que nos induzem a sustentar que o Brasil é o único país brasileiro de todo o mundo. Brasileiro até demais. Colunas da brasilidade, as duas colunas são: a capacidade de dar um jeito; a capacidade de adiar.
          A primeira é ainda escassamente conhecida, e nada compreendida, no Exterior; a segunda, no entanto, já anda bastante divulgada lá fora, sem que, direta ou sistematicamente, o corpo diplomático contribua para isso.
          Aquilo que Oscar Wilde e Mark Twain diziam apenas por humorismo (nunca se fazer amanhã aquilo que se pode fazer depois de amanhã), não é no Brasil uma deliberada norma de conduta, uma diretriz fundamental. Não, é mais, é bem mais forte do que qualquer princípio da vontade: é um instinto inelutável, uma força espontânea da estranha e surpreendente raça brasileira.
          Para o brasileiro, os atos fundamentais da existência são: nascimento, reprodução, procrastinação e morte (esta última, se possível, também adiada).
          Adiamos em virtude dum verdadeiro e inevitável estímulo inibitório, do mesmo modo que protegemos os olhos com a mão ao surgir na nossa frente um foco luminoso intenso. A coisa deu em reflexo condicionado: proposto qualquer problema a um brasileiro, ele reage de pronto com as palavras: logo à tarde, só à noite; amanhã; segunda-feira; depois do Carnaval; no ano que vem.
          Adiamos tudo: o bem e o mal, o bom e o mau, que não se confundem, mas tantas vezes se desemparelham. Adiamos o trabalho, o encontro, o almoço, o telefonema, o dentista, o dentista nos adia, a conversa séria, o pagamento do imposto de renda, as férias, a reforma agrária, o seguro de vida, o exame médico, a visita de pêsames, o conserto do automóvel, o concerto de Beethoven, o túnel para Niterói, a festa de aniversário da criança, as relações com a China, tudo. Até o amor. Só a morte e a promissória são mais ou menos pontuais entre nós. Mesmo assim, há remédio para a promissória: o adiamento bi ou trimestral da reforma, uma instituição sacrossanta no Brasil.
          Quanto à morte não devem ser esquecidos dois poemas típicos do Romantismo: na Canção do Exílio, Gonçalves Dias roga a Deus não permitir que morra sem que volte para lá, isto é, para cá. Já Álvares de Azevedo tem aquele famoso poema cujo refrão é sintomaticamente brasileiro: “Se eu morresse amanhã!”. Como se vê, nem os românticos aceitavam morrer hoje, postulando a Deus prazos mais confortáveis.
          Sim, adiamos por força dum incoercível destino nacional, do mesmo modo que, por obra do fado, o francês poupa dinheiro, o inglês confia no Times, o português adora bacalhau, o alemão trabalha com um furor disciplinado, o espanhol se excita com a morte, o japonês esconde o pensamento, o americano escolhe sempre a gravata mais colorida.
          O brasileiro adia, logo existe.
          A divulgação dessa nossa capacidade autóctone para a incessante delonga transpõe as fronteiras e o Atlântico. A verdade é que já está nos manuais. Ainda há pouco, lendo um livro francês sobre o Brasil, incluído numa coleção quase didática de viagens, encontrei no fim do volume algumas informações essenciais sobre nós e sobre a nossa terra. Entre poucos endereços de embaixadas e consulados, estatísticas, indicações culinárias, o autor intercalou o seguinte tópico:

                    Palavras

          Hier: ontem
          Aujourd’hui: hoje
          Demain: amanhã
          A única palavra importante é “amanhã”.
          Ora, este francês astuto agarrou-nos pela perna. O resto eu adio para a semana que vem.


“Como se vê, nem os românticos aceitavam morrer hoje, postulando a Deus prazos mais confortáveis”.
Infere-se desse segmento do texto que os românticos:

Alternativas
Comentários
  • Pelo amor de Deus. Ninguém enviou recurso pra essa questão pra mudarem o gabarito?

  • ""Infere-se desse seguimento..."
    Também achei super capciosa. A resposta teve como base não o texto transcrito na questão, como ela mesma pede. Mas unicamente nosso conhecimento sobre o movimento literário Romantismo. 



  • No texto.

    Como se vê, nem os romanticos aceitavam morrer hoje, postulando a Deus prazos mais confortáveis.

    Portanto, letra b

  •        A resposta dessa questão está estranha, pois pelo gabarito da banca, parece que a FGV almejava do candidato conhecimentos sobre as Escolas de Literatura, pois a morte era realmente um dos temas mais abordados pela Escola do Romantismo em sua Segunda Geração*: Alvares de Azevedo; todavia, Gonçalves Dias era da Primeira Geração (Indianista ou Nacionalista).

    *Essa geração, também conhecida como Byroniana e Ultrarromantismo, recebeu a denominação de mal do século pela sua característica de abordar temas obscuros como a morte, amores impossíveis e a escuridão. -  http://pt.wikipedia.org/wiki/Romantismo_no_Brasil

  • detalhe: de 0 a 20% de acertos.

  • Gabarito absurdo. Isso é prova de português e não de literatura. Considero a letra B como o gabarito!

  • A resposta deve estar desatualizada! Não é possível...

  • É FGV MESMO, mas tentando encontrar alguma lucidez na resposta, temos que analisar que a questão é de interpretação e não de compreensão. O texto pede inferência, inferir é encontrar o que está além do texto. Se fosse uma questão de compreensão a letra B estaria certa, mas o que está além, o que subtendense é a letra c, o texto fala " famoso poema.... se eu morresse amanhã.... poemas típicos do romantismo.... quanto à morte....

  • Para o mundo que eu quero descer! Jesus que interpretação é essa!

  • a FGV, se vcs prestarem bastante atenção, tem mania de colocar gabaritos que nao tem nada a ver com a pergunta feita. Nao é ignorancia minha diante de questoes dificeis. se quiserem tirar a prova real e so colocar o filtro de questoes dificeis nesse site e fazer so as da FGV. 

    O examinador ou examinadores da parte de portugues  deveriam ser processados pois ele coloca o nosso estudo de meses por agua a baixo colocando gabaritos desse tipo ou colocando questoes de intertextualidade de livros que ninguem leu de tao inuteis que sao. 

    Uma coisa é testar o conhecimento do candidato a outra a fazer loteria com a vaga. 

  • não precisa de conhecimento de literatura, basta ler este fragmento do texto:           Quanto à morte não devem ser esquecidos dois poemas típicos do Romantismo: na Canção do Exílio, Gonçalves Dias roga a Deus não permitir que morra sem que volte para lá, isto é, para cá. Já Álvares de Azevedo tem aquele famoso poema cujo refrão é sintomaticamente brasileiro: “Se eu morresse amanhã!”. Como se vê, nem os românticos aceitavam morrer hoje, postulando a Deus prazos mais confortáveis. 

  • Questão muito difícil, capciosa. O truque está, como disse a colega Fernanda Melo, no trecho "Quanto à morte não devem ser esquecidos dois poemas TÍPICOS do Romantismo". Se esses poemas que falam da morte são típicos no romantismo, então a morte é/foi um tema frequente entre os autores românticos.

    O enunciado diz "Infere-se desse segmento do texto que os românticos ". E é aí que está a malandragem, pois esse trecho busca induzir o candidato a pensar que o termo "os românticos" diz respeito aos dois autores citados no texto; quando, na verdade, refere-se aos autores do Romantismo.

    O texto NÃO diz que os autores românticos queriam adiar a morte (ou que esse adiamento era um tema típico entre eles), MAS diz que "Quanto à morte não devem ser esquecidos dois poemas TÍPICOS do Romantismo".

    Os dois poetas citados são usados na argumentação do autor do texto para ratificar o fato de que nós adiamos tudo.

    Também errei essa maldita questão. rsrs

    Bons estudos.

  • Sempre digo... A FGV deveria ser proibida de fazer provas de concurso! Banca péssima.

  • Pelo visto, inferir, segundo a FGV, é sinônimo de "viajar na maionese" mesmo.

  • Pessoal, não há nenhum problema com a questão! Ela solicitou uma "inferência" do texto, que é algo que esteja "subentendido", ou "oculto". Se ela tivesse perguntado o que se "entende" do texto, ou algo do tipo (e nesse caso seria uma típica questão de compreensão) daí a resposta seria a letra B, nesse caso a resposta é C porque precisamos dar um "pulo" (lendo o parágrafo inteiro) para inferir que os românticos tinham a morte como tema freqüente.

  • "Quanto à morte não devem ser esquecidos dois poemas típicos do Romantismo". Ou seja, tema frequente.

  • Agora o tema da "Canção do exílio" é a morte... kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

    Forçando MUITO pra concordar com o gabarito, o "tema frequente" ao qual se refere a alternativa C PODE SER (VIAJANDO DEMAIS NA MAIONESE) por causa do tempo verbal do verbo "aceitar". Verbos no pretérito imperfeito indicam ações passadas que eram realizadas de forma repetitiva.

  • Infelizmente não adianta reclamar: a questão está correta. Quem desejava adiar a morte eram os ROMÂNTICOS BRASILEIROS. Já os românticos em geral queriam morrer logo (vide o termo "nem os românticos", ou seja, infere-se que, de modo geral, eles tinham a morte como tema frequente). E mesmo que os brasileiros quisessem adiar, eles mesmo assim tinham a morte como tema frequente.

  • Fundação Entulho Vargas

  • Não sei se meu raciocínio está correto mas vejamos:

     

    Fiquei entre a C (resposta) e a B. Marquei B, no entanto, analisando depois, tive de concordar. 

    A alternativa B diz: desejavam adiar também a morte;

    Assim, como o anunciado quer a INFERÊNCIA (= o que não está explícito no texto), a alternativa B dá a entender que os românticos queriam adiar várias coisas (ou outras coisas) e INCLUSIVE a morte. E essa conclusão está errada. Assim, sobra apenas a C que é perfeitamente aceitável.

     

    As alternativas A, D e E são firulas.

  • Que banca ptética...pqp...

  • A questão em si não cobra interpretação de texto, mas conhecimento de literatura. O romantismo de segunda geração tem como tema central a morte.

    Isso é corrobarado por duas citações no texto:

    Quanto à morte não devem ser esquecidos dois poemas típicos do Romantismo: na Canção do Exílio, Gonçalves Dias roga a Deus não permitir que morra sem que volte para lá, isto é, para cá. Já Álvares de Azevedo tem aquele famoso poema cujo refrão é sintomaticamente brasileiro: “Se eu morresse amanhã!”. Como se vê, nem os românticos aceitavam morrer hoje, postulando a Deus prazos mais confortáveis. 

    Fonte: http://educacao.globo.com/literatura/assunto/movimentos-literarios/romantismo-segunda-geracao.html

    Gabarito C

  • pois é, saber o que querem se conhecimento literário ou interpretação, eu errei pq achei q não poderia ser a c

  • por esse raciocínio se pode aferir qualquer alternativa.

    FGV é desanimador!

  • Gabarito foge do padrão que a FGV costuma colocar.

  • Indiquem para comentário.

  • gabarito C

    olha a contragosto dá pra ir por eliminação..

    “Como se vê, nem os românticos aceitavam morrer hoje, postulando a Deus prazos mais confortáveis”.

    Infere-se desse segmento do texto que os românticos:

    (A) apresentavam tendências religiosas; (como Deus está sendo citado, acho que não seria uma tendência mas um fato que eles eram religiosos)

    (B) desejavam adiar também a morte; (isso ta explícito, sendo caso de compreensão e não interpretação)

    (C) tinham a morte como tema frequente;

    (D) mostravam horror à morte; (extrapolação)

    (E) adiavam a morte e o amor (extrapolação)