SóProvas


ID
1222789
Banca
FCC
Órgão
METRÔ-SP
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Delicadezas colhidas com mão leve 


     Era sábado e estávamos os dois na redação vazia da revista. Esparramado na cadeira, Guilherme roía o que lhe restava das unhas, levantava-se, andava de um lado para outro, folheava um jornal velho, suspirava. Aí me veio com esta:
     - Meu texto é melhor que eu.
     A frase me fez rir, devolveu a alegria a meu amigo e poderia render uma discussão sobre quem era melhor, Guilherme Cunha Pinto ou o texto do Guilherme Cunha Pinto. Os que foram apenas leitores desse jornalista tão especial, morto já faz tempo, não teriam problema em escolher as matérias que ele assinava, que me enchiam de uma inveja benigna.
     Inveja, por exemplo, da mão leve com que ele ia buscar e punha em palavras as coisas mais incorpóreas e delicadas. Não era com ele, definitivamente, a simplificação grosseira que o jornalismo tantas vezes se concede, com a desculpa dos espaços e horários curtos, e que acaba fazendo do mundo algo chapado, previsível, sem graça. Guilherme não aceitava ser um mero recolhedor de aspas, nas entrevistas, nem sair à rua para ajustar os fatos a uma pauta. Tinha a capacidade infelizmente rara de se deixar tocar pelas coisas e pessoas sobre as quais ia escrever, sem ideias prontas nem pé atrás. Pois gostava de coisas e de pessoas, e permitia que elas o surpreendessem. Olhava-as com amorosa curiosidade - donde os detalhes que faziam o singular encanto de suas matérias. O personagem mais batido se desdobrava em ângulos inéditos quando o repórter era ele. Com suavidade descia ao fundo da alma de seus entrevistados, sem jamais pendurá-los no pau de arara do jornalismo inquisitorial. Deu forma a textos memoráveis e produziu um título desde então citado e recitado nas redações paulistanas: “Picasso morreu, se é que Picasso morre”. 


(Adaptado de: WERNECK Humberto. Esse inferno vai acabar.
Porto Alegre: Arquipélago, 2001. p.45 e 46)


Está clara e correta a redação deste livre comentário sobre o texto:

Alternativas
Comentários
  • Apontei alguns erros que encontrei em cada alternativa. Corrijam-me, por favor, se eu estiver equivocada :)
    a) Acredito que não há necessidade de preposição (em) antes do pronome relativo cujo.
    b) O pronome relativo onde só pode ser usado para se referir a lugar (lugar fixo). 

    c) correta.
    d) O pronome relativo onde só pode ser usado para se referir a lugar (lugar fixo). 
    e) Acrescentando o quê? Seu ponto de vista mais pessoal... (OD)
    Acrescentando a/em quê? Ao/no fato. (exigência de preposição - OI)
    Portanto, o verbo acrescentar é VTDI. Desse modo, como é o OI que está sendo substituído, o pronome oblíquo o se torna inadequado, uma vez que este deve substituir apenas o OD. Assim, a forma correta deveria ser acrescentando-no.
  • erro da letra D: "sobre a perspectiva de Guilherme", o correto seria "sob a perspectiva de Guilherme"

  • Letra e - em relação àquele artista. crase.

  • Artista, no caso, está no masculino, não admite crase, creio...