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ID
1222807
Banca
FCC
Órgão
METRÔ-SP
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Viagens 

     Viagens de avião e de metrô podem guardar certa semelhança. Entre nuvens carregadas, ou tendo o azul como horizonte infinito, o passageiro não sente que está em percurso; no interior dos túneis, diante das velozes e uniformes paredes de concreto, o passageiro tampouco sabe da viagem. Em ambos os casos, vai de um ponto a outro como se alguém o levantasse de um lugar para pô-lo em outro, mais adiante.
     Nesses casos, praticamente se impõe uma viagem interior. As nuvens, o azul ou o concreto escuro hipnotizam-nos, deixam-nos a sós com nossas imagens e nossos pensamentos, que também sabem mover-se com rapidez. Confesso que gosto desses momentos que, sendo velozes, são, paradoxalmente, de letargia: os olhos abertos veem para dentro, nosso cinema interior se abre para uma profusão de cenas vividas ou de expectativas abertas. Em tais viagens, estamos surpreendentemente sós - uma experiência rara em nossos dias, concordam?
     Que ninguém se socorra do celular ou de qualquer engenhoca eletrônica, por favor: que enfrente o vital desafio de um colóquio consigo mesmo, de uma viagem em que somos ao mesmo tempo passageiros e condutores, roteiristas do nosso trajeto, produtores do nosso sentido. Não é pouco: nesses minutos de íntima peregrinação, o único compromisso é o de não resistir à súbita liberdade que nossa imaginação ganhou. Chegando à nossa estação ou ao nosso aeroporto, retomaremos a rotina e nos curvaremos à fatalidade de que as obrigações mundanas rejam o nosso destino. Navegar é preciso, viver não é preciso, diziam os antigos marinheiros. É verdade: há viagens em que o menos importante é chegar.  

(Ulisses Rebonato, inédito)

Atente para as seguintes afirmações:

I. Na expressão tampouco sabe da viagem, justifica- se o emprego do termo sublinhado porque já se afirmara antes que o passageiro não sente que está em percurso (1º parágrafo).

II. No 2º parágrafo, o emprego de paradoxalmente justifica-se pelo fato de que uma sensação de letargia ocorre concomitantemente à velocidade da viagem.

III. Expressões como concordam? (2º parágrafo) e por favor (3º parágrafo) são indicativas da impossibilidade de conexão entre a autoria e a recepção do texto.

Em relação ao texto, está correto o que se afirma em :

Alternativas
Comentários


  • Alguém poderia me explicar por que a III está errada?


  • Lúbian; veja na III Expressões como concordam? (2º parágrafo) e por favor (3º parágrafo) são indicativas da impossibilidade de conexão entre a autoria e a recepção do texto. 

    São indicadores sim de diálogo com o receptor no caso o leitor do texto. Então não é impossibilidade e sim possibilidade!
  • Marquei a letra (e). Fiquei em dúvida sobre a assertiva (a), porque pensei que o 'tampouco' justificava-se por esta passagem " diante das velozes e uniformes paredes de concreto". Porém, o uso do "tampouco"  >>>funciona, na estrutura oracional, como um reforço para uma negação feita anteriormente "o passageiro não sente que está em percurso", ou seja, o "tampouco" adicionará uma ideia negativa a uma ideia negativa precedente.<<< fonte: Rodrigo Bezerra / Nova Gramática da Língua Portuguesa