SóProvas


ID
1222987
Banca
IBFC
Órgão
TRE-AM
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                        Prazeres mútuos
                            (Danuza Leão)

         É normal, quando você vê uma criança bonita, dizer “mas que linda”, “que olhos lindos”, ou coisas no gênero. Mas esses elogios, que fazemos tão naturalmente quando se trata de uma criança ou até de um cachorrinho, dificilmente fazemos a um adulto. Isso me ocorreu quando outro dia conheci, no meio de várias pessoas, uma moça que tinha cabelos lindos. Apesar da minha admiração, fiquei calada, mas percebi minha dificuldade, que aliás não é só minha, acho que é geral. Por que eu não conseguia elogiar seus cabelos?
         Fiquei remoendo meus pensamentos (e minha dificuldade), fiz um esforço (que não foi pequeno) e consegui dizer: “que cabelos lindos você tem”. Ela, que estava séria, abriu um grande sorriso, toda feliz, e sem dúvida passou a gostar um pouquinho de mim naquele minuto, mesmo que nunca mais nos vejamos.
         Fiquei pensando: é preciso se exercitar e dizer coisas boas às pessoas, homens e mulheres, quando elas existem. Não sei a quem faz mais bem, se a quem ouve ou a quem diz; mas por que, por que, essa dificuldade? Será falta de generosidade? Inveja? Inibição? Há quanto tempo ninguém diz que você está linda ou que tem olhos lindos, como ouvia quando criança? Nem mesmo quando um homem está paquerando uma mulher ele costuma fazer um elogio, só alguns, mais tarde, num momento de intimidade e quando é uma bobagem, como “você tem um pezinho lindo”. Mas sentar numa mesa para jantar pela primeira vez, só os dois, e dizer, com naturalidade, “que olhos lindos você tem”, é difícil de acontecer.
         Notar alguma coisa de errado é fácil; não se diz a ninguém que ele tem o nariz torto, mas, se for alguém que estiver em outra mesa, o comentário é espontâneo e inevitável. Podemos ouvir que a alça do sutiã está aparecendo ou que o rímel escorreu, mas há quanto tempo você não ouve de um homem que tem braços lindos? A não ser que você seja modelo ou miss - e aí é uma obrigação elogiar todas as partes do seu corpo-, os homens não elogiam mais as mulheres, aliás, ninguém elogia ninguém.
         E é tão bom receber um elogio; o da amiga que diz que você está um arraso já é ótimo, mas, de uma pessoa que você acabou de conhecer e que talvez não veja nunca mais, aquele elogio espontâneo e sincero, é das melhores coisas da vida.
         Fique atenta; quando chegar a um lugar e conhecer pessoas novas, alguma coisa de alguma delas vai chamar a sua atenção e sua tendência será, como sempre, ficar calada. Pois não fique. Faça um pequeno esforço e diga alguma coisa que você notou e gostou; o quanto a achou simpática, como parece tranquila, como seu anel é lindo, qualquer coisa. Todas as pessoas do mundo têm alguma coisa de bom e bonito, nem que seja a expressão do olhar, e ouvir isso, sobretudo de alguém que nunca se viu, é sempre muito bom.
         Existe gente que faz disso uma profissão, e passa a vida elogiando os outros, mas não é delas que estamos falando. Só vale se for de verdade, e se você começar a se exercitar nesse jogo e, com sinceridade, elogiar o que merece ser elogiado, irá espalhando alegrias e prazeres por onde passar, que fatalmente reverterão para você mesma, porque a vida costuma ser assim.
         Apesar de a vida ter me mostrado que nem sempre é assim, continuo acreditando no que aprendi na infância, e isso me faz muito bem.

                                        (disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff0611200502.htm)


O texto é uma crônica em que a autora defende seu posicionamento em relação a um tema. Pode ser entendida como sua tese a seguinte ideia:

Alternativas
Comentários
  • Gabarito A.

     

    Deve-se atentar que a questão quer saber qual seria a tese do texto. Dessa forma, é necessário ater-se à ideia principal do mesmo.

    Como se pode perceber pelo título, "Prazeres mútuos", a tese da autora é a de que fazer elogios gera prazer tanto para aquele que o faz quanto para aquele que o recebe, e, portanto, é uma atitude que deve ser praticada com maior frequência, uma vez que, segundo a mesma, não é uma atitude tão comum entre adultos.

    Assim sendo, a alternativa a) representa uma boa síntese dessa tese.

     

    As alternativas b) e c) embora representem ideias contidas no texto, não podem ser entendidas como a sua tese. Essas ideias são na verdade argumentos utilizados pela autora para sustentar a sua ideia principal.

     

    Já a letra d) não é uma ideia passada pela autora. Isso porque, ainda que a autora reforce sua tese, mencionando que é importante fazer elogios, sobretudo quando se conhece uma pessoa nova, em momento algum ela considera necessário ou faz incentivo ao fato de se conhecer pessoas novas.

  • (O texto, em si, é bastante interessante!)

  • O problema dessa questão é que durante o texto, a autora faz referência a argumento como ocorre nas assertivas b) e c)

    - As pessoas conseguem elogiar as crianças, mas não os adultos.

    - É mais fácil perceber o que há de errado do que o que há de bom.

    Como a questão pede a tese, que seria a ideia que gera todo os outros argumentos, a resposta fica com a letra a mesmo: 

    -  É preciso fazer elogios com mais frequência.

  • Preste atenção! todas as alternativas são corretas quanto afirmações sobre o texto, mas só pode se chamada de tese a alternativa A, pois as outras são momentos específicos, no entanto a autora independente do momento deseja que passemos a elogiar mais as pessoas.

    Gabarito: A