O chato é um chato, mas é essencial nos negócios
      O chato é um chato. Não é o tipo de companhia que se quer  para tomar um vinho ou ir ao cinema. O chato tem a insuportável  mania de apontar o dedo para as coisas, enxergar os problemas  que não queremos ver, fazer comentários desconcertantes.
      Por isso, é pouco recomendável ter um deles por perto nos  momentos nos quais tudo o que você não quer fazer é tomar  decisões. Para todos os outros - e isso envolve o dia a dia dos  negócios - é bom ter um desses cada vez mais raros e discriminados exemplares da fauna empresarial por perto.
      Conselho dado por alguém que entende muito de ganhar    dinheiro, Warren Buffett, um dos homens mais ricos do mundo:  “Ouça alguém que discorda de você”. No início de maio, Buffett  convidou um sujeito chamado Doug Kass para participar de um  dos painéis que compuseram a reunião anual de investidores de  sua empresa, a Berkshire Hathaway.
      Como executivo de um fundo de investimento, Kass havia  apostado contra as ações da Berkshire. Buffett queria entender o  porquê. Kass foi o chato escolhido para alertá-lo sobre eventuais  erros que ninguém havia enxergado.
      Buffett conhece o valor desse tipo de pessoa. O chato é o  sujeito que ainda acha que as perguntas simples são o melhor  caminho para chegar às melhores respostas, é alguém que não  tem medo. Não se importa de ser tachado de inábil no trato com  as pessoas ou de ser politicamente incorreto. Questiona. Coloca  o dedo na ferida. Insiste em ser um animal pensante, quando todo  mundo sabe que dá menos trabalho deixar tudo como está.
      Quase sempre, as coisas que o chato diz fazem um tremendo  sentido. Nada pode ser mais devastador para seus críticos do que  a constatação de que o chato, feitas as contas, tem razão.
      Pobre do chefe que não reconhece, não escuta e não tolera  os chatos que cruzam seu caminho. Ele acredita que está seguro  num mundo de certezas próprias, de verdades absolutas. Ora, o  controle total de um negócio é uma miragem. Coisas boas e ruins  acontecem o tempo todo nas empresas sem que ele se dê conta.  Pensar que é possível estar no comando de tudo, o tempo todo,  só vai torná-lo mais vulnerável como líder. E vai, mais dia ou  menos dia, afastar definitivamente os chatos, os questionadores,  aqueles que fazem as perguntas incômodas e necessárias.
      Por isso, só existem chatos em lugares onde há alguma perspectiva de futuro. Esse espécime de profissional só prolifera em  ambientes onde a liberdade de pensamento e expressão é respeitada, onde a dúvida não é um mal em si, onde existe disposição,  coragem e humildade para mudar de trajetória quando essa parece  ser a melhor opção.
                  (Cláudia Vassallo, http://exame.abril.com.br, 07.07.2013. Adaptado)
 
A frase – Quase sempre, as coisas que o chato diz fazem um tremendo sentido. – está corretamente reescrita, no que se refere ao uso da pontuação, e sem alteração de sentido, em: