SóProvas


ID
1263628
Banca
FUNCAB
Órgão
PRF
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto 1

Inauguração da Avenida

      [...]
      Já lá se vão cinco dias. E ainda não houve aclamações, ainda não houve delírio. O choque foi rude demais. Acalma ainda não renasceu.
      Mas o que há de mais interessante na vida dessa mó de povo que se está comprimindo e revoluteando na Avenida, entre a Prainha e o Boqueirão, é o tom das conversas, que o ouvido de um observador apanha aqui e ali, neste ou naquele grupo.
      Não falo das conversas da gente culta, dos “doutores” que se julgam doutos.
Falo das conversas do povo - do povo rude, que contempla e critica a arquitetura dos prédios: “Não gosto deste... Gosto mais daquele... Este é mais rico... Aquele tem mais arte... Este é pesado... Aquele é mais elegante...”.
      Ainda nesta sexta-feira, à noite, entremeti-me num grupo e fiquei saboreando uma dessas discussões. Os conversadores, à luz rebrilhante do gás e da eletricidade, iam apontando os prédios: e - cousa consoladora - eu, que acompanhava com os ouvidos e com os olhos a discussão, nem uma só vez deixei de concordar com a opinião do grupo. Com um instintivo bom gosto subitamente nascido, como por um desses milagres a que os teólogos dão o nome de “mistérios da Graça revelada” - aquela simples e rude gente, que nunca vira palácios, que nunca recebera a noção mais rudimentar da arte da arquitetura, estava ali discernindo entre o bom e o mau, e discernindo com clarividência e precisão, separando o trigo do joio, e distinguindo do vidro ordinário o diamante puro.
      É que o nosso povo - nascido e criado neste fecundo clima de calor e umidade, que tanto beneficia as plantas como os homens - tem uma inteligência nativa, exuberante e pronta, que é feita de sobressaltos e relâmpagos, e que apanha e fixa na confusão as ideias, como a placa sensibilizada de uma máquina fotográfica apanha e fixa, ao clarão instantâneo de uma faísca de luz oxídrica, todos os objetos mergulhados na penumbra de uma sala...
      E, pela Avenida em fora, acotovelando outros grupos, fui pensando na revolução moral e intelectual que se vai operar na população, em virtude da reforma material da cidade.
      A melhor educação é a que entra pelos olhos. Bastou que, deste solo coberto de baiucas e taperas, surgissem alguns palácios, para que imediatamente nas almas mais incultas brotasse de súbito a fina flor do bom gosto: olhos, que só haviam contemplado até então betesgas, compreenderam logo o que é a arquitetura. Que não será quando da velha cidade colonial, estupidamente conservada até agora como um pesadelo do passado, apenas restar a lembrança?
      [...]
      E quando cheguei ao Boqueirão do Passeio, voltei-me, e contemplei mais uma vez a Avenida, em toda sua gloriosa e luminosa extensão. [...]

Gazeta de Notícias - 19 nov.1905. Bilac, Olavo. Vossa Insolência: crônicas. São Paulo: Companhia de Letras, 1996, p. 264-267.

Vocabulário:
baiuca: local de última categoria, malfrequentado.
betesga: rua estreita, sem saída,
: do latim “mole” , multidão; grande quantidade,
revolutear: agitar-se em várias direções,
tapera: lugar malconservado e de mau aspecto

Texto 2

O ciclista


      Curvado no guidão lá vai ele numa chispa. Na esquina dá com o sinal vermelho e não se perturba - levanta  voo bem na cara do guarda crucificado. No labirinto urbano persegue a morte com o trim-trim da campainha: entrega sem derreter sorvete a domicílio. 
      É a sua lâmpada de Aladino a bicicleta e, ao sentar-se no selim, liberta o gênio acorrentado ao pedal. Indefeso homem, frágil máquina, arremete impávido colosso, desvia de fininho o poste e o caminhão; o ciclista por muito favor derrubou o boné. 
      Atropela gentilmente e, vespa furiosa que morde, ei-lo defunto ao perder o ferrão. Guerreiros inimigos trituram com chio de pneus o seu diáfano esqueleto. Se não se estrebucha ali mesmo, bate o pó da roupa e - uma perna mais curta - foge por entre nuvens, a bicicleta no ombro. 
      Opõe o peito magro ao para-choque do ônibus. Salta a poça d’água no asfalto. Num só corpo, touro e toureiro, golpeia ferido o ar nos cornos do guidão. Ao fim do dia, José guarda no canto da casa o pássaro de viagem. Enfrenta o sono trim-trim a pé e, na primeira esquina, avança pelo céu na contramão, trim-trim. 

Trevisan, Dalton. In: Bosi, Alfredo (Org.). O conto brasileiro contemporâneo. 14" Ed. São Paulo: Cultrix, 1997. p. 189. 



Regência é a relação que se estabelece entre duas palavras, por meio da qual uma das palavras se subordina à outra, funcionando como seu complemento. Essa relação é, geralmente, marcada por uma preposição.

Em um dos textos, o autor incorreu, de acordo com a norma  culta,  na  construção  da  frase,  em  erro  na escolha  da  preposição.  Aponte-a,  dentre  as alternativas apresentadas.


Alternativas
Comentários
  • b) “ ...entrega sem derreter sorvete a domicílio.” (texto 2 - § 1)

  • B) ... entrega sem derreter sorvete no domicílio ou em domicílio.

    A alternativa estaria certa ou somente com o uso da preposição "em" (em domicílio) ou com a junção entre a preposição "em" e o artigo definido "o" (no domicílio). 

    Bons estudos a todos e, lembrem-se: o mundo é dos esforçados e não dos talentosos! Talento sem luta, é talento morto!

     Vencem aqueles que não desistem nunca!!!

  • Não entendi esta questão, alguém poderia explicar?

  • Letra B. O correto seria: "entrega em domicílio"!


    Não precisa ser fácil, basta ser possível.

    "Autor desconhecido"

  • Acho que a resposta desta questão está errada! 

    "Lembra Laurinda Grion que "em domicílio e a domicílio são locuções que têm emprego diverso; a primeira se usa com verbos ou nomes estáticos; a segunda, com verbos ou nomes dinâmicos"1.

    Vejam-se, assim, os seguintes exemplos, com a indicação de sua correção ou erronia:

    a) "Levam-se compras a domicílio" (correto);

    b) "Levam-se compras em domicílio" (errado);

    c) "Corta-se cabelo em domicílio" (correto);

    d) "Corta-se cabelo a domicílio" (errado);

    e) "Atende-se em domicílio" (correto);

    f) "Atende-se a domicílio" (errado)."


    O verbo entregar está dando ideia de movimento, assim, a preposição empregada está correta!

    “ ...entrega sem derreter sorvete a domicílio.” (texto 2 - § 1)



    http://www.gazetadopovo.com.br/colunistas/conteudo.phtml?id=1204728


    http://www.portuguesnarede.com/2012/12/entrega-domicilio-ou-em-domicilio.html 

  • . Entregarentregar em algum lugar Entregamos em domicílio.

    Observação – Não se usa “entregar a algum lugar”, mas sim “entregar em algum lugar”.

  • Eu estava errado no comentário anterior! Por mais que o verbo "entregar" de a ideia de movimento, pela norma culta ele é considerado como verbo estático! 

    Seria interessante algum professor do QC explicar!


  • Só uma observação, quanto ao verbo chegar a regência correta é "a" e nunca "em", portanto deveríamos dizer chegaremos a casa em 10 minutos e nunca chegaremos em casa em 10 minutos.

  • Faz-se importante frisar que : quem entrega entrega algo em algum lugar. 
    Assim, da mesma forma que não se diz “entrega a casa” (e sim “em casa”), devemos dizer “em domicílio” (e não “a domicílio”).


  • Valeu pela objetividade José!

    Pesquisei melhor sobre o assunto e segundo o professor Lutibergue,

    O uso das locuções “a domicílio” e “em domicílio” depende dos seguintes aspectos: 

    Com nomes e verbos estáticos, isto é, que não dão ideia de movimento e regem a preposição “em”, usa-se “em domicílio”: “Nossa pizzaria faz entrega em domicílio”; “Consertamos geladeira em domicílio”. 

    (Observe: toda entrega é feita “em” algum lugar; e  consertamos algo “em” algum lugar.) 

    Com nomes e verbos dinâmicos, isto é, que dão ideia de movimento e regem a preposição “a”, usa-se “a domicílio”: “Levam-se compras a domicílio”; “Enviam-se flores a domicílio”.

    (Observe: levamos algo “a” algum lugar; e também enviamos algo “a” algum lugar.)

    Acho que assim fica mais fácil entender por que a questão B é a alternativa que deve ser escolhida.

  • Português exige tanto atenção quanto conhecimento.

  • A ordem direta seria : ''entraga sorvete sem derreter em domicílio'' ?  A regência é, quem entrega entrega algo ''em'' algum lugar.

  • entrega sem derreter sorvete a domicílio
    Houver a inversão de preposições: QUEM entrega, Entrega alguma coisa e não "sem derreter sorvete"( acho que é modo aí) algum lugar/a alguém. Entregar exige preposição direita e indireta

  • Letra B

    b) “ ...entrega sem derreter sorvete EM domicílio.

    Tais locuções podem tem dois empregos:

    EM DOMICÍLIO

    Noção estática 

    Ex: entregar, dar, cortar, fazer.


    A DOMICÍLIO

    Noção dinâmica 

    Ex: levar, enviar, trazer, ir, conduzir, dirigir-se.



  • Além da b errada, fiquei na duvida de que a letra e estivesse certa. Achei que “Opõe o peito magro ao para-choque do ônibus.” fica estranho. Eu sei que a regencia do verbo "opõe" pede: ao,  tanto quanto pede: contra. "Opõe o peito magro contra o para-choque". Apesar de gramaticalmente correto, na frase existe uma pessoa que se coloca na frente de/contra um para-choque e não se opõe ao parachoque. Nunca tinha lido dessa forma. Por isso fiquei na duvida. Se alguém souber de alguma explicação, por favor, fique à vontade.

  • Levar ao domicílio. 

    Corrigindo: Para-choques....  

  • André Jr leia explicação abaixo:


    Quando falamos de gramática normativa, temos que ter cuidado, pois a forma “a domicílio” não é aceita. A regra estabelece que essa última locução adverbial deve ser usada nos casos de verbos que indicam movimento, como: levar, enviar, trazer, ir, conduzir, dirigir-se.


    Portanto, “entrega sem derreter sorvete a domicílio” não está correto.
    Já a locução adverbial “em domicílio” é usada com os verbos sem noção de movimento: entregar, dar, cortar, fazer.
    A dúvida surge com o verbo “entregar”: não indicaria movimento? De acordo com a gramática purista não, uma vez que quem entrega, entrega algo em algum lugar. 
    Porém, há aqueles que afirmam que esse verbo indica sim movimento, pois quem entrega se desloca de um lugar para outro.

    Contudo, obedecendo às normas gramaticais, devemos usar “entrega em domicílio”, nos atentando ao fato de que a finalidade é que vale: a entrega será feita no (em+o) domicílio de uma pessoa.

    Veja alguns exemplos com “a domicílio” (= a casa)

    a) Não precisamos nos preocupar, eles trazem a pizza a domicílio.
    b) Esta entrega deverá ser conduzidaa domicílio.
    c)Dirigiu-sea domicílio para cumprir sua obrigação.

    Agora observe exemplos com “em domicílio”

    a)Fazem-se unhas em domicílio.
    b) Entregas são feitasem domicílio.
    c)Corta-se cabelo em domicílio.
    d)Dão-se aulas de violão em domicílio


    Espero ter contribuído, bons estudos!

  • Pessoal, alguém poderia me explicar porque a letra A está correta?

    pensei que seria “Não falo das conversas de gente culta...” (texto 1-§3) e não "da"

    Obrigada. 

  • Áurea,

    Ainda estou avançando na língua portuguesa, mas me atrevo a ajudar.

    A assertiva "a" está correta, pois trata-se de um exemplo de paralelismo:

    "Não falo (de - preposição) + (as - artigo) conversas (de - preposição) + (a - artigo) gente culta...” (texto 1-§3) 

    As palavras "conversas e gente", no contexto, tratam-se de núcleos (substantivos femininos), por isso admitem artigos (a) para determiná-los (função adjetiva). 

    (...) de gente, haverá apenas preposição.

    Outro exemplo de paralelismo:
    Das 8h às 20h (paralelismo: preposição + artigo, nas duas ocasiões).

    Acredito ser essa a razão!

    Bons estudos!

  • O uso das locuções “a domicílio” e “em domicílio” depende dos seguintes aspectos: 

    Com nomes e verbos estáticos, isto é, que não dão ideia de movimento e regem a preposição “em”, usa-se “em domicílio”: “Nossa pizzaria faz entrega em domicílio”; “Consertamos geladeira em domicílio”. 

    (Observe: toda entrega é feita “em” algum lugar; e  consertamos algo “em” algum lugar.) 

    Com nomes e verbos dinâmicos, isto é, que dão ideia de movimento e regem a preposição “a”, usa-se “a domicílio”: “Levam-se compras a domicílio”; “Enviam-se flores a domicílio”.

    (Observe: levamos algo “a” algum lugar; e também enviamos algo “a” algum lugar.) 
    http://www.portuguesnarede.com/2012/12/entrega-domicilio-ou-em-domicilio.html#sthash.LqOcdjBo.dpuf

  • Vamos pensar um pouco sobre os comentários já postados: Falaram que "entregar" não é movimento, claro que é movimento, mais se analisar desta forma vamos errar a questão, vamos lá.

    a) Um leitor respondeu a questão: "Não falo (de - preposição) + (as - artigo) conversas (de - preposição) + (a - artigo) gente culta...” (texto 1-§3)

    b) Pense em entregar é movimento, (a, em) se usa quando vamos ficar ou voltar, vejamos: entrega você fica com o produto ou leva de volta? lógico que se fica com a entrega, quando se fica usa em, um leito disse que nunca devemos usar em para domicilio, claro que podemos usar, depende da forma e o que se quer passar para o leitor, chegaremos a casa em 10 min, logo mais chegarei em casa, a primeira não da o sentido de ficar, pois chegaremos a casa em 10 min significa que depois teremos outra ação, exemplo: chegaremos a casa em 10 min, mais não deixa entender que vai ficar na casa, assim como falamos vou a Brasilia, da entender que vai voltar é apenas um tempo, vou em Brasilia vocês estaria falando como se não fosse voltar, é duradouro, então pensamos em rápido ou duradouro, entrega vai ficar no local entregado = duradouro (em), fazemos unhas depois vou embora (rápido), é até engraçado mais assim fica mais fácil de entender, entrega em domicílio (o produto vai ficar no local) reparo, manutenção, atividades no ambiente, que vai fazer a ação não precisa ficar ali.
    c) Na letra em questão está correta, "liberto o gênio" aqui nenhuma duvida, "acorrentado ao pedal", duvida? ao pedal ou no pedal?se usar no tem significado de sobre, ao tem significado de próximo, vou me sentar a mesa, vou me sentar na cadeira. ao pedal está perto do pedal, alternativa está correta.
    d) Praticamente a mesma coisa, o que eu quero que vocês entendam é que norma culta é como se escreve e não como falamos ou pensamos, exemplo que se fala no dia a dia quando alguém pega um ônibus: esse ônibus passa no Bosque? se o motorista souber a normal culta ele vai dizer sim, passa, por dentro do Bosque perto dos pássaros e jacarés rsrs! o correto seria ao bosque mesmo por que ele não passa sobre ou por dentro, então se você falar que está no boqueirão do bosque significa que esta sobre o boqueirão e não próximo.
    e) Aqui mais uma vez devemos analisar o tempo, coloquei o peito no para-choque ou ao para-choque? Bom se você colocou no para-choque da entendimento que seu peito vai ficar ali um bom tempo, se você colocou ao para-choque logo você já vai tira daquele, apenas que seja louco rs!
    Espero ter tirado algumas duvidas, pois tem alguns professores que não explicam dessa forma, são mais formal na explicação.
  • Quem entrega, entrega alguma coisa: O sorvete 

    EM algum lugar: EM domicílio 
  • Esses vídeos são muito pesados ,e a explicação é muito longa.

  • Quem entrega...entrega alguma coisa, A alguém, EM algum lugar

  • A explicação de o professor está perfeita . 


    Agora digam o por que, de eu não ter escrito a frase com contração da preposição de.