SóProvas


ID
1269889
Banca
INSTITUTO AOCP
Órgão
UFS
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

           Homenagem ao fracasso

Marcelo Gleiser

      Numa sociedade em que o sucesso é almejado e festejado acima de tudo, onde estrelas, milionários e campeões são os ídolos de todos, o fracasso é visto como algo embaraçoso e constrangedor, que a gente evita a todo custo e, quando não tem jeito, esconde dos outros. Talvez não devesse ser assim.
      Semana passada, li um ensaio sobre o fracasso no “New York Times” de autoria de Costica Bradatan, que ensina religião comparada em uma universidade nos EUA. Inspirado por Bradatan, resolvi apresentar minha própria homenagem ao fracasso.
      Fracassamos quando tentamos fazer algo. Só isso já mostra o valor do fracasso, representando nosso esforço. Não fracassar é bem pior, pois representa a inércia ou, pior, o medo de tentar. Na ciência ou nas artes, não fracassar significa não criar. Todo poeta, todo pintor, todo cientista coleciona um número bem maior de fracassos do que de sucessos. São frases que não funcionam, traços que não convencem, hipóteses que falham. O físico Richard Feynman famosamente disse que cientistas passam a maior parte de seu tempo enchendo a lata de lixo com ideias erradas. Pois é. Mas sem os erros não vamos em frente. O sucesso é filho do fracasso.
      Tem gente que acha que gênio é aquele cara que nunca fracassa, para quem tudo dá certo, meio que magicamente. Nada disso. Todo gênio passa pelas dores do processo criativo, pelos inevitáveis fracassos e becos sem saída, até chegar a uma solução que funcione. Talvez seja por isso que o autor Irving Stone tenha chamado seu romance sobre a vida de Michelangelo de “A Agonia e o Êxtase”. Ambos são partes do processo criativo, a agonia vinda do fracasso, o êxtase do senso de alcançar um objetivo, de ter criado algo que ninguém criou, algo de novo.
      O fracasso garante nossa humildade ao confrontarmos os desafios da vida. Se tivéssemos sempre sucesso, como entender os que fracassam? Nisso, o fracasso é essencial para a empatia, tão importante na convivência social.
      Gosto sempre de dizer que os melhores professores são os que tiveram que trabalhar mais quando alunos. Esse esforço extra dimensiona a dificuldade que as pessoas podem ter quando tentam aprender algo de novo, fazendo do professor uma pessoa mais empática e, assim, mais eficiente. Sem o fracasso, teríamos apenas os vencedores, impacientes em ensinar os menos habilidosos o que para eles foi tão fácil de entender ou atingir.
      Claro, sendo os humanos do jeito que são, a vaidade pessoal muitas vezes obscurece a memória dos fracassos passados; isso é típico daqueles mais arrogantes, que escondem seus fracassos e dificuldades por trás de uma máscara de sucesso. Se o fracasso fosse mais aceito socialmente, existiriam menos pessoas arrogantes no mundo.
      Não poderia terminar sem mencionar o fracasso final a que todos nos submetemos, a falha do nosso corpo ao encontrarmos a morte. Desse fracasso ninguém escapa, mesmo que existam muitos que acreditem numa espécie de permanência incorpórea após a morte. De minha parte, sabendo desse fracasso inevitável, me apego ao seu irmão mais palatável, o que vem das várias tentativas de viver a vida o mais intensamente possível. O fracasso tem gosto de vida.

     http://www1.folha.uol.com.br/colunas/marcelogleiser/2013/12/ 1388789-homenagem-ao-fracasso.shtml

Assinale a alternativa INCORRETA quanto ao que se afirma a seguir.

Alternativas
Comentários
  • GAB. A


    http://www.portugues.com.br/gramatica/colocacao-pronominal-.html
  • a) Em “...inevitável, me apego...”, a colocação pronominal está de acordo com a norma padrão.

    ficaria assim: inevitável, apego me, pois diante de virgula e ponto se usa enclise,

  • Devido a presença da vírgula, o pronome deve PREFERENCIALMENTE ficar depois do verbo (ênclise). No entanto, a banca considera que NÃO é possível o uso de próclise nesse caso. 

    A partir disso, a frase ficaria correta com o uso da ênclise: "..inevitável, apego-me.."

    Gabarito: A

  • apego-me. 

    Não usa pronome oblico no começo de frase!

  • D) Em “... meio que  magicamente.”, a expressão destacada pode ser substituída por ***mais ou menos.***

    Substituia e releia a frase, no minimo ficaria sem sentido. 
    Creio que as duas alternativas poderiam servir como gabarito.
     

  • a) Em "...inevitável, me apego.", a colocação pronominal está de acordo com a noma padrão.

    Errado, pois com advérbio virgulado não pode haver próclise. A ênclise deve ser usada nesses casos.

    Livro Português Descomplicado 5º Edição, página 77 - Professora Flávia Rita Sarmento

    d) Em "...meio que magicamente.", a expressão destacada pode ser substituída por mais ou menos.

    creio que está errada, pois o sentido não é o mesmo.

    meio que = como (advérbio de modo)

    mais ou menos = advérbio de intensidade.

    Alguém mais concorda?

  • depois de virgula pode usar pronome obliquo???

  • Não, João Morais. Justamente por isso que essa alternativa é a incorreta.

     

    Não há palavra atrativa e, além disso, após vírgula e ponto a ênclise é obrigatória. Portanto, o correto seria " ... inevitável, apego-me ... "

     

    Quem escolheu a busca não pode recusar a travessia - Guimarães Rosa

    ------------------- 

    Gabarito: A

  • Gabarito: A

     

    Em “...inevitável, me apego.  X

    Não posso começar oração com pronome oblíquio átono.

     

    Fonte: Adriana Figueredo.