SóProvas


ID
1290829
Banca
FEPESE
Órgão
MPE-SC
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto 2

Estamos todos surdos

Nós, brasileiros, temos uma enorme relutância em conviver com opiniões contrárias das nossas

Meu tio Élvio falava tão rápido e com um sotaque tão forte - mineirês da roça misturado a alguma coisa parecida com dialeto italiano da roça - que quase ninguém o entendia. Honesto, trabalhador, devotava-se por inteiro à família. Pouco porém participava da vida em comunidade, porque as sentenças que pronunciava, ininteligíveis, muitas vezes o colocavam em situações bastante complicadas, já que o interlocutor, não atinando com suas declarações, buscava adivinhá-las e depreendia o que melhor lhe aprouvesse. Só para se ter uma ideia do tamanho do problema, somente ao morrer descobrimos que seu nome não era Élvio, e sim Elmo. Mas, então, tarde demais. Se algum dia for a Rodeiro, verá inscrito em seu túmulo Élvio Gardone e entre parênteses Elmo Cardon.

Lembrei-me  de meu tio porque cada vez mais me assusta  a dificuldade que encontramos no dia a dia de manter diálogos, devido à perigosa incapacidade que estamos desenvolvendo de ouvir o outro. Não sei qual a explicação, mas tenho percebido que as pessoas apenas querem falar, falar, falar, e não lhes interessa saber o que outro pensa a respeito do assunto em pauta. Em geral, são como fontes, que no breu da noite continuam a verter água, impossibilitadas de refletir a paisagem em torno, encantadas unicamente pelo barulho que fazem e que a escuridão amplifica.

Mais estranho ainda é que, em tempos de redes sociais, essa dificuldade de compreensão se estende até mesmo aos textos escritos. Ou seja, as pessoas tomam um trecho e, ou por o  lerem de maneira desatenta ou por simplesmente não saberem interpretá-lo, rechaçam-no  de maneira peremptória, encontrando nele coisas que não estão ali consignadas. E assim se destroem amizades, erguem-se desavenças, mancham-se reputações. Aliás, nós, brasileiros, temos uma enorme relutância em conviver com opiniões contrárias ou divergentes das nossas. Somos cordiais com todos aqueles que, de alguma maneira, comungam conosco pontos de vista similares, mas basta o menor sinal de contrariedade para demonstrarmos toda a nossa intolerância. Como não estamos acostumados ao exercício do diálogo, ao invés de buscar convencer o outro com argumentos, partimos imediatamente para a tentativa de aniquilá-lo, utilizando subterfúgios como a chacota, o sarcasmo, a desinformação e até mesmo a canalhice  pura e simples.

RUFATTO, Luiz. Disponível em http://brasil.elpais.com/brasil/ 2014/08/12/opinion/1407871072_537360.html. Acessado em 18 de agosto de 2014.

Identifique abaixo as afirmativas verdadeiras ( V ) e as falsas ( F ), considerando o texto 2.

( ) Em “[…] que quase ninguém oentendia”, e “muitas vezes o  colocavam em situações bastante complicadas” (primeiro parágrafo), a ordem de colocação do pronome oblíquo evidencia um fenômeno de variação linguística que, nestes casos, opõe o uso desviante da regra (próclise) ao uso preconizado pela norma-padrão (ênclise).

( ) A expressão “ou seja” (terceiro parágrafo) retifica a informação dada no segmento textual precedente.

( ) As ocorrências pronominais “o”, “lo” e “no” (terceiro parágrafo) remetem ao mesmo referente, e a alteração de sua forma é determinada por fatores como a ordem de colocação e a morfologia flexional do verbo.

( ) Em “E assim se destroem amizades, erguem-se desavenças, mancham-se reputações.”, as três orações encontram-se na voz passiva sintética.

( ) Os verbos “devotava-se” (primeiro parágrafo), “lembrei-me” e “me assusta” (segundo parágrafo) são verbos pronominais, em cuja conjugação o pronome oblíquo corresponde à mesma pessoa gramatical do sujeito.

Assinale a alternativa que indica a sequência correta, de cima para baixo.

Alternativas
Comentários
  • A última proposição, sobre verbos pronominais, deixou-me com dúvida. Tenho muitos problemas com verbos pronominais: por favor, vejam se raciocinei corretamente: os verbos "Devota-se" e "Lembrei-me" são pronominais porque a ação é praticada pelo sujeito que define o pronome oblíquo ("o tio Elvio (ele) devotava-se" e "eu lembrei "). Já em "me assusta", o sujeito é o "a dificuldade", portanto, o "se"não tem função pronominal. É isso? SOS.

  • Alexandra, "verbos pronominais são aqueles que, necessariamente, são acompanhados de um pronome oblíquo (adequado à respectiva pessoa gramatical), pelo fato de denotarem ações próprias do sujeito..." A definição abrange o "se" também. A alternativa é falsa apenas por causa da divergência nas pessoas gramaticais em "me assusta", como você bem colocou.

  • A última é falsa por não se referir as mesmas pessoas gramaticais. Mais ainda se deve suspeitar por elencar termos em parágrafos diferentes.

  • Galera eu não entendi a 4ª proposição, se alguém puder me ajudar. 

  • muito bom o comentário de Ducre !

  • Letra E:

    (F) – A regra é a PRÓCLISE, pois temos palavras atrativas (ninguém – palavra de sentido negativo, no caso: pronome indefinido) -  e (muitas vezes – expressão adverbial) que obrigam o uso da próclise. O padrão (correto) é o uso da próclise.

    (..) que quase ninguém o entendia”, e “muitas vezes o  colocavam em situações bastante complicadas” (primeiro parágrafo),

    (F) – Não retifica (corrigir, consertar), RATIFICA (confirmar).

    (V) – Correta (a alteração de sua forma é determinada por fatores como a ordem de colocação e a morfologia flexional do verbo) e retomam o mesmo referente “um trecho”.

    (V) – Em todas o pronome “se” é apassivador.

    (F) - devotava-se” (verbo e pronome na terceira pessoa), “lembrei-me” (verbo e pronome na primeira pessoa) e “me assusta” (pronome na primeira pessoa e verbo na terceira pessoa). 

    Os chamados verbos pronominais são aqueles que, necessariamente, são acompanhados de um pronome oblíquo (adequado à respectiva pessoa gramatical), pelo fato de denotarem ações próprias do sujeito, como é o caso dos verbos: arrepender-se, sentar-se, queixar-se, zangar-se, pentear-se, enganar-se, entre muitos outros.



  • Errei. RUmo a PC SC! kkkkkkkkk