SóProvas


ID
1314841
Banca
IESES
Órgão
TRT - 14ª Região (RO e AC)
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

     A PERSISTIR O PEDANTISMO, O LINGUISTA DEVERÁ SER CONSULTADO


Por Aldo Bizzocchi Disponível em: http://revistalingua.uol.com.br/textos/blog-abizzocchi/a-persistir-o-pedantismo-o-linguista-devera-ser-consultado-313578-1.asp Acesso em 24 ago 2014.

   Onde há excesso de leis,em geral há falta de educação. Por exemplo, a lei que reserva um dos assentos do transporte público a idosos e deficientes só existe porque o brasileiro, via de regra, não cede espontaneamente seu lugar a uma pessoa necessitada. Em países com maior espírito de civilidade, esse tipo de regulamentação é desnecessário.
   É por termos o mau hábito da automedicação que o governo instituiu a obrigatoriedade de os anúncios de medicamentos trazerem o alerta “A persistirem os sintomas, o médico deverá ser consultado”. O problema é que essa lei, nascida da cabeça de algum parlamentar com formação bacharelesca (como grande parte de nossos políticos) e nenhuma sintonia com o povo (como a quase totalidade deles) obriga a propaganda a trazer uma mensagem que, embora destinada sobretudo às pessoas mais humildes (justamente as que, pela precariedade do serviço público de saúde, mais se automedicam), utiliza um linguajar incompreensível pelo vulgo.
   “A persistirem” é construção infinitiva pessoal equivalente ao gerúndio “persistindo”, forma esta um pouco mais corrente nos dias de hoje. Mesmo assim, “persistindo os sintomas, o médico deverá ser consultado” ainda é bastante rebuscado, já que o gerúndio, no caso, oculta uma oração condicional: “se os sintomas persistirem...” (é a chamada oração subordinada reduzida de gerúndio). Alguns comerciais até empregam, provavelmente à revelia da lei, “se persistirem os sintomas”, formulação que, embora mais transparente, ainda peca pela inversão entre sujeito e predicado.
   E quanto à oração principal? Em lugar da voz passiva de “o médico deverá ser consultado”, iria muito melhor aí a voz ativa (“deve-se consultar o médico”) ou - a mais feliz das soluções em se tratando de comunicação com o público – o uso do imperativo: “consulte o médico”.
   Em resumo, não fosse o pedantismo com que os nossos legisladores empregam a língua, como se erudição fosse índice de competência ou honestidade, eríamos um aviso muito mais simples, direto e acessível à massa: “Se os sintomas persistirem, (ou “continuarem”, ou “não passarem”), consulte o médico”.
   O mesmo vício se encontra naquele famoso aviso presente em todos os elevadores: “Antes de entrar no elevador, verifique se o mesmo encontra-se parado neste andar”. Se era para ser pedante, por que não redigiram logo algo como “Antes de adentrar o elevador, certifique-se de que o mesmo encontra-se parado no presente andar”?
   Tivesse esse aviso sido escrito por um publicitário ou marqueteiro, certamente teríamos algo simples e sucinto como “Antes de entrar no elevador, verifique se ele está parado neste andar”. E também teríamos nos livrado da péssima colocação pronominal “encontra-se” no lugar de “se encontra” (em orações subordinadas, só se usa próclise). Isto é, além de pedante, esse aviso peca pela hipercorreção.

   Também nos elevadores, há o aviso de que é proibida a discriminação de pessoas por raça, cor, credo, condição social, doença não contagiosa, etc. Só que o aviso, uma mera transcrição do texto legal, não diz “é proibido”, diz “é vedado”. Ora, a maioria das pessoas sujeitas a sofrer os tipos de discriminação elencados nessa lei certamente não sabe o que significa “vedado” (talvez os pintores de paredes pensem na vedação contra umidade). Tampouco saberiam o que é “porte e presença de doença não contagiosa por convívio social”. E assim vamos levando a vida neste país em que falta educação, civilidade e urbanidade, mas abundam leis e sobram (ou melhor, sobejam) políticos bem-falantes e mal-intencionados.

Aldo Bizzocchi
é doutor em Linguística pela USP, com pós-doutorado pela UERJ, pesquisador do Núcleo de Pesquisa em Etimologia e História da Língua Portuguesa da USP e autor de Léxico e Ideologia na Europa Ocidental (Annablume) e Anatomia da Cultura (Palas Athena). www.aldobizzocchi.com.br

Analise as proposições a seguir. Em seguida assinale a alternativa que contém a análise correta sobre elas.

I. Releia: “Por exemplo, a lei que reserva um dos assentos do transporte público a idosos e deficientes só existe porque o brasileiro, via de regra, não cede espontaneamente seu lugar a uma pessoa necessitada. Em países com maior espírito de civilidade, esse tipo de regulamentação é desnecessário.” Nesse trecho, sem que se alterasse a correção, poderíamos substituir: “pessoa” por indivíduo; e “esse tipo” por essa forma.
II. A palavra “alerta”, destacada no segundo parágrafo, também está corretamente aplicada em: Elas ficaram alerta ao sinal.
III. O prefixo “-esca”, presente na palavra “bacharelesca”, destacada no texto, imprime sentido pejorativo à palavra “bacharel”.
IV. A palavra “mau”, empregada no segundo parágrafo, é considerada homônima homógrafa da palavra “mal”. Da mesma forma, também são homônimas homógrafas as palavras “ora” e “hora”.

A sequência correta é:

Alternativas
Comentários
  • I. Releia: “Por exemplo, a lei que reserva um dos assentos do transporte público a idosos e deficientes só existe porque o brasileiro, via de regra, não cede espontaneamente seu lugar a uma pessoa necessitada. Em países com maior espírito de civilidade, esse tipo de regulamentação é desnecessário.” Nesse trecho, sem que se alterasse a correção, poderíamos substituir: “pessoa” por indivíduo; e “esse tipo” por essa forma. 

    ERRADO


    II. A palavra “alerta”, destacada no segundo parágrafo, também está corretamente aplicada em: Elas ficaram alerta ao sinal. 

    CORRETO: "Alerta" (= atentamente, de prontidão, em estado de vigilância) é advérbio e, portanto, invariável.


    III. O prefixo “-esca”, presente na palavra “bacharelesca”, destacada no texto, imprime sentido pejorativo à palavra “bacharel”.

    ERRADO: dá sentido de propriedade (próprio dos bacharéis)


    IV. A palavra “mau”, empregada no segundo parágrafo, é considerada homônima homógrafa da palavra “mal”. Da mesma forma, também são homônimas homógrafas as palavras “ora” e “hora”.

    ERRADO:São homófonas (mesmo som)


    Espero ter ajudado.

  • Interessante que o próprio dicionário afirma:

    ba·cha·re·les·co |ê| 
    (bacharel + -esco)

    adjetivo

    1. [Depreciativo]  Relativo a bacharel.

    2. Próprio de bacharel.


  • Complementando... prefixo se adiciona no início de uma palavra por isso o III está ERRADO.

  • I. Releia: “Por exemplo, a lei que reserva um dos assentos do transporte público a idosos e deficientes só existe porque o brasileiro, via de regra, não cede espontaneamente seu lugar a uma pessoa necessitada. Em países com maior espírito de civilidade, esse tipo de regulamentação é desnecessário.” Nesse trecho, sem que se alterasse a correção, poderíamos substituir: “pessoa” por indivíduo; e “esse tipo” por essa forma. 

    ESTÁ ERRADO, PORQUE AO TROCAR AS PALAVRAS DEVERÍAMOS FAZER AS CONCORDÂNCIAS NOMINAIS.

    II. A palavra “alerta”, destacada no segundo parágrafo, também está corretamente aplicada em: Elas ficaram alerta ao sinal. 

    DESSA ASSERTIVA EU DISCORDO, POIS NO TEXTO A PALAVRA ALERTA VEM ANTECEDIDA DE UM ARTIGO, O QUE INDICA PROCESSO DE SUBSTANTIVAÇÃO PASSANDO DE ADVÉRBIO A SUBSTANTIVO E NO EXEMPLO DA ASSERTIVA ESTÁ COMO ADVÉRBIO. 

    O QUE PODE VALIDAR TAL QUESTÃO, PODE SER OS TERMOS "TAMBÉM" ESTÁ CORRETAMENTE APLICADA, NÃO SENDO =, MAS CORRETA, CADA UMA EM SEU CASO.

    III. O prefixo “-esca”, presente na palavra “bacharelesca”, destacada no texto, imprime sentido pejorativo à palavra “bacharel”. 

    ESTÁ ERRADO, PORQUE NÃO É PREFIXO É SUFIXO


    IV. A palavra “mau”, empregada no segundo parágrafo, é considerada homônima homógrafa da palavra “mal”. Da mesma forma, também são homônimas homógrafas as palavras “ora” e “hora”. 

    ESTÁ ERRADO, PORQUE SÃO HOMÓFONAS ( = SOM)

    :)

  • HOMÔNIMOS : palavras iguais na pronuncia e/ou na grafia, mas com significados diferentes. ex: os alunos são estudiosos / o garoto ficou são.
    .HOMÓFONOS : pronuncia igual e grafia diferente. ex: caçar(perseguir) / cassar (anular, revogar).
    .HOMÓGRAFO: grafia igual e pronuncia diferente. ex: jogo( timbre fechado = recreação) / jogo( timbre aberto= forma do verbo jogar).
  • A II entendo que está errada, veja: Elas ficaram alerta ao sinal. Ficaram é v. de ligação, liga o sujeito a um caractere(predicativo do sujeito), que é alerta. Então alerta tem que concordar com Elas. Assim deveria ficar "Elas ficaram alertas ao sinal". Se alerta fosse advérbio, não daria certo a troca por outro advérbio, veja: Elas ficaram atentamente ao sinal. Olhe agora essa frase: Elas olharam alerta o sinal. Agora vamos fazer a trova por outro adverbio: Elas olharam atentamente o sinal. Estou errado?

  • Um SACO esse lance de repetir questões hein.. Já resolvi essa umas 10 vezes no mínimo.

     

     

  • Leitor quer saber se “eles precisam ficar mais alerta OU alertas”.

    O correto é “eles precisam ficar mais alerta”.

    Nessa frase, ALERTA é advérbio, por isso não se flexiona (gênero e número).

    ALERTA vai para o plural quando funciona como adjetivo: “pessoas alertas”, “soldados alertas”.

    ALERTA pode ser também um substantivo masculino (= sinal, ordem, aviso para estar vigilante): “Deu vários alertas”.