SóProvas


ID
134212
Banca
FCC
Órgão
PGE-RJ
Ano
2009
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Cronistas

Profissão das mais invejáveis, a de cronista. Regularmente,
deve escrever e enviar um pequeno texto para um jornal,
tratando de qualquer coisa com alguma graça, ou com
melancolia, ou com desbragado humor, ou mesmo com solene
poesia. Se não lhe ocorre qualquer assunto, sempre pode discorrer
sobre a falta de assunto. E se uma grande ideia de repente
o assalta, ótimo, ela bem poderá render uma sequência
de três ou quatro crônicas. A imaginação entra em greve? Puxa
uma revista ou jornal e faz uma disfarçada paráfrase da matéria
que um repórter levou tempo para apurar. Ou que tal vingar-se
da amada que o abandonou, colocando-a como protagonista de
uma cena tão imaginária como ridícula?
Não se ganha muito dinheiro, em geral, mas sempre dá
para pagar as pequenas dignidades. E há também quem alimente
a esperança de que o exercício da crônica leve ao do conto,
e este ao romance, de tal forma que, de repente, passe a ser reconhecido
como um escritor de verdade. Esta é a ambição de
um cronista não-convicto: começar a ser considerado um
Escritor.
Mas essa condição de Escritor, vista sob outra
perspectiva, pode não ser tão invejável como a de um cronista:
aquele tem que tratar, em centenas de páginas, dos grandes
dramas humanos, das aflições intensas de um ou mais indivíduos,
das paixões profundas, dos amplos painéis sociais etc.
E aí ele não consegue mais ver sentido em escrever trinta
linhas sobre, por exemplo, o prazer que é abrir numa manhã a
janela e ver passar na calçada a beleza distraída de uma moça
apressada, que vira a esquina e desaparece para sempre.
Talvez para não perder a oportunidade de registrar o encanto
do efêmero, talvez por preguiça, há cronistas, como Rubem
Braga, que jamais deixam de ser tão-somente cronistas. "Tãosomente",
aliás, não se aplica, em absoluto, a esse admirável
Escritor de crônicas. Quem as conhece não recusará ao velho
Braga esse E maiúsculo, que o identifica como um dos maiores
autores da nossa literatura.

(Eleutério Damásio, cronista inédito)

Crônicas? Muita gente está habituada a ler crônicas, mas nem todos concedem às crônicas um valor equivalente ao de outros gêneros; alegam faltar às crônicas a altitude de um romance, e deixam de reconhecer as crônicas como vias de acesso imediato à poesia do dia-a-dia.

Alternativas
Comentários
  • letra correta: B
     
    a) ler crônicas – Objeto direto, lê-las
    b) concedem às crônicas - Objeto indireto, lhes concedem
    c)faltar às crônicas - Objeto indireto, faltar-lhes
    d) reconhecer as crônicas - Objeto direto, reconhecê- las
  • Tenho uma dúvida, sempre aprendi que o pronome "lhe" só poderia ser utilizado para referir-se a pessoas, e não a coisas.

    Alguém concorda com essa informação?
  • O pronome lhe é utilizado paar substituir pessoa mesmo. Mas é sabido que as bancas ESAF e FCC consideram o uso desse pronome para atribuir tanto pessoa como coisa.

  • Roggia, a Cristiane explicou muito bem a questão.

    Vc vai usar "lhe" de acordo com a transitividade do verbo. Toda vez que for VTI (verbo transitivo indireto) usa-se o "lhe" (objeto indireto).

    É melhor ir pela regra do que ver se é pessoa ou coisa...

  • Para não errar mais:

     

    pronome "o" e equivalentes (os, as, a): exerce função sintática apenas de objeto direto;

    pronomes "lhe" e "lhes": exerce função sintática objeto indireto e outros, mas nunca de objeto direto;

     

    Logo, temos que:

     

    "Muita gente está habituada a ler crônicas ... " (ler é VTD, logo, seu complemento deve ser um objeto direto)

     

    " ... mas nem todos concedem às crônicas .... " (conceder é VTDI, logo, seu complemento deve ser um objeto direto "um valor equivalente" e outro indireto)

     

    " ... alegam faltar às crônicas a altitude ... " (faltar é VTDI, logo, seu complemento deve ser um objeto direto "a altitude" e outro indireto)

     

    " ... deixam de reconhecer as crônicas como vias ... " (reconhecer é VTD, logo, seu complemento deve ser um objeto direto)

     

    No mais, a questão de colocação pronominal vai da existência ou não de palavras atrativas que justifiquem a próclise. Apenas no 2º caso temos um termo atrativo, qual seja, "nem" que torna a próclise obrigatória. Nos demais casos, a ênclise é obrigatória.

     

    Quem escolheu a busca não pode recusar a travessia - Guimarães Rosa

    ------------------- 

    Gabarito: B