SóProvas


ID
1357561
Banca
IBFC
Órgão
PC-SE
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Eficiência militar
(Historieta Chinesa)

LI-HU ANG-PÔ, vice-rei de Cantão, Império da China, Celeste Império, Império do Meio, nome que lhe vai a calhar, notava que o seu exército provincial não apresentava nem garbo marcial, nem tampouco, nas últimas manobras, tinha demonstrado grandes aptidões guerreiras.

Como toda a gente sabe, o vice-rei da província de Cantão, na China, tem atribuições quase soberanas. Ele governa a província como reino seu que houvesse herdado de seus pais, tendo unicamente por lei a sua vontade.

Convém não esquecer que isto se passou, durante o antigo regime chinês, na vigência do qual, esse vice-rei tinha todos os poderes de monarca absoluto, obrigando-se unicamente a contribuir com um avultado tributo anual, para o Erário do Filho do Céu, que vivia refestelado em Pequim, na misteriosa cidade imperial, invisível para o grosso do seu povo e cercado por dezenas de mulheres e centenas de concubinas. Bem.

Verificado esse estado miserável do seu exército, o vice- rei Li-Huang-Pô começou a meditar nos remédios que devia aplicar para levantar-lhe o moral e tirar de sua força armada maior rendimento militar. Mandou dobrar a ração de arroz e carne de cachorro, que os soldados venciam. Isto, entretanto, aumentou em muito a despesa feita com a força militar do vice-reinado; e, no intuito de fazer face a esse aumento, ele se lembrou, ou alguém lhe lembrou, o simples alvitre de duplicar os impostos que pagavam os pescadores, os fabricantes de porcelana e os carregadores de adubo humano - tipo dos mais característicos daquela babilônica cidade de Cantão.

Ao fim de alguns meses, ele tratou de verificar os resultados do remédio que havia aplicado nos seus fiéis soldados, a fim de dar-lhes garbo, entusiasmo e vigor marcial.

Determinou que se realizassem manobras gerais, na próxima primavera, por ocasião de florirem as cerejeiras, e elas tivessem lugar na planície de Chu-Wei-Hu - o que quer dizer na nossa língua: “planície dos dias felizes”. As suas ordens foram obedecidas e cerca de cinqüenta mil chineses, soldados das três armas, acamparam em Chu-Wei-Hu, debaixo de barracas de seda. Na China, seda é como metim aqui.

Comandava em chefe esse portentoso exército, o general Fu-Shi-Tô que tinha começado a sua carreira militar como puxador de tílburi* em Hong-Kong. Fizera-se tão destro nesse mister que o governador inglês o tomara para o seu serviço exclusivo.

Este fato deu-lhe um excepcional prestígio entre os seus patrícios, porque, embora os chineses detestem os estrangeiros, em geral, sobretudo os ingleses, não deixam, entretanto, de ter um respeito temeroso por eles, de sentir o prestígio sobre­ humano dos “diabos vermelhos”, como os chinas chamam os europeus e os de raça europeia.

Deixando a famulagem do governador britânico de Hong- Kong,Fu-Shi-Tô não podia ter outro cargo, na sua própria pátria, senão o de general no exército do vice-rei de Cantão. E assim foi ele feito, mostrando-se desde logo um inovador, introduzindo melhoramentos na tropa e no material bélico, merecendo por isso ser condecorado, com o dragão imperial de ouro maciço. Foi ele quem substituiu, na força armada cantonesa, os canhões de papelão, pelos do Krupp; e, com isto, ganhou de comissão alguns bilhões de taels* que repartiu com o vice-rei. Os franceses do Canet queriam lhe dar um pouco menos, por isso ele julgou mais perfeitos os canhões do Krupp, em comparação com os do Canet. Entendia, a fundo, de artilharia, o ex-fâmulo do governador de Hong-Kong.

O exército de Li-Huang-Pô estava acampado havia um mês, nas “planícies dos dias felizes”, quando ele se resolveu a ir assistir-lhe as manobras, antes de passar-lhe a revista final.

O vice-rei, acompanhado do seu séquito, do qual fazia parte o seu exímio cabeleireiro Pi-Nu, lá foi para a linda planície, esperando assistir a manobras de um verdadeiro exército germânico. Antegozava isso como uma vítima sua e, também, como constituindo o penhor de sua eternidade no lugar rendoso de quase rei da rica província de Cantão. Com um forte exército à mão, ninguém se atreveria a demiti-lo dele. Foi.

Assistiu às evoluções com curiosidade e atenção. A seu lado, Fu-Shi-Pô explicava os temas e os detalhes do respectivo desenvolvimento, com a abundância e o saber de quem havia estudado Arte da Guerra entre os varais de um cabriolet*.

O vice-rei, porém, não parecia satisfeito. Notava hesitações, falta de élan na tropa, rapidez e exatidão nas evoluções e pouca obediência ao comando em chefe e aos comandados particulares; enfim, pouca eficiência militar naquele exército que devia ser uma ameaça à China inteira, caso quisessem retirá-lo do cômodo e rendoso lugar de vice-rei de Cantão. Comunicou isto ao general, que lhe respondeu:

- É verdade o que Vossa Excelência Reverendíssima, Poderosíssima, Graciosíssima, Altíssima e Celestial diz; mas os defeitos são fáceis de remediar.
- Como? perguntou o vice-rei.
- É simples. O uniforme atual muito se parece com o alemão: mudemo-lo para uma imitação do francês e tudo estará sanado.

Li-Huang-Pô pôs-se a pensar, recordando a sua estadia em Berlim, as festas que os grandes dignatários da corte de Potsdam lhe fizeram, o acolhimento do Kaiser e, sobretudo, os taels que recebeu de sociedade com o seu general Fu-ShiPô... Seria uma ingratidão; mas... Pensou ainda um pouco; e, por fim, num repente, disse peremptoriamente:
- Mudemos o uniforme; e já!

(Lima Barreto)

*tael:unidade monetária e de peso da China;
*cabriolet:tipo de carruagem;
*tílburi: carro de duas rodas e dois assentos comandados por um animal.
*famulagem:grupo de criados

O trecho abaixo transcrito revela a insatisfação de LI-HU ANG-PÔ, vice-rei de Cantão, com o seu exército. Utilize-o para responder às questões de 10 a 13.

“O vice-rei, porém, não parecia satisfeito. Notava hesitações, falta de élan na tropa, rapidez e exatidão nas evoluções e pouca obediência ao comando em chefe e aos comandados particulares; enfim, pouca eficiência militar naquele exército que devia ser uma ameaça à China inteira, caso quisessem retirá-lo do cômodo e rendoso lugar de vice-rei de Cantão. 

Comunicou isto ao general, que lhe respondeu: 
- É verdade o que Vossa Excelência Reverendíssima, Poderosíssima, Graciosíssima, Altíssima e Celestial diz; mas os defeitos são fáceis de remediar.”

A oração “que lhe respondeu” tem sua correta classificação sintática indicada em:

Alternativas
Comentários
  • Mas as orações subordinadas adjetivas explicativas vêm isoladas por virgulas, acho que é o caso desta oração

  • Se levarmos em consideração apenas a oração citada na questão, fica difícil de responder. Contudo, se observarmos o texto, fica mais fácil.

    * Primeiro: se conseguimos substituir o "QUE" pelo "O QUAL"  (Comunicou isto ao general, O QUAL lhe respondeu), já podemos afirmar que é uma oração adjetiva. 

    *Segundo: para distinguir se é O.S. Adjetiva Explicativa ou O. S. Adjetiva Restritiva, basta observar novamente o texto e lembrar da regra: RESTRITIVA nunca tem vírgula; EXPLICATIVA vem isolada entre duas vírgulas ou entre uma vírgula e um ponto. Neste caso, a oração está isolada entre uma vírgula e os dois pontos, portanto, é explicativa.

  • "Comunicou ISTO ao general, QUE LHE RESPONDEU:" 

    Acredito que seja explicativa porque "ele" não comunicou "isto" a qualquer general, mas aquele que lhe respondeu. O "que lhe respondeu" explica para qual general ele comunicou. 

  • Vamos dividir as orações: Comunicou isto ao general, que lhe respondeu: 

    1. Comunicou isto ao General.

    2. O General lhe respondeu.

    Com isso já dá para dizer que o "que" é um pronome relativo, pois se refere ao General. Se tem pronome relativo posso dizer que a oração "que lhe respondeu" é um adjunto adnominal que está caracterizando o substantivo General, dizendo que ele respondeu, sendo precedida de vírgula. Isso mostra que é um Oração Subordinada Adjetiva Explicativa.

  • Explicativa e vírgula tudo a ver, Restritiva e vírgula nada a ver.

  • Pessoal, a forma mais simples, para mim, de resolver essa questão, e que resume os comentários aqui, é a seguinte:

    "Comunicou isto ao general, que lhe respondeu:"

    - Esse "que" é relativo > General (antecedente). Dessa forma, essa oração é Subordinada Adjetiva > exerce função de adjetivo e pode ser introduzida por pronome relativo (referindo-se a um antecedente) e pronome indefinido "quem" (sem antecedente);

    - As orações sub. adj. explicativas VEM ENTRE VÍRGULAS; < Gabarito >

    - As orações sub. adj, restritivas NÃO VEM ENTRE VÍRGULAS.

    Bons estudos e boa sorte!!!

  • Pelo que entendi esta pedindo para analisar somente a parte "que lhe respondeu:" da pra eliminar apenas uma sabendo-se que se trata de oração subordina. Minha duvida foi em razão da APOSITIVA, pois termina com dois pontos, fiquei entre letra A e C, não tive a maldade de analisar todo o contexto. =(

  • Muito boa sua explicação, Vinícius Cerqueira.

  • Errei essa questão.

    Pois lembrei que ao retirar Orações Adj Explicativas não fazem diferença. 

    Tirando "que lhe respondeu" perde o sentido.

  • Comunicou isto ao general, que(ao qual ) lhe respondeu : ExpliCativa= Com vírgula

    Comunicou isto ao general que(ao qual) lhe respondeu : Restritiva=  SEM VÍRGULA

    segue os estudos ! 

  • Comunicou(1) isto ao general, que(2) lhe respondeu(1).


    *VAMOS BRINCAR DE ANÁLISE SINTÁTICA
    1. ACHE OS VERBOS
    2. VEJA SE O "QUE" É CONJUNÇÃO INTEGRANTE OU PRONOME RELATIVO...
    * E COMO FAÇO ISSO... VEJA SE DÁ PRA TROCAR POR (ISSO), SE DER, ENTÃO SERÁ CONJUNÇÃO

    3.SE FOR PRONOME RELATIVO A ORAÇÃO SERÁ CHAMADA DE ORAÇÃO SUBORDINADA ADJETIVA
    *JÁ QUE TEM DOIS VERBOS E HÁ UMA ORAÇÃO PRINCIPAL E OUTRA SUBORDINADA, ESTA CONTENTO O "QUE" PRONOME

    4. SE TIVER VÍRGULA ANTES DO QUE : SERÁ ORAÇÃO SUBORDINADA ADJETIVA EXPLICATIVA
        SE NÃO TIVER VÍRGULA ANTES DO QUE : SERÁ ORAÇÃO SUBORDINADA ADJETIVA RESTRITIVA
    ** SE COLOCAR OU TIRARMOS A VÍRGULA MUDAREMOS O SENTIDO ( isso despenda em questões da Cespe )

    GABARITO "A"
  • ótima explicação Eliel!

  • Complementando:

    Orações Subordinadas Substantivas Apositivas

    Funcionam como aposto da principal; vêm normalmente separadas por dois-pontos, vírgula ou travessão.

    – Quero apenas uma coisa de você: que aprenda português.

    – Tenho um grande sonho, que você aprenda português!

    – A minha vontade – que você aprenda português – se realizou.

    Obs.: A conjunção integrante da oração apositiva pode vir implícita: “Corre um boato na

    principal rede de televisão, a saber: (que) o dono da emissora pretende vendê-la.”.


    Fonte: A Gramática para Concursos( Fernando Pestana. pg. 818)

  • Gabarito: A  Oração subordinada adjetiva explicativa

    Comunicou isto ao general, que lhe respondeu

    c: com; v: vírgula.

     

     

  • expliCativa: Com vírgulas

    reStritiva: Sem vírgulas

  •  a)Oração subordinada adjetiva explicativa

    è OSAE porque está explicando o objeto do período. Se fosse oração subordinada adjetiva restritiva viria sem virgula, cujo significado seria de que haveria vários generais e o narrador esta referindo àquele que respondeu.

  • Ótima dica, Lucas Bernardo!
  • esta certinho, pois esta isolada por pontuacao.

  • explicativa = com vírgula

    restritiva = sem vírgula

  • A

    A

  • Comunicou isto ao general, que lhe respondeu:

    Pronome Relativo>> "que" troque por "o qual"

    Comunicou isto ao general, o qual  lhe respondeu:

     

  • ...Comunicou isto ao general, [O QUAL] que lhe respondeu...

    Oração subordinada adjetiva explicativa. Olhe a virgula.

  • o pronome relativo ~QUE~sempre introduz uma oraçao subordinada substantiva ADJETIVA

  • Observe que o "QUE" é um pronome relativo (pode ser trocado por "o qual")

    Nesse caso, a oração será subordinada adjetiva.

    MACETÃO:

    Explicativa - Entre vírgulas

    reStritiva - Sem vírgulas

    "Comunicou isto ao general, que lhe respondeu:" (Vejam que apareceu a vírgula)

    Gabarito: A - Oração subordinada adjetiva explicativa

  • troca o "que" pelo "o qual" , se tiver sentindo é pronome relativo, função de adjetivo.

    "comunicou ao general, O QUAL lhe respondeu"

  • GABARITO - A

    ORAÇÃO SUBORDINADA ADJETIVA EXPLICATIVA!

  • Custa sublinhar o texto, IBFC?

  • Por que não a letra C ?

  • GABARITO A