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ID
1388602
Banca
MPE-RS
Órgão
MPE-RS
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos




1          Segundo o historiador norte-americano Robert Darnton, o Iluminismo pode explicar qualquer coisa
2       em qualquer área de realização humana a partir do século XVIII. É fato que letrados europeus da
3      primeira metade daquele século utilizavam expressões que remetiam à luz da sabedoria em
4       contraposição às trevas da ignorância. Esta fórmula, entretanto, não era nova – e também podia ser,
5       em certa medida, uma transposição do processo religioso bem versus mal presente nas tradições
6       cristãs. Esta dualidade está na própria raiz do Renascimento moderno, entre os séculos XV e XVI,
7      sobretudo em sua crítica à Europa da Idade Média. Luz, luzes, ideias luminosas, esclarecimento eram
8       expressões que os iluministas utilizavam para caracterizar seu programa – que incorporava uma nova
9       atitude em relação ao conhecimento.
10          O livro-manifesto desta nova atitude é O experimentador, publicado por Galileu em 1623. Este livro
11      foi inspirado no trabalho do português Estevão Rodrigues de Castro. O livro se chama Microcosmo dos
12      meteoros e foi publicado em Florença em 1621. Castro reafirmava princípios supostamente sepultados
13      pela autoridade científica acadêmica e religiosa da sua época. O experimentador, por sua vez, escrito
14      de maneira polêmica e opondo-se diretamente ao conhecimento oficial, lançado com uma estratégia
15      de publicidade que incluía o apoio do próprio papa, que aprovou o livro publicamente sem tê-lo lido,
16      teve enorme impacto.
17          Segundo o filósofo alemão Ernest Cassirer, o século XVIII vai na mesma direção deste manifesto e
18      rejeita terminantemente ________ filosofia do conhecimento confrontada por Galileu no século XVII:
19      a dedução a partir de um princípio incontestável, capaz de ser sustentado unicamente pela tradição. A
20      filosofia da época, ao contrário, adotaria um método essencialmente diverso: a análise (ou crítica).
21          O historiador alemão Reinhart Koselleck, autor de Crítica e crise (1959), também remonta o
22      problema ao século XVII, no qual esta transformação no método do conhecimento se relaciona com
23      as discussões sobre a vida pública. Para ele, a questão é indissociável da constituição do Estado
24      absolutista em meio ________ guerras religiosas. A guerra civil na Inglaterra (1642-1651) impediu
25      momentaneamente, segundo ele, a formação do Estado moderno. Mas acabou sendo o motivo do
26      erguimento do Absolutismo, contra o qual, no século XVIII, se formaria esta crítica que chamamos de
27      'Esclarecimento'.
28          Acompanhando a consolidação da nova ordem monárquica do final do século XVII, Koselleck
29      observa o apaziguamento das forças internas. De um lado, foi estabelecida uma esfera política,
30      própria do rei, destituída do julgamento sobre o que é certo ou errado (ou seja, uma moral), e que
31      obedece unicamente ________ razão de Estado. De outro, uma esfera privada, que pode ser moral,
32      na qual os filósofos estão livres para exercer a razão propriamente dita, isto é, o pensamento crítico
33      sistemático.
34          Assim, no período em que os conflitos religiosos se generalizaram, alguns letrados observaram que
35      a liberdade de consciência – e de crítica – era incompatível com a paz: a discordância pública sobre o
36      que era certo ou errado levaria ________ guerra. Deste modo passaria a existir uma nítida divisão
37      entre o mundo exterior, político, no qual só quem fala é o monarca, e o mundo interior, em que o
38      indivíduo esconde a sua consciência. É justamente aí, no espaço secreto da consciência, que vai se
39      desenvolver o Iluminismo, ou Esclarecimento.
40          O processo do Esclarecimento é a projeção para o mundo público desta nova racionalidade. Isso
41      terá um impacto ainda maior na medida em que o século XVIII vai conhecer uma inédita expansão da
42      alfabetização e um significativo barateamento da produção de textos. Um autor que simboliza esta
43      transposição de atitude de um mundo privado e científico para um mundo público e político é John
44      Locke. Para ele, a capacidade individual de formar juízo existe independente da vontade do soberano,
45      independente da autorização estatal, e extrapola a consciência individual. A sociedade se submete às
46      suas próprias leis morais, que têm a mesma importância das leis civis. Forma-se, paulatinamente, a
47      chamada “opinião pública”, capaz de definir o que é uma ação virtuosa – que deve ser encorajada, e
48      uma ação viciosa – que é objeto de censura.

          Adaptado de: ELIAS, R. Os filósofos do século XVIII só concordavam em um único ponto: podiam discordar, publicamente,
usando a razão. Disponível em: < http://www.revistadehistoria.com.br/secao/capa/essa-luzEssa luz >. Acesso em: 1 out. 2014.



Assinale com V (verdadeiro) ou com F (falso) as seguintes afirmações acerca de segmentos do texto.

( ) Os segmentos ao conhecimento (l. 9) e das forças internas (l. 29) exercem a mesma função sintática nos contextos em que ocorrem.
( ) A forma verbal acabou (l. 25) tem como sujeito o segmento [d] o Estado moderno (l. 25).
( ) O artigo definido a (l. 38) que se encontra antes de sua (l. 38) poderia ser suprimido, sem acarretar erro gramatical ou alteração de significado.
( ) A expressão na medida em que (l. 41) poderia ser substituída por à medida em que, sem que isso acarretasse incorreção.

A sequência correta de preenchimento dos parênteses, de cima para baixo, é

Alternativas
Comentários
  • Comentário sobre a 1ª afirmação...

    I) "Luz, luzes, ideias luminosas, esclarecimento eram expressões que os iluministas utilizavam para caracterizar seu programa - que incorporava uma nova atitude em relação ao conhecimento."

    II) "Acompanhando a consolidação da nova ordem monárquica do final do século XVII, Koselleck observava o apaziguamento das forças internas."

    Ou:

    I) Seu programa incorporava uma nova atitude em relação ao conhecimento.

    Sujeito: "Seu programa"

    Verbo: "incorporava"

    Predicado: "uma nova atitude", sendo que "em relação ao conhecimento" restringe o predicado (valor de adj. adnominal).

    II) Koselleck observava o apaziguamento das forças internas.

    Sujeito: "Koselleck"

    Verbo: "observava"

    Predicado: "o apaziguamento", sendo que "das forças internas" complementa o predicado (valor de adj. adnominal).

  • 1. Os segmentos ao conhecimento (l. 9) e das forças internas (l. 29) exercem a mesma função sintática nos contextos em que ocorrem.

    AFIRMAÇÃO CORRETA: ambos são adjuntos adnominais.

     

    2. A forma verbal acabou (l. 25) tem como sujeito o segmento [d] o Estado moderno (l. 25).

    AFIRMAÇÃO ERRADA: O sujeito do verbo acabou é "Guerra Civil".

     

    3. O artigo definido a (l. 38) que se encontra antes de sua (l. 38) poderia ser suprimido, sem acarretar erro gramatical ou alteração de significado.

    AFIRMAÇÃO ERRADA: Nessa questão eu fiquei com dúvidas, optei por errada por exclusão.

     

    4. A expressão na medida em que (l. 41) poderia ser substituída por à medida em que, sem que isso acarretasse incorreção.  
    AFIRMAÇÃO ERRADA: Aqui há uma troca se significado.

    À medida que é uma locução conjuntiva proporcional, logo, expressa ideia de proporção. Uma oração que contenha “à medida que” é subordinada à principal e mantém uma comparação com a mesma de igualdade, de aumento ou diminuição.

    Na medida em que é uma locução conjuntiva causal, logo, haverá noções de causa/consequência ou efeito nas orações que tiverem tal expressão. Pode ser substituída pelas equivalentes “uma vez que”, “porque”, “visto que”, “já que” e “tendo em vista que”.

     

    Fonte: http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=princípio

  • Aguardando o comentário do professor... Eu acho que a assertiva I é complemento nominal e não adjunto adnominal. 

  • Assertiva III: Verdadeira, pois colocar artigos definidos antes de pronomes possessivos é caso facultativo. 

    O pronome possessivo já está definindo de quem é a consciência. O uso do artigo é facultativo na língua portuguesa.

  • ( V) Os segmentos ao conhecimento (l. 9) e das forças internas (l. 29) exercem a mesma função sintática nos contextos em que ocorrem.

    AFIRMAÇÃO CORRETA: ambos são COMPLEMENTO NOMINAL

    COMPLEMENTO NOMINAL: 1 O termo complementado é sempre abstrato:  RELAÇÃO,  O APAZIGUAMENTO.

                                                    2  O complemento é sempre paciente ,( sofre a ação), algo se referia ao CONHECIMENTO. FORÇAS INTERNAS ERAM APAZIGUADAS

                                                                                                                                               

     (F). A forma verbal acabou (l. 25) tem como sujeito o segmento [d] o Estado moderno (l. 25).

    AFIRMAÇÃO ERRADA: O sujeito do verbo acabou é "Guerra Civil".

    (  V) O artigo definido a (l. 38) que se encontra antes de sua (l. 38) poderia ser suprimido, sem acarretar erro gramatical ou alteração de significado.

    AFIRMAÇÃO CORRETA:  É facultativo o uso de artigo (A) antes de pronome possessivo (sua)

    (F) A expressão na medida em que (l. 41) poderia ser substituída por à medida em que, sem que isso acarretasse incorreção.  
    AFIRMAÇÃO ERRADA:  À MEDIDA QUE significa proporção, NA MEDIDA EM QUE significa causa/ consequência