SóProvas


ID
1392136
Banca
FCC
Órgão
Câmara Municipal de São Paulo - SP
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Reféns da palavra

Durante muito tempo, os gregos desconfiaram da palavra escrita como a linguagem cifrada de um mundo obscuro que só levava à danação, diferentemente do que se aprende “de cor”, ou com o coração, como está na etimologia. Homero, o inventor da literatura ocidental, era maior porque também nunca escrevera nada e suas estrofes inaugurais tinham sido transmitidas oralmente, de coração em coração.

Meu convívio forçado com o computador, sua conveniência, seus mistérios e seus perigos, me faz pensar muito sobre a precariedade da palavra. Pois um pré-eletrônico como eu está sempre na iminência de ver textos inteiros desaparecerem sem deixar vestígio na tela. O computador nos transforma todos em reféns sem fuga possível da palavra e pode acabar, num segundo, com um dia inteiro de trabalho da pobre musa dos cronistas em trânsito. Ao mesmo tempo, nos transformou na primeira geração da História que tem toda a memória do mundo ao alcance de um dedo.

O computador resgata a memória como mestre da História ou, ao contrário, nos exime de ter memória própria, e decreta o domínio definitivo da escrita sobre quem a pratica? Sei lá. É melhor acabar aqui antes que este texto desapareça.

(Adaptado de: VERISSIMO, Luis Fernando. Diálogos impossíveis. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012. p. 58)

Na frase Há pessoas que, muito além de demonstrarem interesse pelo computador como uma preciosa ferramenta de trabalho, fazem dele um amigo íntimo, uma companhia indispensável,

Alternativas
Comentários
  • Verbo ''haver'' e suas diferentes construções


    “Haverão mudanças, mas creio que serão pequenas.”

    O verbo “haver”, no sentido de “ocorrer” ou “existir”, é impessoal. Isso quer dizer que permanece na terceira pessoa do singular, pois não tem sujeito.

    A confusão é frequente não só na hora de escrever mas também na hora de falar. Muita gente faz a flexão do verbo, como se seu objeto direto fosse seu sujeito. É possível que a origem do erro esteja na analogia com os verbos “existir” e “ocorrer”. Estes têm sujeito – e, portanto, as flexões de número e pessoa – e costumam antepor-se a ele. Assim:

    Ocorrerão mudanças.

    Existirão mudanças.


    Com o verbo “haver”, a história é outra:

    Haverá mudanças.


    É importante observar que os verbos auxiliares assumem o comportamento dos verbos principais. Assim, temos o seguinte:


    Deverão ocorrer mudanças.

    Deverão existir mudanças.

    Deverá haver mudanças.


    Não se pode, no entanto, dizer que o verbo “haver” nunca vai para o plural, pois isso não é verdade. Ele pode, por exemplo, ser um verbo auxiliar (sinônimo de “ter” nos tempos compostos), situação em que pode ir para o plural. Assim:

    Eles haviam chegado cedo.

    Eles tinham chegado cedo


    Fique claro, portanto, que é no sentido de “existir” e de “ocorrer”, bem como na indicação de tempo decorrido (Há dois anos...), que o verbo “haver” permanece invariável. Assim:

    Haverá mudanças, mas creio que serão pequenas.

  • Alguém poderia justificar as alternativas? 

  • Vamos lá aos comentários das alternativas 

    a) Há (sentido de existir - oração sem sujeito - VTD)  ///// Pessoas (objeto direto do verbo HAVER)


    b) "interesse pelo computador" ("Interesse" {por} - VTI) + ("pelo computador" - objeto indireto)


    c) "fazem dele um amigo íntimo"  --> amigo íntimo dele --> "dele"  relaciona-se a AMIGO --> "amigo" é substantivo concreto, portanto Adjunto Adnominal


    d) "um amigo íntimo" + "uma companhia indispensável" --> dão ideias adição sobre o computador


    e) 

    "muito além de" --> comparação 

    "tanto mais quanto" --> proporção

  • Valeu Matheus Vasconcelos, excelente comentário.

    Mesmo visualizando a "A", marquei a D por entender que "se é amigo íntimo " não é compania indispensavel, se é companhia indispensável não seria amigo íntimo.

  • Flam falam falam...mas não colocam o GABARITO!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

  • D - é enumeração com valor sinônimo. Não alternantiva.

  • Há pessoas que, muito além de demonstrarem interesse pelo computador como uma preciosa ferramenta de trabalho, fazem dele um amigo íntimo, uma companhia indispensável 

     

    PESSOAS = OBJETO DIRETO, COMPLEMENTO DA FORMA VERBAL HÁ;   HÁ O QUÊ? PESSOAS 

    GABARITO A 

  • Matheus Vasconcelos, creio que a expressão pelo computador é complemento nominal de interesse , e não Objeto indireto de demonstrarem , pois este é VTD. É só fazer a pergunta : interesse pelo o quê? R : Pelo computador. Mas quando fizermos a pergunta ao verbo demonstrarem,  a resposta é  interesse. Aqui não houve preposição.

  •  a)pessoas é complemento da forma verbal Há.correto. verbo haver é impessoal, nao tendo sujeito mas exigindo objeto

     b)computador é o sujeito da forma interesse.- é complemento nominal de interesse

     c)dele é complemento nominal.- é objeto do verbo fazer

     d)os elementos um amigo íntimo e uma companhia indispensável constituem uma alternativa.- o conector é de adição, não de disjunção

     e)o sentido da expressão muito além de equivale aqui ao da expressão tanto mais quanto. - concordância verbo-nominal nao é mantida

  • o verbo HAVER com sentido de "existir" é impessoal e transitivo direto. Isso significa que o mesmo não admite sujeito, mas exige, como complemento verbal, um objeto direto (que será o termo que parece ser o sujeito). Logo, temos que:

     

                                                                                          "Há pessoas..."

                                                                                          VTD     OD

     

    Quem escolheu a busca não pode recusar a travessia - Guimarães Rosa

    ------------------- 

    Gabarito: A