SóProvas


ID
1393018
Banca
VUNESP
Órgão
PC-CE
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                                       A morte do narrador

    Recentemente recebi um e-mail de uma leitora perguntando a razão de eu ter, segundo ela, uma visão tão dura para com os idosos. O motivo da sua pergunta era eu ter dito, em uma de minhas colunas, que hoje em dia não existiam mais vovôs e vovós, porque estavam todos na academia querendo parecer com seus netos.


    Claro, minha leitora me entendeu mal. Mas o fato de ela ter me entendido mal, o que acontece com frequência quando se discute o tema da velhice, é comum, principalmente porque o próprio termo “velhice" já pede sinônimos politicamente corretos, como “terceira idade", “melhor idade", “maturidade", entre outros.


    Uma característica do politicamente correto é que, quando ele se manifesta num uso linguístico específico, é porque esse uso se refere a um conceito já considerado como algo ruim. A marca essencial do politicamente correto é a hipocrisia articulada como gesto falso, ideias bem comportadas. 


    Voltando à velhice. Minha leitora entendeu que eu dizia que idosos devem se afundar na doença, na solidão e no abandono, e não procurar ser felizes. Mas, quando eu dizia que eles estão fugindo da condição de avós, usava isso como metáfora da mentira (politicamente correta) quanto ao medo que temos de afundar na doença, antes de tudo psicológica, devido ao abandono e à solidão, típicos do mundo contemporâneo. Minha crítica era à nossa cultura, e não às vítimas dela. Ela cultua a juventude como padrão de vida e está intimamente associada ao medo do envelhecimento, da dor e da morte. Sua opção é pela “negação", traço de um dos sintomas neuróticos descritos por Freud. 


        Walter Benjamim, filósofo alemão do século XX, dizia que na modernidade o narrador da vida desapareceu. Isso quer dizer que as pessoas encarregadas, antigamente, de narrar a vida e propor sentido para ela perderam esse lugar. Hoje os mais velhos querem “aprender" com os mais jovens (aprender a amar, se relacionar, comprar, vestir, viajar, estar nas redes sociais). Esse fenômeno, além de cruel com o envelhecimento, é também desorganizador da própria juventude. Ouço cotidianamente, na sala de aula, os alunos demonstrarem seu desprezo por pais e mães que querem aprender a viver com eles. 


    Alguns elementos do mundo moderno não ajudam a combater essa desvalorização dos mais velhos. As ferramentas de informação, normalmente mais acessíveis aos jovens, aumentam a percepção negativa dos mais velhos diante do acúmulo de conhecimento posto a serviço dos consumidores, que questionam as “verdades constituídas do passado". A própria estrutura sobre a qual se funda a experiência moderna – ciência, técnica, superação de tradição – agrava a invisibilidade dos mais velhos. Em termos humanos, o passado (que “nada" serve ao mundo do progresso) tem um nome: idoso. Enfim, resta aos vovôs e vovós ir para a academia ou para as redes sociais. 


(Luiz Felipe Pondé, Somma, agosto 2014, p. 31. Adaptado)

Considere o trecho do último parágrafo:

Em termos humanos, o passado (que “nada” serve ao mundo do progresso) tem um nome: idoso.

Apresentando entre aspas a palavra “nada”, o autor

Alternativas
Comentários
  • Essa deu pra "matar" observando as palavras-chave "utilidade" e "nada serve". O autor usa a expressão "nada" para destacar a opinião da sociedade, a qual nega a utilidade do idoso para o mundo do progresso.

    Bons estudos! 

  • A sociedade pensa isso? 

  • Por que a D não pode ser? Ao falar da D.....reafirma a opinião de que o idoso não traz novasa contribuições, não seria o mesmo que Destacar a opinião de que o idoso já não tem mais utilidade como diz a A? fiquei sem entender.....

  • Na verdade,o objetivo do  autor, ao usar as "aspas," é  DESTACAR uma opinião e não reafirmá-la.


  • Thaise,

    Ao colocar o nada na frase o autor está de certa forma afirmando que o idoso não tem mais utilidade para a sociedade (isso seria o pensamento para os mais jovens que criticam seus pais por quererem aprender com eles);

    Ao colocar entre aspas ele está colocando em dúvida isso, como se estivesse negando esse pensamento dos mais jovens (opinião do autor);


    Ou seja, na minha opinião, ele se vale das aspas para criticar, negar o pensamento dos mais jovens...




  • O autor elabora um texto dissertativo argumentativo, obviamente para informar e propulsionar uma reflexão sobre o algo, contudo sem ou com pouca utilidade, visto que poucos conseguem extrair uma interpretação decente, dessa porcaria.

  • Eu acho que esta questão deveria ser anulada. 

    Ao meu ver, o autor refuta, põe em dúvida a ideia de que "o passado "nada"  serve ao mundo do progresso" (...)

    Esse "nada" infere um "será". Será que o passado nada serve ao mundo do progresso?

  • NA MINHA simples e humilde opnião acredito que a letra D também está certa. GAB. A

  • Realmente é uma questão complicada. Esse ""nada"" é uma ironia.


    Depois de alguns minutos refletindo, é possível chegar a conclusão que essa ironia ao mesmo tempo que retoma o pensamento que é criticado ao longo do texto ( de que o idoso não contribui para o progresso, ou seja lá como quiser definir a tese do texto), também discorda desse pensamento, pois o põe entre aspas.


    Imaginem a seguinte situação:

    Um amigo elogia muito um filme, diz que é muito bom, mas você, quando assiste, detesta. Quando esse mesmo amigo lhe perguntar o que achou, você vira e responde(cheio de ironia) : "Muuuuito bom".

    Ao mesmo tempo que você retoma a opinião desse seu amigo, que havia falado bem do filme, ironicamente discorda (nega) essa opinião dele.


    É bom encontrarmos com esse tipo de questão por aqui, vermos que, de repente aparece uma questão mais difícil que irá exigir mais do nosso tempo de prova, mas que com calma conseguimos resolver. Acabei chegando a uma conclusão referente a essa figura de linguagem.


    Bons estudos. Fiquem com Deus.

  • As aspas são empregadas simplesmente para DESTACAR.

    a) destaca a opinião de que o idoso já não tem utilidade, para negá-la.

    A finalidade da palavra nada é negar a utilidade do idoso.

    NADA foi utilizada com sentido negativo, com emprego das aspas para dar DESTAQUE, que é uma de suas funções na regra de pontuação da gramática: colocar palavra ou expressão em evidência.

  • Para mim a melhor resposta seria a letra D, mais pelo visto a questão foi mal elaborada e causou duvida na maioria e por isso deveria ter sido anulada...minha opinião, bons estudos.

  • Gabarito: A. 
    Acertei porque pensei o seguinte: as aspas foram usadas para negar que o passado não serve para o progresso, para a atualidade, visto que, serve. 
    Bem como idosos. O autor do texto não concorda com alguns padrões da atualidade porque as pessoas mais velhas, especialmente aquelas que não estão se modernizando, indo para academias e usando computadores conectados à internet são vistas de uma forma negativa por uma fatia da população, muitas vezes, mais jovem. Um dos trechos que me fez concluir isso foi este: "Alguns elementos do mundo moderno não ajudam a combater essa desvalorização dos mais velhos." 

    Assim, "apresentando entre aspas a palavra 'nada', o autor destaca a opinião de que o idoso já não tem utilidade, para negá-la."

    Boa sorte e bons estudos!


  • o "nada" é irônico...

     

    Quem já leu Pondé sabe que esse cara não escreve textos sem ironias rsrs

  • Pondé é foda! ;) E como o colega mencionou, o autor foi sarcástico ao dizer "nada". 

  • Fiquei em dúvida sobre a parte final da alternativa a "para negá-la". O Autor não está negando tal opinião, está a reafirmando com uma ironia, justamente por isso marquei alternativa D.

    O quem acham?

  • Questão de difícil interpretação. André, o ' para negá-la ' na resposta correta, refere-se a ' ... não serve ao mundo do progresso '.

  • Muitos já se posicionaram, mas mesmo lendo os comentários tive dificuldade para entender. então resolvi encrever.

    O "nada" é a opinião dos outros e não do autor, ou seja, o autor nega esse "nada", o autor nega a falta de utilidade dos idosos. 

  • pq não é a D?

  • Primeiramente esclarecer o uso das aspas:

     

    1 Para abrir e fechar citações. Exemplo: “Uma vida não questionada, não merece ser vivida.” Platão

    2 Quando exprimir ironia ou destacar uma palavra ou expressão usada fora do contexto habitual. Exemplo: Eles se comportaram “super” bem!

    3 Quando há palavras ou expressões populares, gírias, neologismos ou arcaísmos. Exemplos: Todos ficaram “abobados” com a notícia.

    4 Para marcar estrangeirismo (quando não há opção de itálico). Exemplo: Faça o “back up” para não correr o risco de perder os arquivos.

    5 Para delimitar o título de uma obra. Exemplo: “As 7 Dimensões da Comunicação Verbal” (Reinaldo Passadori)

     

    O autor simplesmente encerra o texto concordando com o título, ou seja, ele exprime uma ideia em tom de ironia de que o idoso ficou no passado, logo é inútil ao presente, bem como na construção do futuro. Desta forma ocorre a "morte do narrador". Contudo, continuo sem entender o erro da letra D, pois não vislumbrei em nenhum momento o DESTAQUE e sim a IRONIA, que por sua vez está presente tanto na letra A quanto na letra D. 

     

    GABARITO: A

     

    FONTE: https://exame.abril.com.br/carreira/quando-e-como-usar-aspas-em-um-texto/

  • acredito que o examinador com sua influência de filha da putagem requeriu por duas alternativas similiares, mas sua inclinaçao pela alternativa A foi também uma refutação de crueldade com idoso!!! manezaooo

  • Assertiva A]

    destaca a opinião de que o idoso já não tem utilidade, para negá-la.

  • Gastei tempo em ....pra resolver a questão.