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ID
1438429
Banca
AOCP
Órgão
TCE-PA
Ano
2012
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Bad boy com toque patético
O afã de afrontar conveniências parece condição necessária para que Lars von Trier consiga se expressar

Eduardo Escorel

Usar o prelúdio da abertura de Tristão e Isolda, de Wagner, como trilha musical é prova da audácia de Lars von Trier, roteirista e diretor de Melancolia. Recorrendo a tamanho lugar-comum para dar tom solene e impressão de grandiosidade ao filme, Trier corre o alto risco de ultrapassar o limite que separa ambição legítima de artifício pretensioso.

Trier consegue, porém, escapar pela tangente dessa armadilha que preparou para si mesmo, e evita a gratuidade formal, apesar de, além de recorrer a Wagner, dedicar os dez minutos iniciais de Melancolia a imagens alegóricas de instantes descontextualizados, reproduzidas em câmera lentíssima. Em retrospecto, o sentido dos planos da abertura fica claro, constituindo figura de linguagem conhecida - antecipação estilizada do desfecho da narrativa para criar expectativa pelo que virá.

Depois de dois anos de trabalho, horrorizado com o resultado, Trier declarou estar pronto para rejeitar Melancolia “como um órgão mal transplantado" por ter “chantili em cima de chantili" e ser “um filme de mulher!". Ele quisera “mergulhar de cabeça no abismo do romantismo alemão. Wagner ao quadrado". Isso estava claro para ele, mas ainda assim se perguntava: “Essa não será apenas outra maneira de expressar derrota? Derrota para um dos denominadores comuns mais baixos do cinema? O romantismo é maltratado de tudo quanto é forma no insuportavelmente entediante cinema industrial." Tinha esperança, contudo, que “em meio a todo o creme houvesse uma lasca de osso que pudesse afinal quebrar um dente frágil".

A primeira reação de Trier a Melancolia denota senso crítico incomum e pode tê-lo ajudado a fazer um filme mais a seu gosto - ácido, pessimista e opressor -, evitando um estilo meloso e ornamental. Mesmo frustrado, por não ter sido capaz de incluir um pouco da feiura que tanto aprecia em meio às belíssimas imagens, Trier não deixa de provocar inquietação no espectador. Nem o uso de câmera instável, estilo já banalizado pela linguagem corrente, nem o elenco de estrelas internacionais apagam sua marca autoral, fácil de reconhecer desde O Elemento do Crime, seu primeiro filme, realizado em 1984 - qualquer que seja o enredo, os personagens devem percorrer sua via dolorosa.

Inconformado com a própria maturidade, há algo de patético na resistência de Trier em deixar de ser, aos 55 anos, um bad boy. Nostálgico das transgressões da juventude, parece ter orgulho da coleção de notas zero em comportamento recebidas ao longo da sua premiada carreira. Propenso a ser sempre do contra e a causar sofrimento, foi irresponsável na entrevista coletiva do último Festival de Cannes. Sem medir as palavras, declarou em tom irônico entender e simpatizar com Hitler, que “fez algumas coisas erradas, sim, com certeza. […] Eu sou, é claro, muito a favor dos judeus, não, não muito porque Israel não presta". Arrematou dizendo, depois de um suspiro: “O.k., eu sou um nazista."

Declarado persona non grata pela direção do evento, no qual Melancolia foi exibido na mostra oficial, é possível que Trier tenha recebido a notícia como um prêmio por sua leviandade. O paradoxo é que seu compromisso de afrontar conveniências, traço que imprime a seus consiga se expressar.

Revista Piauí, Edição 59, 2011.

Assinale a alternativa INCORRETA quanto ao que se afirma sobre o texto.

Alternativas
Comentários
  • E, funciona como sujeito.

  • Gabarito é E, mesmo, mas não acredito que seja sujeito.

     

    Quem tem certeza, tem certeza de algo. Mas como a preposição não apaerce, acredito que seja OD.

  • Objeto indireto de QUE né não???

  • E - or. subordinada COMPLETIVA NOMINAL.. pois completa o sifgnificado do substantivo esperanca, que é abstrato

  • Dica de um estudante daqui do QC:

    Retire o termo grifado da frase, se continuar com sentido é adjunto, se não é complemento nominal.

    USE COM MODERAÇÃO!

  • Gostaria da confirmação se a frase destaca na alternativa "E" é mesmo Completiva Nominal?

    Acho que é devido também ao substantivo abstrato,se alguém puder confirmar eu agradeço.

  • Oração subordinada substantiva SUBJETIVA! 

  • A alternativa "E" realmente é o gabarito. faço uma pergunta: ESPERANÇA é verbo ? logico que nao, entao como que o termo grifado pode ser objeto direito, sendo que OD é complemento de verbo e não de nome? questão relativamente facil, só precisa de atenção. 

    fazendo a analise sintática, quem "TEM", tem alguma coisa, logo esperança é o complemento do verbo ter, o termo grifado pe complemento nominal do substantivo abstrato ESPERANÇA. muito comentaram que faltou a preposição "DE" antes do conjunção integrante "QUE", mas veja que a preposição é expletiva e por isso foi suprimida.

  • Uma galera cravando a questão com Sujeito, mas ela Completiva Nominal de ESPERANÇA.

    TINHA ESPERANÇA DISSO

    COMPLETA UM SUBSTANTIVO.

  • Dica de um estudante daqui do QC:

    Retire o termo grifado da frase, se continuar com sentido é adjunto, se não é complemento nominal.

    USE COM MODERAÇÃO!