SóProvas


ID
1459969
Banca
COVEST-COPSET
Órgão
UFPE
Ano
2014
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

TEXTO 1

                                    Nossa sabedoria gramatical oculta (que significa “saber português"?)

(1) “Saber gramática", ou mesmo “saber português", é geralmente considerado privilégio de poucos. Raras pessoas se atrevem a dizer que conhecem a língua. Tendemos a achar, em vez, que falamos de “qualquer jeito", sem regras definidas. Dois fatores contribuem para essa convicção tão generalizada: primeiro, o fato de que falamos com uma facilidade muito grande, de certo modo sem pensar (pelo menos, sem pensar na forma do que vamos dizer), e estamos acostumados a associar conhecimento a uma reflexão consciente, laboriosa e por vezes dolorosa. Segundo, o ensino escolar nos inculcou, durante longos anos, a ideia de que não conhecemos a nossa língua; repetidos fracassos em redações, exercícios e provas acentuaram esse complexo.

(2) Pretendo trazer aqui boas notícias. Vou sustentar que, apesar das crenças populares, sabemos, e muito bem, a nossa língua. Nosso conhecimento da língua é ao mesmo tempo altamente complexo, incrivelmente exato e extremamente seguro. Isso se aplica não apenas àqueles que sempre brilharam nas provas de português, mas também a praticamente qualquer pessoa que tenha o português como língua materna.

(3) Será preciso, primeiro, distinguir dois tipos de conhecimentos, aos quais se dão as designações de “implícito" e de “explícito". Vamos partir de um exemplo: eu sou capaz de andar com razoável eficiência, e em geral ando bastante. No entanto, não sou capaz de explicar os processos musculares e nervosos que ocorrem quando ponho em prática essa minha habilidade tão corriqueira. A fisiologia do andar é para mim um mistério.

(4) Pergunta-se, então: tenho ou não conhecimento da habilidade de andar? A resposta é que tenho esse conhecimento em um sentido muito importante - ou seja, tenho um conhecimento implícito da habilidade de andar. Já meu conhecimento explícito dessa habilidade é deficiente, pois sou incapaz de explicar o que acontece com meu corpo quando estou andando. O que nos interessa aqui é o seguinte: sou detentor de um conhecimento implícito altamente complexo e eficiente. O que eu não sei é explicitar o que faço para andar.

(5) Da mesma forma, qualquer falante do português possui um conhecimento implícito altamente elaborado da língua, muito embora não seja capaz de explicitar esse conhecimento. Esse conhecimento não é fruto de instrução recebida na escola, mas foi adquirido de maneira tão natural e espontânea quanto a nossa habilidade de andar. Mesmo pessoas que nunca estudaram gramática chegam a um conhecimento implícito perfeitamente adequado da língua. São como pessoas que não conhecem a anatomia e a fisiologia das pernas, mas que andam, dançam, nadam e pedalam sem problemas.

(6) Por exemplo: digamos que encontramos em algum texto a seguinte sequência de palavras: “Meus irmãos viram meu irmão na TV". Essa frase só é aceitável se se entender que o irmão que foi visto na TV não pertence ao grupo dos irmãos que o viram. Será inaceitável se se entender que o irmão que apareceu na TV faz parte do conjunto dos que assistiram ao programa.

(7) De onde tiramos esse conhecimento? Como se explica que tenhamos intuições tão definidas acerca de frases que nunca encontramos antes? Tudo provém do uso que fazemos a todo momento desse mecanismo maravilhosamente complexo que temos em nossas mentes, e que manejamos com admirável destreza. Esse mecanismo é o nosso conhecimento implícito da língua, objeto principal da investigação dos linguistas.

                                                            (Mário A. Perini. Sofrendo a gramática. São Paulo: Editora Ática, 1997, p. 11-16. Adaptado).



Analise a sintaxe do seguinte trecho: “Isso se aplica não apenas àqueles que sempre brilharam nas provas de português, mas também a praticamente qualquer pessoa que tenha o português como língua materna.” Do ponto de vista sintático, se pode dizer que, nesse trecho:

Alternativas
Comentários
  • Primeiramente, que texto fantástico!

     

    a) o acento indicativo da crase em ‘àqueles” é facultativo, uma vez que se trata de uma palavra do gênero masculino.

     

      Gente, ocorre o acento indicativo da crase nesse pronome sempre que a palavra que o antecede exige a preposição a, não importando o fato de ser masculino ou plural o substantivo a que se refere.

      Essa observação vale para todos os pronomes similares, de mesmo radical: aquela, aqueles, aquelas, aquilo, aqueloutro

     

    b) em: ‘a qualquer pessoa que tenha...”, o acento grave seria obrigatório para sinalizar a ocorrência da junção da preposição e do artigo.

     

    c) há um sentido claro de adição sinalizado pelos conectivos sublinhados.

     Não apenas e Mas também - dão a ideia de adição, acréscimo, como: e, nem, mas também, mas ainda, senão também, como também, bem como (CONJUNÇÃO COORDENATIVA ADITIVA).

     

    d) o advérbio ‘praticamente’ poderia ser deslocado para o início do período, sem alteração de sentido. (MUDA O SENTIDO).

     

    “Isso se aplica não apenas àqueles que sempre brilharam nas provas de português, mas também a praticamente qualquer pessoa que tenha o português como língua materna.”

    “Isso se aplica não apenas àqueles que sempre brilharam nas provas de português, praticamentemas também a qualquer pessoa que tenha o português como língua materna.”

     

    e) em: ‘qualquer pessoa’ o sentido pretendido pelo determinante é o da especificação. (o determinante acompanha o nome - http://mundoeducacao.bol.uol.com.br/gramatica/determinante.htm - uma ótima explicação).

  • Gab.: C


    há um sentido claro de adição sinalizado pelos conectivos sublinhados.


    (não apenas..........mas também)


  • A) O acento indicativo de crase só é opcional em três casos: 1-antes de pronome possessivo feminino. 2-antes do nome de mulheres. 3-depois da palavra até

    B) É proibido o acento grave antes das palavras: QUALQUER, TODOS, ALGUNS.

    C) Conjunção coordenativa ADITIVA: ''mas também''

    D) Sem chances!

    E) Qualquer pessoa - pode ser qualquer um - não está especificando absolutamente nada!!!

    APENAS UMA LEITURA ATENTA JÁ DESCARTAVA ALGUMAS OPÇÕES!

    GABARITO LETRA: C

  • Obrigada, Marcela Lira!

    Ctrl V:

    a) o acento indicativo da crase em ‘àqueles” é facultativo, uma vez que se trata de uma palavra do gênero masculino.

    ocorre o acento indicativo da crase nesse pronome sempre que a palavra que o antecede exige a preposição a, não importando o fato de ser masculino ou plural o substantivo a que se refere.

     

    E obrigada tbm, Rayssa Leão!

    A) O acento indicativo de crase só é opcional em três casos: 1-antes de pronome possessivo feminino. 2-antes do nome de mulheres. 3-depois da palavra até

    B) É proibido o acento grave antes das palavras:QUALQUER, TODOS, ALGUNS.

     

    ALÉM das letras:

    c) Gabarito.

    d) altera o sentido

    e) ao contrário: generaliza.