A Educação Psicomotora para nós está incluída num projeto mais amplo de educação que considera o conhecimento em relação à vida e que proporciona tanto a descoberta do mundo exterior, das coisas, do mundo objetivo, quanto a descoberta do mundo interno, o auto-conhecimento, a auto-organização; sendo ambos preciosos para o desenvolvimento. Dirige-se à personalidade, à sua expressão e organização através das atividades humanas de relação, realização e criação. Compreende aspectos motores (agir), emocionais (sentir) e intelectuais (pensar) numa dialética interna que se fundamenta nos níveis orgânicos, sociais e psicológicos do ser humano, em toda sua complexidade.
A Educação Psicomotora, conforme o exposto, é compatível com a teoria psicogenética de Wallon, na medida em que respeita a complexidade do ser humano, compreendendo-o em sua multidimensionalidade psíquica, corporal e social, propondo-se a superar as dicotomias corpo-mente, indivíduo-sociedade e razão-emoção, heranças da visão cartesiana de homem que perpassa diversas reflexões ocidentais. Segundo Galvão (1993, p. 33),
O projeto de sua psicogenética é o estudo da pessoa em sua totalidade, considerando suas relações com o meio (contextuada) e em seus diversos domínios (integrada). Contrário ao procedimento de se privilegiar um único aspecto no desenvolvimento da criança, Wallon o estudou em seus domínios afetivo, cognitivo e motor, procurando mostrar quais são, nos diferentes momentos do desenvolvimento, os vínculos entre cada um e suas implicações com o todo representado pela personalidade.
O enfoque psicogenético enfatiza a gênese das funções psicológicas, considerando o desenvolvimento como uma construção progressiva resultante da inter-relação indivíduo-meio e que apreende o desenvolvimento através de estágios. É característica de Wallon, definir o desenvolvimento da pessoa em campos funcionais. O movimento, a afetividade e a inteligência, constituem a tríade que o autor toma como referência constante para buscar compreender a construção do Eu, da personalidade e do homem enquanto ser biológico e social. Foi projeto de H. Wallon, estudar o homem em sua complexidade, numa perspectiva multidimensional e integrada. Resultou deste, uma concepção de desenvolvimento não homogêneo e não linear; visão compatível com a dialética que permeia seu pensamento. Os estágios, em sua sucessão, aparentam oposição, ou alternância funcional dos pólos afetivos-emocionais e cognitivos, ora com a predominância de um, ora de outro campo funcional da atividade infantil. Trata-se de uma espécie de lei que rege o desenvolvimento, da infância à adolescência.