SóProvas


ID
1535386
Banca
FCC
Órgão
SEE-MG
Ano
2012
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

Texto I - O rádio, esse mistério

      Modéstia à parte, também tenho lá a minha experiência em rádio. Quando era menino, em Belo Horizonte, fui locutor do programa "Gurilândia" da Rádio Guarani. Não me pagavam nada, a Rádio Guarani não passando de pretexto para namorar uma menina que morava nas imediações. Mas ainda assim, bem que eu deitava no ar a minha eloquência cheia de efes e erres, como era moda na época. Quase me iniciei nas transmissões esportivas, incitado pelo saudoso Babaró, que era o grande mestre de então, mas não deu pé: eu não conseguia guardar o nome dos jogadores.
      Em compensação, minha irmã Berenice me estimulando a inspiração, usei e abusei do direito de escrever besteiras, mandando crônicas sobre assuntos radiofônicos para a revista "Carioca". "O que pensam os rádio-ouvintes" era o nome do concurso permanente. Com o quê, tornei-me entendido em Orlando Silva, Carmen Miranda, César Ladeira, Sílvio Caldas, Bando da Lua, Assis Valente, Ary Barroso, e tudo quanto era cantor, locutor ou compositor de sucesso naquele tempo.
      Rádio é mesmo uma coisa misteriosa. Começou fazendo sucesso na sala de visitas, acabou na cozinha. Cedeu lugar à televisão, que já vai pelo mesmo caminho. Ninguém que se preze [...] tem coragem de se dizer ouvinte de rádio - a não ser de pilha, colado ao ouvido, quando apanhado na rua em dia de futebol. Mas a verdade é que tem quem ouça. Ainda me lembro que Francisco Alves morreu num fim de semana, sem que a notícia de sua morte apanhasse nenhum jornal antes do enterro; bastou ser divulgada pelo rádio, e foi aquela apoteose que se viu.
      Todo mundo afirma que jamais ouve rádio, e põe a culpa no vizinho, embora reconhecendo que deve ter uma grande penetração, "principalmente no interior". Os ouvintes, é claro, são sempre os outros.
      Mas hoje estou pensando no mistério que é o rádio, porque de repente me ocorreu ter vivido uma experiência para cujas consequências não encontro a menor explicação, e que foram as de não ter consequência nenhuma.
      Todo mundo sabe que a BBC de Londres é uma das mais poderosas e bem organizadas estações radiofônicas do mundo. [...] Ao longo de dois anos e meio, chovesse ou nevasse, fizesse frio ou gelasse, compareci semanalmente aos estúdios do austero edifício da Bush House em Aldwich, para gravar uma crônica, transmitida toda terça-feira, exatamente às 8 e 15 da noite, hora de Brasília, ou zero hora e quinze de quarta-feira, conforme o Big Ben. Eram em torno de 10 minutos de texto que eu recitava como Deus é servido, seguro de estar sendo ouvido por todo o Brasil, "principalmente no interior". E imaginava minha voz chegando a cada cidade, a cada fazenda, a cada lugarejo perdido na vastidão da pátria amada. [...]
      Pois bem - e aí está o mistério que me intriga: sei de fonte limpa que os programas da BBC têm no Brasil esses milhares de ouvintes. No entanto, nunca encontrei ninguém que me tivesse escutado: nem um comentário, uma palavra, uma carta, ainda que desfavorável - nada. A impressão é de que passei todo esse tempo falando literalmente para o éter, sem que nenhum ouvido humano me escutasse. [...]

                                                                                (Fernando Sabino. Deixa o Alfredo falar! Rio de Janeiro:
                                                                                                                             Record, 6.ed. 1976. pp. 36-37)


Texto II - A era do rádio e dos compositores

      Televisão, internet, telefone celular - esta é sem dúvida a era da comunicação. Estamos nela. É difícil para o homem do século XXI compreender o impacto do primeiro veículo de comunicação de massa do mundo, ainda na década de 1930: o rádio, que cumpriu um destacado papel social tanto na vida privada como na vida pública [...]
      O aparecimento do rádio mudou a relação dos indivíduos com a notícia, que passou a ser mais veloz e abrangente. Homens e mulheres, analfabetos e letrados, eram ouvintes das mesmas informações, compartilhando um repertório de questões a serem discutidas. O país ganhava mais uma fonte de integração nacional.


                                                   (André Diniz. Almanaque do samba. Rio de Janeiro: Zahar, 2006. p. 53)

Texto III

      A novidade da radiodifusão criou uma relação privilegiada entre artista e público. Pela primeira vez na história, a arte do canto tinha uma massa crescente de ouvintes. Na verdade, grande parte dos cantores apareceu para o público através dos programas de calouros que agitaram a vida artística do rádio de 1930 até meados da década de 1950. [...]
      Muitos foram os jovens que se apresentavam nos programas sonhando ser famosos cantores de rádio, cortejados e admirados pelos fãs. Para eles, geralmente advindos das camadas mais simples da sociedade, mal-remunerados, representantes de um país com grandes disparidades sociais, ser cantor de rádio representava, sobretudo, ascensão social. Poucos conseguiram um espaço no competitivo mercado. Pouquíssimos se tornaram ícones da voz. [...]
      A onipresença desses cantores na Era do Rádio ofuscou a participação de outros intérpretes do nosso cancioneiro. É como se as vozes de Francisco Alves, Mário Reis, Orlando Silva, Sílvio Caldas e Ciro Monteiro equacionassem a síncope, a bossa e a malandragem do samba urbano. Seus peculiares e diversificados estilos moldaram toda uma era.


                                              (André Diniz. Almanaque do samba. Rio de Janeiro: Zahar, 2006, pp. 51-52)

Com base em cada um dos segmentos abaixo, está correto o que consta em:

Alternativas
Comentários
  • Essa me caiu os butiás do bolso. De onde o examinador inferiu que o ouvintes eram analfabetos? Buguei.

  • A única questão da FCC sobre adjetivos e eles fazem uma cagada dessas... Ainda bem que pararam, pelo visto!

  • algue,m pode postar a resposta do gabarito, por gentileza

  • hahhaaaaaaaaaaaa quero ver um professor comentar essa!

  • Alguma alma caridosa sabe responder o porquê de não ser a letra D? Obrigada! :)

  • Compartilho seu questionamento, Larissa. :)

  • cagada é adjetivo?

  • Boa tarde pessoal, a letra D não está correta porque ela está certa rsrrs e o examinador errado.

    Brincadeira, mas é o seguinte: o que o examinador disse sobre a letra D está errado, por quê?

    d)O aparecimento do rádio mudou a relação dos indivíduos com a notícia, que passou a ser mais veloz e abrangente. (Texto II, 2o parágrafo).
    O pronome que dá origem a uma situação de ambiguidade, em razão de um equívoco na concordância do verbo que o segue.

    1º o que é ambiguidade? 1.Característica do que é ambíguo, do que apresenta vários sentidos 2. Falta de clareza.
    O pronome que não deixa a passagem com falta de clareza (ambiguidade) porque ele, neste caso, é pronome relativo que tem como função retomar um termo antecedente substituindo e nessa situação o pronoem que retoma a palavra notícia e passa a exercer papel de sujeito na sua frase.

    2º E como o que exerce papel de sujeito e retoma a palavra nototícia, nada mais justo que um verbo para concordar com seu sujeito e aqui o sujeito do verbo passou é o que, o qual é relativo e se refere a palavra notícia, por isso: a notícia  passou  a ser mais veloz e abrangente.

    Assim, o que o examinador disse sobre ambiguidade e equívoco de concordância não tem nada haver.

    Ei! Se eu errei manda uma mensagem por favor!

  • a D está errada porque POUCOS ali está como PRONOME INDEFINIDO, e não como ADJETIVO. Pra ser ADJETIVO, teria que ter algum outro termo pra ADJETIVAR. marquei a D por falta de atenção, mas também achei a B ridícula.

  • Estou procurando até hoje esses "analfabetos" do texto que só o examinador conseguiu enxergar.

  • Já estava com vontade de chorar, depois dessa questão a lágrima quase desceu

  • Ficou confusa pouco a questão.

  • Pior que as questões mais complicada os professores não comentam, essa hora que nos precisamos essa letra D deixa muito na dúvida por mais que o gabarito seja a B.

  • Morar no interior NÃO significa ser analfabeto. Em nenhum momento o texto traz circunstâncias que nos permitem inferir tal informação.

    Triste!

  • Para quem ficou em parafusos, eu baixei essa prova e vi que o erro parte do Q Concursos, faltou colocar no enunciado da questão:

    Atenção: Para responder às questões de números 7 a 10, considere os dois textos seguintes e também o Texto I

    (Sendo que os 2 textos seguintes seriam o II e o III e essa questão na prova original é a n° 9)

    O texto 2 menciona analfabetos e acredito eu que teríamos que partir para o sentido de que existiam mais ouvintes analfabetos do que letrados, partindo da situação histórica de nosso país. Essa foi a única justificativa que encontrei...

    "O aparecimento do rádio mudou a relação dos indivíduos com a notícia, que passou a ser mais veloz e abrangente. Homens e mulheres, analfabetos e letrados, eram ouvintes das mesmas informações, compartilhando um repertório de questões a serem discutidas".

    Link da prova: https://arquivos.qconcursos.com/prova/arquivo_prova/39848/fcc-2012-see-mg-professor-de-educacao-basica-anos-iniciais-do-ensino-fundamental-prova.pdf?_ga=2.200299630.1799275315.1591796469-1971534552.1583979366