SóProvas


ID
1545217
Banca
FCC
Órgão
MANAUSPREV
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

    O primeiro... problema que as árvores parecem propor-nos é o de nos conformarmos com a sua mudez. Desejaríamos que falassem, como falam os animais, como falamos nós mesmos. Entretanto, elas e as pedras reservam-se o privilégio do silêncio, num mundo em que todos os seres têm pressa de se desnudar. Fiéis a si mesmas, decididas a guardar um silêncio que não está à mercê dos botânicos, procuram as árvores ignorar tudo de uma composição social que talvez se lhes afigure monstruosamente indiscreta, fundada que está na linguagem articulada, no jogo de transmissão do mais íntimo pelo mais coletivo.
    Grave e solitário, o tronco vive num estado de impermeabilidade ao som, a que os humanos só atingem por alguns instantes e através da tragédia clássica. Não logramos comovê-lo, comunicar-lhe nossa intemperança. Então, incapazes de trazê-lo à nossa domesticidade, consideramo-lo um elemento da paisagem, e pintamo-lo. Ele pende, lápis ou óleo, de nossa parede, mas esse artifício não nos ilude, não incorpora a árvore à atmosfera de nossos cuidados. O fumo dos cigarros, subindo até o quadro, parece vagamente aborrecê-la, e certas árvores de Van Gogh, na sua crispação, têm algo de protesto.
    De resto, o homem vai renunciando a esse processo de captura da árvore através da arte. Uma revista de vanguarda reúne algumas dessas representações, desde uma tapeçaria persa do século IV, onde aparece a palmeira heráldica, até Chirico, o criador da árvore genealógica do sonho, e dá a tudo isso o título: Decadência da Árvore. Vemos através desse documentário que num Claude Lorrain da Pinacoteca de Munique, Paisagem com Caça, a árvore colossal domina todo o quadro, e a confusão de homens, cães e animal acuado constitui um incidente mínimo, decorativo. Já em Picasso a árvore se torna raríssima, e a aventura humana seduz mais o pintor do que o fundo natural em que ela se desenvolve.
    O que será talvez um traço da arte moderna, assinalado por Apollinaire, ao escrever: "Os pintores, se ainda observam a natureza, já não a imitam, evitando cuidadosamente a reprodução de cenas naturais observadas ou reconstituídas pelo estudo... Se o fim da pintura continua a ser, como sempre foi, o prazer dos olhos, hoje pedimos ao amador que procure tirar dela um prazer diferente do proporcionado pelo espetáculo das coisas naturais". Renunciamos assim às árvores, ou nos permitimos fabricá-las à feição dos nossos sonhos, que elas, polidamente, se permitem ignorar.


                                                (Adaptado de: ANDRADE, Carlos Drummond de. "A árvore e o homem", em
                                                                           Passeios na Ilha, Rio de Janeiro: José Olympio, 1975, p. 7-8)

Atente para as frases abaixo sobre a pontuação do texto.

I. No segmento ...genealógica do sonho, e dá a tudo isso o título... (3o parágrafo), a vírgula pode ser corretamente suprimida, uma vez que é seguida da conjunção aditiva "e".

II. No segmento ...nossa intemperança. Então, incapazes de trazê-lo... (2o parágrafo), o ponto final pode ser corretamente substituído por ponto e vírgula, feita a alteração entre maiúscula e minúscula.

III. No segmento ...seduz mais o pintor do que o fundo natural... (3o parágrafo), o acréscimo de uma vírgula imediatamente após "pintor" acarretaria a separação equivocada do verbo e seu complemento.

Está correto o que se afirma APENAS em

Alternativas
Comentários
  • Sobre a alternativa III

    seduz mais o pintor do que o fundo natural....

    Não se trata de separação do verbo e seu complemento,  e sim a separação de uma oração comparativa


  • I- O e tem vírgula, quando se trata de sujeitos diferentes

    O e não tem virgula quando se trata de sujeitos iguais

    Na alternativa, os sujeitos são diferentes - vírgula não pode ser suprimida


    II- ; para conclusão e explicação


    III- Não se separa a oração comparativa, além da vírgula vir depois do nome e não do verbo.

  • III. Caso as orações subordinadas adverbiais venham antepostas à principal, a vírgula é indispensável. Caso uma oração subordinada adverbial se intercalar à oração principal, a vírgula é também obrigatória. Em uma oração subordinada adverbial posposta à oração principal, como no caso, a vírgula é facultativa (dispensável). A segunda oração "do que o fundo natural..." é subordinada adverbial comparativa, razão pela qual pode ou não haver vírgula antes, ou seja, após o termo "pintor". Importante observar que nas orações subordinadas comparativas pode haver supressão do verbo, porque ele é idêntico ao da oração principal. Caso o verbo não fosse suprimido teríamos a seguinte forma:

    (1 oração) a aventura humana seduz mais o pintor (,)

    (2 oração) do que seduz o fundo natural em que ela se desenvolve

     A assertiva está errada, pois o acréscimo de uma vírgula imediatamente após "pintor" não separaria o verbo de seu complemento, mas sim uma oração principal de uma oração subordinada.

  • I. A vírgula antes da conjunção "e" não pode ser suprimida pois separa um aposto explicativo: (,)o criador da árvore genealógica do sonho(,) ,que é aposto de "Chirico".

    II. O ponto e vírgula é proibido em período simples e período composto por subordinação. Esse sinal somente é usado entre orações coordenadas.  A colocação do ponto e vírgula antes do "então" separaria duas orações coordenadas entre si e , portanto, estaria correta.


  • Q492602 professor comentou.

  • VALEU MASCARENHAS. REALMENTE A FCC SE SUPEROU NESSA QUESTAO. CAI QUE NEM CRIANCA NA RUA RSRS

  • Minha dúvida é a seguinte, fazendo a substituição que a alternativa manda, ficaria assim: "Não logramos comovê-lo, comunicar-lhe nossa intemperança; então, incapazes de trazê-lo à nossa domesticidade," A vírgula imadiatamente após 'então' ainda continuaria correta? Que eu saiba, a vírgula é facultativa quando as conjunções conclusivas e adversativas (exceto 'mas') iniciarem período, suprimindo o ponto, a conjunção não estaria mais iniciando o período, a vírgula continuaria facultativa ? 

  • O erro do ítem I está no fato de que o "e" não se trata de uma conjução aditiva. Para responder a questão é preciso interpretar o texto e observar que o "e" significa MAS (conjunção adversativa). Ou seja, o uso da vírgula é indispensável.

    obs: Q492602 comentários do Professor.