SóProvas


ID
1556815
Banca
COSEAC
Órgão
UFF
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

                                            Pechada


1     O apelido foi instantâneo. No primeiro dia de aula, o aluno novo já estava sendo chamado de “Gaúcho”. Porque era gaúcho. Recém-chegado do Rio Grande do Sul, com um sotaque carregado.

2 — Aí, Gaúcho!

3 — Fala, Gaúcho!

4     Perguntaram para a professora por que o Gaúcho falava diferente. A professora explicou que cada região tinha seu idioma, mas que as diferenças não eram tão grandes assim. Afinal, todos falavam português. Variava a pronúncia, mas a língua era uma só. E os alunos não achavam formidável que num país do tamanho do Brasil todos falassem a mesma língua, só com pequenas variações?

5 — Mas o Gaúcho fala “tu”! — disse o gordo Jorge, que era quem mais implicava com o novato.

6 — E fala certo — disse a professora. — Pode-se dizer “tu” e pode-se dizer “você”. Os dois estão certos.   Os dois são português.

7     O gordo Jorge fez cara de quem não se entregara.

8     Um dia o Gaúcho chegou tarde na aula e explicou para a professora o que acontecera.

9 — O pai atravessou a sinaleira e pechou.

10 — O quê?

11 — O pai. Atravessou a sinaleira e pechou.

12     A professora sorriu. Depois achou que não era caso para sorrir. Afinal, o pai do menino atravessara uma sinaleira e pechara. Podia estar, naquele momento, em algum hospital. Gravemente pechado. Com pedaços de sinaleira sendo retirados do seu corpo.

13 — O que foi que ele disse, tia? — quis saber o gordo Jorge.

14 — Que o pai dele atravessou uma sinaleira e pechou.

15 — E o que é isso?

16 — Gaúcho... Quer dizer, Rodrigo: explique para a classe o que aconteceu.

17 — Nós vinha...

18 — Nós vínhamos.

19 — Nós vínhamos de auto, o pai não viu a sinaleira fechada, passou no vermelho e deu uma pechada noutro auto.

20     A professora varreu a classe com seu sorriso. Estava claro o que acontecera? Ao mesmo tempo, procurava uma tradução para o relato do gaúcho. Não podia admitir que não o entendera. Não com o gordo Jorge rindo daquele jeito.

21     “Sinaleira”, obviamente, era sinal, semáforo. “Auto” era automóvel, carro. Mas “pechar” o que era? Bater, claro. Mas de onde viera aquela estranha palavra? Só muitos dias depois a professora descobriu que “pechar” vinha do espanhol e queria dizer bater com o peito, e até lá teve que se esforçar para convencer o gordo Jorge de que era mesmo brasileiro o que falava o novato. Que já ganhara outro apelido: Pechada.

22 — Aí, Pechada!

23 — Fala, Pechada!


                                                            (VERÍSSIMO, Luiz Fernando. In www.revistaescola.abril.com.br)

“Pode-se dizer ‘tu’ e pode-se dizer ‘você’. Os dois estão certos. Os dois são português.” (6º §)


Com a afirmação acima, a professora ensinou que em português:

Alternativas
Comentários
  • Letra

    a)

    tanto o pronome “tu” quanto o pronome “você” podem ser usados para tratar a pessoa com quem se fala.

    A dúvida maior esta entre A) e  E) 

    Explicação VOCÊ faz concordância como se fosse de 3ª pessoa e que na prática funciona como se fosse de 2º pessoa (com quem se fala) 

  • 5 — Mas o Gaúcho fala “tu”! — disse o gordo Jorge, que era quem mais implicava com o novato.

    6 — E fala certo — disse a professora. — Pode-se dizer “tu” e pode-se dizer “você”. Os dois estão certos.   Os dois são português. "

  • Embora possa substituir o pronome reto "tu", por "você", este não é pronome. Logo, a alternativa E esta errada!
  • Pronomes Pessoais

    São aqueles que substituem os substantivos, indicando diretamente as pessoas do discurso.

    Quem fala ou escreve assume os pronomes eu ou nós, usa os pronomes tu, vós, vocêou vocês para designar a quem se dirige e ele, ela, eles ou elas para fazer referência à pessoa ou às pessoas de quem fala.

    Os pronomes pessoais variam de acordo com as funções que exercem nas orações, podendo ser do caso reto ou do caso oblíquo.

    Pronome Reto

    Pronome pessoal do caso reto é aquele que, na sentença, exerce a função de sujeito ou predicativo do sujeito. Por exemplo:

    Nós lhe ofertamos flores.

    Os pronomes retos apresentam flexão de número, gênero (apenas na 3ª pessoa) e pessoa, sendo essa última a principal flexão, uma vez que marca a pessoa do discurso. Dessa forma, o quadro dos pronomes retos é assim configurado:

    - 1ª pessoa do singular: eu

    - 2ª pessoa do singular: tu

    - 3ª pessoa do singular: ele, ela

    - 1ª pessoa do plural: nós

    - 2ª pessoa do plural: vós

    - 3ª pessoa do plural: eles, elas

    Atenção: esses pronomes não costumam ser usados como complementos verbais na língua-padrão. Frases como "Vi ele na rua" , "Encontrei ela na praça", "Trouxeram eu até aqui", comuns na língua oral cotidiana, devem ser evitadas na língua formal escrita ou falada. Na língua formal, devem ser usados os pronomes oblíquos correspondentes: "Vi-o na rua", "Encontrei-a na praça", "Trouxeram-me até aqui".

    Obs.: frequentemente observamos a omissão do pronome reto em Língua Portuguesa. Isso se dá porque as próprias formas verbais marcam, através de suas desinências, as pessoas do verbo indicadas pelo pronome reto. Por exemplo:

    Fizemos boa viagem. (Nós)

    Pronome Oblíquo

    Pronome pessoal do caso oblíquo é aquele que, na sentença, exerce a função de complemento verbal (objeto direto ou  indireto) ou complemento nominal. Por exemplo:

    Ofertaram-nos flores. (objeto indireto)

    Obs.: em verdade, o pronome oblíquo é uma forma variante do pronome pessoal do caso reto. Essa variação indica a função diversa que eles desempenham na oração: pronome reto marca o sujeito da oração; pronome oblíquo marca o complemento da oração.

    Os pronomes oblíquos sofrem variação de acordo com a acentuação tônica que possuem, podendo ser átonos ou tônicos.

  • Tu representa a segunda pessoa do singular, não a terceira. Outro erro da letra E.

  • Gabarito: A