SóProvas


ID
1718701
Banca
Marinha
Órgão
ESCOLA NAVAL
Ano
2015
Provas
Disciplina
Português
Assuntos

TEXTO II
O reinado do celular

De alto a baixo da pirâmide social, quase todas as pessoas que eu conheço possuem celular. É realmente um grande quebra-galho. Quando estamos na rua e precisamos dar um recado, é só sacar o aparelhinho da bolsa e resolver a questão, caso não dê pra esperar chegar em casa. Pra isso — e só pra isso — serve o telefone móvel, na minha inocente opinião.
Ao contrário da maioria das mulheres, nunca fui fanática por telefone, incluindo o fixo. Uso com muito comedimento para resolver assuntos de trabalho, combinar encontros, cumprimentar alguém, essas coisas relativamente rápidas. Fazer visita por telefone é algo para o qual não tenho a menor paciência. Por celular, muito menos. Considero-o um excelente resolvedor de pendências e nada mais .
Logo, você pode imaginar meu espanto ao constatar como essa engenhoca se transformou no símbolo da neurose urbana. Outro dia fui assistir a um show. Minutos antes de começar, o lobby do teatro estava repleto de pessoas falando ao celular. "Vou ter que desligar, o espetáculo vai começar agora". Era como se todos estivessem se despedindo antes de embarcar para a lua. Ao término do show, as luzes do teatro mal tinham acendido quando todos voltaram a ligar seus celulares e instantaneamente se puseram a discar Para quem? Para quê? Para contar sobre o show para os amigos, parasaber o saldo no banco, para o tele-horóscopo?? Nunca vi tamanha urgência em se comunicar à distância. Conversar entre si, com o sujeito ao lado, quase ninguém conversava,
O celular deixou de ser uma necessidade para virar uma ansiedade. E toda ânsia nos mantém reféns, Quando vejo alguém checando suas mensagens a todo minuto e fazendo ligações triviais em público, não imagino estar diante de uma pessoa ocupada e poderosa, e sim de uma pessoa rendida: alguém que não possui mais controle sobre seu tempo, alguém que não consegue mais ficar em silêncio e em privacidade. E deixar celular em cima de mesa de restaurante, só perdoo se o cara estiver com a mãe no leito de morte e for ligeiramente surdo.
Isso tudo me ocorreu enquanto lia o livro infantil menino que queria ser celular, de Marcelo Pires, com ilustrações de Roberto Lautert, Conta a história de um garotinho que não suporta mais a falta de comunicação com o pai e a mãe, já que ambos não conseguem desligar o celular nem por um instante, nem no fim de semana - levam o celular até para o banheiro. O menino não tem vez. Aí a ideia: se ele fosse um celular, receberia muito mais atenção.
Não é história da carochinha, isso rola pra valer. Adultos e adolescentes estão virando dependentes de um aparelho telefônico e desenvolvendo uma nova fobia: medo de ser esquecido. E dá-lhe falar a toda hora, por qualquer motivo, numa esquizofrenia considerada, ora, ora, moderna.
Os celulares estão cada dia menores e mais fininhos. Mas são eles que estão botando muita gente na palma da mão.

(MEDEIROS, Martha. O reinado do celular. In:____ . Montanha Russa; Coisas da vida; Feliz por nada. Porto Alegre, RS: L&PM, 2013. p. 369-370.).

Em que opção o termo sublinhado exerce a mesma função que o pronome destacado em "De alto a baixo da pirâmide social, quase todas as pessoas que eu conheço possuem celular." (1°§)?

Alternativas
Comentários
  • Realmente fiquei em dúvida sobre a sintaxe do pronome que na frase, se é um objeto direto: "eu conheço pessoas"; ou sujeito "pessoas possuem celular", mas, analisando as alternativas, pude descobrir que é um objeto direto - mas será melhor se um professor comentar essa questão.


    a) objeto direto do verbo "considero"

    b) sujeito de "pode"

    c) objeto indireto de "ocorreu" -> ocorreu a mim

    d) predicativo do sujeito "ele" -> "fosse" é um verbo de ligação

    e) sujeito de "estão" -> o termo "são (...) que" é expletivo e não tem função sintática

  • Bom, pelo o que eu estudei acho que a classificação correta é a seguinte:

    Quando o vocábulo "que" assume função de pronome relativo, ele retoma o termo antecedente.

    No período "De alto a baixo da pirâmide social, quase todas as pessoas que eu conheço possuem celular." devemos fazer a seguinte análise:

    1º - "De alto a baixo da pirâmide social, quase todas as pessoas /que eu conheço/ possuem celular." - isolamos a oração com o pronome relativo de forma que a oração de fora tenha sentido completo ( De alto a baixo da pirâmide social, quase todas as pessoas possuem celular ).

    2º - Devemos identificar o termo antecedente que no caso é "as pessoas" . Agora devemos substituir o pronome relativo no período isolado pelo termo antecedente: "As pessoas eu conheço". Fez sentido? Está invertida, mas isso não muda a análise, só deixa um pouco mais difícil. Mudando a ordem dos termos, para facilitar, temos: "Eu conheço as pessoas." Sujeito: eu / VTD: conheço / OD: as pessoas.

    Assim, a alternativa A possui a classificação equivalente como já foi exposto pela Jaina Barreto.